quinta-feira, 3 de novembro de 2011

LUIZ REGO, PRISONNIER POLITIQUE


DISQUES VOGUE - V. 45-1730 - edição francesa (1970)

Amor Novo (Maria Flávia/Luiz Rego) - Quadras Soltas (Das Quadras Ao Gosto Popular) (Fernando Pessoa/Luiz Rego)

Adquirido pelo irmão caçula na Sinfonia, em Lisboa, em Setembro de 1970.

Um dos grandes regozijos do disco, além do conteúdo, era o facto de ser estereo, uma novidade à época.

Luís do Nascimento Rego nasceu em Lisboa no dia 30 de Março de 1944, no seio de uma família anti-salazarista.

Numa das suas fotografias de juventude, com dois amigos, todos de guitarra em punho, desenhou uns óculos na sua figura: queria parecer-me com o solista dos Shadows.

Em 1962, com 18 anos, emigrou legalmente para Paris, mas já com o intuito de não regressar.

Na capital francesa, Luís Rego trabalhou em várias ocupações e foi num restaurante, em 1965, que conheceu Jean Sarrus (baixo), Gérard Rinaldi (voz), Donald Rieubon (bateria), Gérard Filipelli (solo) e Donald Rieubon (bateria), mais tarde substituído por Jean-Guy Fechner.

Decidem então formar os Problèmes, tidos como o primeiro grupo autêntico de rhythm and blues e 100% francês (esqueceram-se da nacionalidade de Luís Rego).

O grupo francês estreou-se num clube da Normandia, assinou contrato com a Vogue, foi banda de acompanhamento de Antoine, actuou na televisão e fez a primeira parte dos dois concertos dos Rolling Stones no dia 30 de Março de 1966 na Salle Vallier (Marselha).

Do alinhamento dos Problèmes fizeram parte versões de canções dos próprios Stones. Mick Jagger, que foi atingido com uma cadeira arremessada pela assistência, não se importou com isso, disse depois Jean Sarrus que revelou terem ficado amigos.

Em Portugal, os Problèmes foram lançados logo em 1965 pela “23ª Hora”, emblemático programa de João Martins na Rádio Renascença.

No Carnaval de 1966, os Problèmes foram os convidados de honra do sensacional Carnaval luso-brasileiro que Vasco Morgado apresentou no Teatro Monumental, em Lisboa, com Simone de Oliveira, António Calvário, António Mourão, Conjunto Académico João Paulo, Claves, Beatnik’s, Bábulas e outros.

Nesta altura, Luís Rego foi preso pela PIDE.

Fomos de camioneta para Lisboa, mas logo na fronteira, em Vilar Formoso, a PIDE prendeu-me e mandou-me por mês e meio para Caxias. Os meus colegas seguiram para Lisboa para o contrato no Monumental, contou-me Luís Rego.

Luís Rego foi acusado de pertencer ao Partido Comunista Português (PCP).

Como não havia matéria de acusação, fui solto ao fim de mês e meio. Foi dramático. Só voltei a Lisboa em 1974, depois da Revolução dos Cravos.

Em solidariedade para com o camarada português, Gérard Rinaldi e Gérard Filipelli compuseram “Ballade À Luís Rego, Prisonnier Politique” que os Problèmes gravaram e editaram em 1966 (Disques Vogue EPL 8437).

Logo a seguir, em 1967, os Problèmes transformaram-se em Charlots e enveredam por uma carreira de pastiche à antiga banda e a Antoine, mas também no cinema e na arte da comédia (por exemplo, “Os Malucos Vão À Guerra”, 1974, e “Os Malucos Em Hong-Kong”, 1975).

Em 1970, Luís Rego grava e edita um single a solo (Disques Vogue V. 45-1730), em português, com “Amor Novo”, letra de Maria Flávia e música do próprio Luís Rego, e “Quadras Soltas”, versos de Fernando Pessoa com música também de Luís Rego.

Luís Rego foi assim dos primeiros músicos portugueses a musicar a poesia de Fernando Pessoa. O primeiro foi Pedro Osório em 1968, "Do Vale À Montanha", com o Trio Barroco.

Justamente considerada uma das pérolas da música pop portuguesa, “Amor Novo” é no entanto uma canção infeliz e praticamente desconhecida em Portugal.

Uma amiga minha, pintora, Maria Flávia, disse-me que gostava muito de escrever uma canção. Encorajei-a, escreveu a canção e eu musiquei-a e gravei-a com músicos de estúdio, profissionais. Foi só isso. Não queria uma carreira a solo na música.

Como para o disco tinha que haver uma segunda canção e como gosto muito de Fernando Pessoa, musiquei-o. Não, não tive a noção de ter sido dos primeiros.

Em 1971, Luís Rego abandona os Charlots para uma carreira de sucesso no cinema, em Paris, que ainda hoje perdura (“Copacabana”, de Marc Fitoussi, em 2010).

Em 1974, edita um álbum a solo, “Luís Rego”, (Vogue, LDY 28012) com 12 canções em francês de que é co-autor.

Apeteceu-me fazer este disco. Foi só isso.

Luís Rego aparece por duas vezes no famoso álbum de fotografias da “Salut Les Copains”, “Les Idoles Des Anées 60” (Filipacchi-Edition Nº 1, 1980), como Problème e como Charlot.

Luís Pinheiro de Almeida

11 comentários:

Abel Rosa disse...

Muito francamente, talvez um dos grandes singles/canção da Pop Portuguesa, muito bom gosto nos arranjos com laivos de neo psicadelismo nas guitarras. Gosto Muito.

josé disse...

Durante muitos anos este disco foi mítico para mim, porque só me lembrava da melodia e parte da letra que ouvira no rádio de então. Provavelmente, antes de 74.

Um dia, já recentemente, descobri este single. Fiquei deslumbrado porque o som era mesmo aquele que recordava em fragmentos.

É de facto um dos melhores temas singles da pop portuguesa cantada por um emigrante.

gps disse...

No Youtube

http://www.youtube.com/watch?v=jo0PCt7E2pI

Uma provaçãozinha :)

"é um dos melhores temas singles da pop portuguesa"

ou

"é um dos melhores temas singles da pop portuguesa" cantados por emigrantes

JC disse...

Vamos lá ver (fui ouvir novamente pois não o ouvia há uns bons... quase 40 anos): a canção é interessante, o arranjo musical tb (ambos acima da média portuguesa da altura e bem acima da do Yé-Yé português da 1ª metade dos 60s), mas a interpretação é bem fraquinha.

Anónimo disse...

Errata: provocaçãozinha :)

ié-ié disse...

Eu gosto sobretudo, sempre gostei, de "Amor Novo". A outra nem por isso...

LT

JC disse...

Estou a referir-me a essa, a que mais passou na rádio e ficou + conhecida.

Muleta disse...

e só descobri que era estereo quando o Pai comprou a B&O

bissaide disse...

Luís: tenho a data de nascimento como 30 de Maio. Onde encontraste 30 de Março?

ié-ié disse...

tens mais dados sobre ele?

LT

Anónimo disse...

Mais tarde, na rádio France Inter, no programa " Tribunal des Flagrants Délires" , Luis Rego como advogado de defesa de Jean Marie LE PEN é pura e simplesmente fabulàstico !
Para quem compreender bem francês !