MOVIEPLAY - SP 20.035 - 1972
Maria, Vida Fria – Canção de Amor (Obrigado)
O VII Festival Internacional do Rio de Janeiro teve um outro representante português: Paulo de Carvalho nomeado, como convidado, pelo "Diário de Lisboa".
Paulo de Carvalho apresentou-se com "Maria Vida Fria", música de José Osório para um poema de José Niza.
Na hora da partida para o Rio, Paulo de Carvalho perguntado, pela reportagem de "A Capital", sobre as suas possibilidades de uma classificação, respondeu:
As minhas possibilidades são tão minhas conhecidas como de qualquer outra pessoa.. Não é necessário dizer mais…
Muita gente gostará de saber por que vou eu ao Rio. Pois bem: vou para não morrer estúpido numa terra onde poucas vezes tenho oportunidade de cantar.
Por imposição da censura brasileira, a letra de "Maria, Vida Fria" teve de ser alterada.
Paulo de Carvalho actuou na segunda noite do festival e "Maria, Vida Fria" não se classificou para a final.
José Ribamar, correspondente do "Notícias da Amadora" no Rio de Janeiro, considerou muito boa a actuação de Paulo de Carvalho e realçou a excelência do arranjo musical de Thilo Krasmann.
Colaboração de Gin-Tonic
10 comentários:
É complicado chegar aqui e cantar em Português de Portugal...
É preciso criar habituação! Nas novelas brasileiras também não percebemos tudo mas acaba por se perceber pelo contexto. E se não se percebe à primeira pergunta-se! Afinal a lingua é (ainda) a mesma.
Nota: no programa do António Macedo e do António Cartaxo que deu a seguir ao falecimento de José Niza deu esta entre outras canções relacionados com Niza. Não sabia mas esta canção tinha uma outra letra que teve de ser alterada para o "Maria Vida Fria". Penso que não se trata de uma mera alteração de algumas palavras.
Infelizmente, não é apenas uma questão de habituação, caro adt.
Na generalidade, os brasileiros não gostam do nosso sotaque. Consideram-no até cómico...
É preciso entender que a cultura local é muito forte - especialmente, a musical.
Pedro,
Essa de considerarem cómico o nosso sotaque também é... cómica!
E essa de não gostarem dele também digamos que estás a generalizar um pouco, não? Só se estiveres a considerar o Roberto leal um genuíno representante da cultura e língua portuguesas!!!???!!
Na realidade os brasileiros ( em especial os cariocas) não fazem o mínimo esforço para entender o nosso sotaque!
É bom recordar que até aos anos 50 e inicio de 60 o português que se falava no Brasil urbano era muito semelhante ao de Portugal!
Em Portugal há variadíssimos sotaques ( Alentejo, Lisboa/Coimbra, Algarve, Porto, Viseu, Minho, Madeira, Açores).
Mas o brasileiro médio é bastante inculto e sofre dum certo isolacionismo cultural no qual acha que o mundo começa e acaba no Brasil - nomeadamente o mundo lusófono. Depois carrega um estigma histórico contra Portugal pelas razões mais óbvias.
Para juntar a toda esta relativização cultural-histórica-linguistica o português foi visto durante muitos anos ( nomeadamente a partir dos anos 60) como o portuga parolo ( o Sr. Manoel e o Sr. Joaquim)e Portugal foi considerado por muitos anos como um exemplo retrógrado, uma pedra no sapato do Brasil e o inverso da modernidade duns EUA que o brasileiro de todas as classes sociais(super piroso e burguês) idolatra!
Creio que nos últimos anos Portugal e os Portugueses já deixaram de ser vistos dessa maneira!
Quando dizes que a cultura local é muito forte deves-te cingir à musica e ficar por aí porque há um enorme desconhecimento da cultura portuguesa e Europeia que é disfarçado com inúmeros clichés de arrogância e novo-riquismo dos brasileiros dos quais as novelas são o reflexo máximo!
E isto escreve um português que adora o Brasil e os brasileiros ( as brasileiras também...)!
Amigo Luís,
01. Quando digo que a cultura local é muito forte, não me refiro apenas à música.
Falo de como a miscigenação confere ao Brasil uma expressão única. A espiritualidade, o misticismo, África, Amazônia, etc, etc, etc... e as artes, claro... música, dança, teatro, pintura...
... e, por mais que custe aos portugueses a engolir, falo do progresso que os brasileiros foram capazes de imprimir na nossa Língua... não se trata apenas de sotaques, mas de formas de falar e de escrever... Alô, Chico! Alô, Vinicius! Alô, Caetano! Alô, Drummond! Alô, Clarisse! Alô, Cartola!
02. Essa questão dos brasileiros - e não apenas os cariocas - acharem cómico o Português de Portugal, nada tem de cómico. No sentido em que esse facto devia ser um alerta para o nosso provincianismo, e crónico atraso em matéria de mentalidade colectiva.
Não são os lisboetas que se riem do sotaque nortenho, de "biseu", ou das "algarviadas" a sul do país?
Aliás, o "sotaque oficial" de Portugal - na rádio, TV, etc - é o de Lisboa... um sotaque que está carregado de tantas incongruências quanto o sotaque carioca! Somos nós, lisboetas, que dizemos "pescina" e "gostava de ir ao cinema"...
O único estigma que existe dos brasileiros em relação aos portugueses está alojado nas cabeças tacanhas da malta do V Império...
... e os brasileiros não têm culpa nenhuma de décadas e décadas de falta (ou mesmo inexistência) de promoção da cultura portuguesa deste lado do Atlântico.
(mesmo assim, foram eles os grandes promotores da obra de Fernando Pessoa, por exemplo)
O resultado da história recente dos dois países está à vista! Quem melhor trabalha, mais colhe no futuro. E, sinceramente, apesar da gigante desigualdade social, das favelas, de uma indigente educação pública, etc, etc, eles estão muito, mas muito, à nossa frente!
03. Essa do brasileiro médio ser inculto, piroso, e burguês, é de bradar aos céus!
E o português médio, o que é? Culto, de extremo bom gosto, e nada aburguesado?
Eu sei... Portugal é o país onde num minuto dizemos que somos os piores do mundo, e, no segundo seguinte, os outros é que são "bifes", "brasucas", ignorantes, "franciús", e nós somos brilhantes e bonitos!
Para o português médio, de Gaia a Massamá, até os americanos são uns broncos... a gente é que a sabe toda!
Na minha opinião, é neste insularismo crónico que reside o nosso problema... no fundo, somos pequeninos, mesquinhos, invejosos, e racistas... pequenos comerciantes... ou melhor, pequenos, modestos, mas honestos!
04.
"há um enorme desconhecimento da cultura portuguesa e Europeia que é disfarçado com inúmeros clichés de arrogância e novo-riquismo dos brasileiros dos quais as novelas são o reflexo máximo!"
E o português médio, tem conhecimento profundo da cultura brasileira? Ou fica-se pelas novelas e pela Ivete?
Vejo, diariamente, portugueses a chegar ao Rio... não se misturam... uma pena... arrogância e (falso) novo-riquismo é o que não lhes falta...
05.
"Só se estiveres a considerar o Roberto leal um genuíno representante da cultura e língua portuguesas!!!???!!"
Para as gerações antigas de portugueses que vieram à procura de uma vida melhor no Brasil, Roberto Leal é um genuíno representante da cultura e língua portuguesas. E é respeitado por todos os artistas brasileiros, sem excepção.
A menos que esses portugueses, para os portugueses de Portugal, sejam considerados de segunda...
Uma pergunta: e o Chico Buarque, é um genuíno representante da cultura e língua portuguesas?...
06. Terminando... depois de 6 anos a viver no Rio, tenho percebido por que razão se costuma dizer que os portugueses trabalham mais quando vão para o estrangeiro...
... a verdade é que muitos desses povos estrangeiros - incluindo a generalidade dos brasileiros - trabalham muito mais, e os portugueses têm de acompanhar a pedalada para vencer...
Quanto ao resto, aos comentários que não contestei, estou de acordo...
Aquele abraço!
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