sexta-feira, 7 de outubro de 2011

SERÃO & FAVELAS


LE CHANT DU MONDE - LDX 7 436

FACE A

Carcara – Funeral do Lavrador – Canção da Terra – Sina de Caboclo – Chegança – Pau de Arara

FACE B

Opinião – Nega Dina – Pedro Pedreiro – Feio, Não É Bonito – Zelão - Cicatriz

Há uns “posts” atrás, neste kioske, Vitor Soares, a propósito de um programa de rádio, que realizou na então Emissora Nacional, referia o nome de Zélia Barbosa e a citação foi um forte soco no estômago, que o obrigou, de imediato, a pensar que esquecera Zélia Barbosa.

A PDI tem destas rasteiras…

Porque a este disco, “Sertão & Favelas”, deve ele o primeiro contacto com a então “Música Popular Brasileira” e que o obrigou a ir à procura de tudo o resto, o que por completo desconhecia.

Tinha da música brasileira a convivência com Agostinho dos Santos, Maysa Matarazzo, Celly Campelo, Miltinho, todo aquele melaço que era frequente na rádio portuguesa de então, o resto uma vasta e enorme ignorância e de Chico Buarque retinha apenas o sabê-lo autor de “A Banda”.

Como formiga indo em sentido contrário, foi-lhe dada a indicação para mudar de rumo.

E mudou mesmo!

Trata-se de um disco importantíssimo, um disco feliz: pela Zélia, pelos poetas e compositores brasileiros que nele navegam, pela brilhante concepção gráfica, recheada de gravuras populares do pintor brasileiro Esmeraldo e todos os poemas traduzidos em francês.

Ouve-se “Carcará” – “Glória a Deus, Senhor nas alturas e viva de amargura nas terras do meu senhor” – e um friozinho gélido percorre a espinha ou “Pau de Arara”, os versos primeiros citados, como Vitor Soares contou, uma finta à censura – “eu um dia cansado que eu tava, da fome que eu tinha, eu não tinha nada, que fome que eu tinha”, ouve-se ainda “Pedro Pedreiro” ou o “Funeral do Lavrador”, extraído da peça “Morte e Vida Severina”, o resto das canções cantadas pela Zélia, e vem à memória que estas, outras também, foram as canções, no meio do obscurantismo, que ajudaram ao construir da esperança, que por um Abril veio a acontecer, mas que teve o ligeiro acorde de um “foi bonita a festa pá”.

Como diria o Palmelão: vocês sabem do que eu estou a falar.

Colaboração de Gin-Tonic

2 comentários:

Anónimo disse...

Muitos parabéns e muito obrigado pela recordação. Ouvi este disco centenas de vezes na Casa do Cruzeiro, em Viseu, naturalmente.
ÚNICO.
Bem Hajam.
Eduardo Pinto

Vítor Soares disse...

Bela evocação, caro Gin-Tonic! Nos idos de 1970, este disco da Zélia Barbosa ajudou a criar "espírito de corpo" em muita gente. Actualmente, o meu lamento é que já perdi o rasto ao exemplar que eu detinha...