Para mim, rock and roll é uma atitude mental libertária. Não tem nada a ver com exteriorizações físicas, comportamentais ou modismos. No meu ponto de vista, um verdadeiro rocker foge de todas as uniformizações, tribalismos e clãs, assim como de todas as espécies de estereótipos.
O rocker não segue as ondas dos modismos como carneirinho. O rocker pensa por si próprio e faz a sua própria moda. Como tal, não usa piercings, tatuagens, cabelos exóticos ou roupas extravagantes, a menos que tal lhe apeteça e o faça por desafio e provocação, precisamente para quebrar tabus.
Por isso eu posso assumir-me como Zeca do Rock, mesmo quando interpreto uma balada, um bolero, um trecho de folclore ou um fado (!), porque o faço com atitude mental de rocker e não imito ninguém; limito-me a ser eu próprio, que nunca aprendi música por pauta, nunca tive uma aula de canto, nem tal me interessaria.
Canto como um homem livre, exprimindo os meus sentimentos com as qualidades e defeitos que possuo, sem polimentos, máscaras ou disfarces. Por isso eu sou muito mais "eu" numa tertúlia em redor de uma mesa, com um violão no joelho, uma cerveja bem gelada no copo e um grupo de amigos tão sedentos de viver em absoluta liberdade quanto eu próprio, do que num palco, cheio de spot lights em cima do rosto.
E devo dizer: se, nos anos 60 a imprensa me rotulou de "Elvis Presley" português, eu nada tive a ver com isso nem alguma vez perfilhei a ideia. Nunca tentei imitar a voz do grande Elvis (nem poderia fazê-lo, pois não possuo nenhum dos ingredientes essenciais para tal), nunca usei roupas, cortes de cabelo ou outros atributos que imitassem o seu estilo, nem pretendi, antes pelo contrário, colar-me à imagem fosse de quem fosse.
Concluindo: como intérprete do repertório internacional, canto as canções de que gosto, independentemente de quem as criou - e canto-as à minha maneira.
Como compositor (outro capítulo à parte na minha expressão musical), considero-me um cronista-cartoonista musical. Na qualidade de rocker libertário, logo residindo permanentemente na oposição aos establishments, assumo as mais diversas posições conforme as épocas e os extratos político-sociais que me apetece defender ou criticar: principalmente criticar.
Desenho o meu cartoon musical com traço grosso, bem hard-core, para que não restem dúvidas sobre o quê e quem eu estou a retratar. Jamais pretendendo ser dono da verdade, pinto a minha interpretação dos factos como um pintor o faria, sem querer impor ao público a minha visão pessoal; simplesmente a apresento como testemunho pessoal.
Nas minhas composições a música é uma vestimenta da letra, pois é nesta última que reside a mensagem que pretendo divulgar. Nas composições românticas, sou tão pinga-amor como qualquer outro.
Por isso, a quem venha a conhecer a totalidade do meu cancioneiro, nego o direito de me rotular como sendo de esquerda, de direita ou de centro. Não sou! Sou sempre da oposição, mais ou menos moderada, a todos os sistemas existentes e preso muito a liberdade de criticá-los.
Muitas vezes tentaram tolher-me essa liberdade, mas sem sucesso.
Colaboração de Zeca do Rock
5 comentários:
São posts assim que tornam este blogue tão especial e único...
Obrigado, Zeca, por partilhar connosco o seu auto-retrato.
E apesar de você sublinhar que nunca pretendeu imitar o Elvis - o que é verdade - aposto que o "rei" ficaria orgulhoso com este texto...
Instigante!
Grande texto e manifesto libertário de Zeca do Rock para a história do rock português.
O blog ié-ié fez "malhete".
O autor também possui um interessante blog em :
http://heatherzeca.blogspot.com/
"A hundred pounds of text"
JR
Na assinatura do post há um link para o blogue do Zeca. Faço sempre isso.
LT
Para uma (futura) capa de um CD...
MAGISTRAL!!!
Um texto lucido de quem se afirma no que foi, recusando o que pretenderam que fosse.
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