quarta-feira, 13 de abril de 2011

VICTOR GOMES


MARFER - MEL. 2-077 - 1967

Juntos Outra Vez (Victor Gomes) - My Prayer (Kennedy/Boulanger) - Mama (dr) - Há-de Voltar (Victor Gomes/Marcelino Castro André)

Esta edição, da espanhola Marfer, é exactamente a mesma da FF, incluindo o número de catálogo.

Neste EP, único do cantor, Victor Gomes é acompanhado pelos Siderais, formados por Fernando Maurício (baixo), Tony Maurício (bateria), João Robalo (guitarra-solo) e Victor Queiroz (Carocha) (guitarra-ritmo).

Victor Manuel dos Santos Gomes nasceu em Lisboa a 06 de Fevereiro de 1940, no Alto do Pina. Aos 4 anos partiu com os pais para Lourenço Marques, actual Maputo (Moçambique).

A mãe, Maria Duarte Santos, foi, em 1948, segunda classificada no concurso "Rainha do Fado de Moçambique" e uma tia, Cecília Santos, foi cançonetista do Rádio Clube local.

Dos 7 aos 15 anos, Victor Gomes frequentou um colégio de padres salesianos na Namaacha.

Depois, segundo a revista "Flama", a sua vida tornou-se um contínuo desbobinar de emoções alternantes: actor teatral, cançonetista no Rádio Clube de Nampula, mecânico de automóveis em Lourenço Marques, pugilista profissional (sete combates na écurie de Tafoi), hoquista em defesa das cores de Malhangalene, Desportivo e Sindicato (ao lado dos mundiais Adrião, Bouçós e Velasco), futebolista no Sporting Clube de Nampula (companheiro de Eusébio na selecção de Moçambique) e, durante dois anos, caçador profissional de caça grossa.

Possuía três armas e um jeep: internava-se no mato e por lá passava semana a fio. Abateu búfalos, antílopes, jacarés, javalis, zebras, macacos-cães e hipopótamos e traficava com os nativos a carne seca.

Percorreu a Rodésia, Congo ex-Belga e África do Sul cantando e caçando: na segunda faceta actuou ao lado de Cliff Richard e Marty Wilde, venceu um concurso de "caloiros do ritmo" e traçou Angola do Norte a Sul, cantando para militares e civis.

Em 1957, ganhou um concurso no Rádio Clube de Moçambique, “A Hora do Caloiro”, organizado por João Maria Tudela, e é aclamado como o “supremo roqueiro”.

Quatro anos mais tarde, foi para Luanda, onde actuou em várias casas de diversão nocturna com os Dardos até 1963, altura em que se mudou para Lisboa. Em Angola, tinha como agente Luís Montez, pai de Luís Montez, da promotora de espectáculos Música no Coração.

Quando cheguei a Portugal, em 1963, já havia o Zeca do Rock, o Joaquim Costa, o Nelo do Twist, o Fernando Conde, mas não cantavam o rock original, cantavam umas coisas em português. Fui o primeiro a cantar rock em inglês. O Daniel Bacelar cantava umas baladas. Eu é que trouxe a energia do rock, a rebeldia e os blusões de cabedal pretos, à americana.

Descoberto por Vasco Morgado na parada de artistas que desfilaram no festival de homenagem ao bailarino Freddy, teve a sua grande oportunidade no Concurso do Rei do Twist que venceu no dia 07 de Setembro de 1963, acompanhado pelos Gatos Negros e sempre vestido de cabedal preto e dando saltos à Tarzan em palco.

Os Gatos Negros eram então formados por José Alberto, 20 anos, (viola solo), Manuel Lixa, 23, (viola ritmo), Jacinto Lixa, 25, (viola baixo) e Quim Hilário, 21, (baterista), todos da Trafaria.

Foi o João Maria Tudela que me falou dos Gatos Negros. Disse-me que não eram grandes músicos, mas tinham garra e eram rebeldes. Fui logo à Trafaria, à sala dos bombeiros onde ensaiavam e foi amor à primeira vista.

A convite de Vasco Morgado, Victor Gomes contracenou com Henrique Salvador e Humberto Madeira na revista “Boa Noite, Lisboa!”, no Monumental, e participou em três filmes, “Canção da Saudade” (Henrique de Campos, 1964), “Sangue No Asfalto” (Jorge Cabral, 1965) e “A Caçada Do Machadeiro” (Quirino Simões, 1969).

Pouco depois, a estrelinha deixou de brilhar. Não participou no Concurso Ié-Ié, também no Monumental, e foi eliminado no dia 20 de Setembro de 1963 do Concurso tipo Shadows, no Cinema Roma, enquanto Nelo do Twist foi à final e Fernando Gaspar, dos Conchas, com o Conjunto Mistério foi o vencedor.

Em 1964, Victor Gomes e os Gatos Negros deram um espectáculo ao ar livre, na Praça Duque de Saldanha, em Lisboa, perante milhares de pessoas.

Até havia pessoas em cima das árvores, o trânsito todo parado, uma loucura! Antes do concerto, fui chamado ao gabinete do Vasco Morgado, onde estavam três pides à minha espera. Disseram: "Victor Gomes, o menino não vai cantar canções de protesto!". Respondi: "Eu?! Eu quero é rock!". E foi assim.

Ainda em 1964, os Gatos Negros, mas sem Victor Gomes, acompanharam José Manuel Concha no seu primeiro disco após a separação dos Conchas, “Sebastião Come Tudo” (Columbia SLEM 2171). Na capa diz-se erradamente “conjunto Os Conchas”.

Em 1966, Vasco Morgado organizou no Teatro Monumental uma Festival de homenagem a Victor Gomes, (“homenagem da gente nova a um ídolo da juventude”) com a participação, entre outros, de Artur Garcia, Florbela Queirós, Tony de Matos, Tristão da Silva e dos “notáveis conjuntos” Bábulas, Claves, Dandies, Lieders, Falcões, Flechas, 6 Latinos, José Manuel e os seus Rapazes.

Em 1967 editou um EP (Marfer MEL 2-077/FF MEL 2-077) com “Juntos Outra Vez” (Victor Gomes), “My Prayer”, “Mama” e “Há-de Voltar” (Victor Gomes/Marcelino Castro André).

Neste EP, único, Victor Gomes é acompanhado pelos Siderais, formados por Fernando Maurício (baixo), Tony Maurício (bateria), João Robalo (guitarra-solo) e Victor Queiroz (Carocha) (guitarra-ritmo).

Depois da edição do disco, Victor Gomes regressou a Angola e a Moçambique, a pedido da Cruz Vermelha Portuguesa e do Movimento Nacional Feminino, para cantar para as tropas portuguesas.

A ideia era ficar dois, três meses e voltar à base, mas acabei por ficar. Fui para a Rodésia, onde montei uma quinta de criação de gado, estive no Quénia, na África do Sul, no Botswana, na Namíbia, em todos aqueles países de Angola para baixo.

Victor Gomes interrompeu a carreira musical no início da década de 70. Depois de África, esteve em Inglaterra, Holanda, Alemanha e fixou-se em França, regressando a Portugal em 1992.

Em 1993 foi publicado um CD (Movieplay, MOV 30297), "Victor Gomes e o Regresso do Rei do Rock" com versões actualizadas de "Juntos Outra Vez" e "Há-de Voltar" e outras 12 canções, entre as quais interpretações de "Kanimambo" e "My Way" (em português).

Em 1997, a dupla colectânea “Biografia do Pop/Rock” (Movieplay, MOV 30.367) incluiu “Juntos Outra Vez”.

No dia 13 de Novembro de 2010, Victor Gomes, 70 anos, foi uma das atracções da Gala da SPA (BBC, Lisboa) com que se pretendeu homenagear o pop/rock português. Debilitado, não conseguiu terminar a sua prestação.

Luís Pinheiro de Almeida

2 comentários:

Carlos Caria disse...

Ainda me lembro de Manuel e do Jacinto Lixa, que antes dos gatos negros tocaram por outros conjuntos de baile pelas colectividades da Trafaria e arredores.
Abraço

DANIEL BACELAR disse...

E sempre um prazer rever o grande Victor,uma verdadeira força da natureza.
Espero que estejas totalmente recuperado
Aquele abraço