sábado, 24 de outubro de 2009

UMA BELA IDEIA MEIA DESBARATADA


À partida, havia as melhores condições para um gigantesco orgasmo colectivo de esquerdistas e ex-esquerdistas, comunistas e ex-comunistas, GACs e ex-GACs, radicais e ex-radicais, associativos e ex-associativos, MES e ex-MES.

Em palco, pela primeira vez, no Campo Pequeno, em Lisboa, os três maiores monstros-sagrados, vivos, da canção-canção e da canção de intervenção portuguesa: José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto, por ordem geriátrica.

Mas não. Uma bela ideia foi parcialmente desperdiçada por um erro de concepção. Tudo obviamente pedia um best of ao vivo, mas o que foi oferecido foi um concerto artisticamente incorrecto, com alguns êxitos conhecidos, é certo, como "Rosalinda", "Charlatão", "Mudam-se Os Tempos, Mudam-se As Vontades", "Namoro", "O Primeiro Dia", mas com derivas que chegaram a aborrecer.

Bastou ver a reacção do público, entre o êxtase e a apatia sonolenta.

Até a lembrança de José Afonso foi feita com uma anónima "De Não Saber O Que Se Espera".

Com um palco prenhe de músicos, o som saiu atabalhoado e houve protestos sonoros nas bancadas.

Ainda vou pensar duas vezes no pacote que a FNAC já está a anunciar ao bom estilo do marketing comercial outrora distante dos protagonistas desta noite. Não sei se vale a pena.

Os repórteres da "Caras" teriam feito uma boa colheita esta noite: Francisco Louçã, José Carlos de Vasconcelos, Tim, dos Xutos, Eduardo Dâmaso, João Pereira dos Santos, Luís Represas, Luís Filipe Costa, Teresa Lage, António Macedo, Luís de Freitas Branco, dos Claves, João Gonçalves, Pedro Pyrrait...

Ver outra opinião.

Eis então o meu alinhamento (ordem arbitrária):

José Mário Branco: "Mudam-se Os Tempos Mudam-se As Vontades", "O Charlatão", "Eu Vim De Longe, Eu Vou P'ra Longe", "Eh Companheiro!", "Mariazinha", "Casa Comigo Marta", "Qual É A Tua, Ó Meu?", "Queixa Das Almas Jovens Censuradas", "Perfilados de Medo", "Margem de Certa Maneira"

Sérgio Godinho: "Que Força É Essa?", "A Noite Passada", "O Primeiro Dia", "Com Um Brilhozinho Nos Olhos", "Barnabé", "A-A-E-I-O", "Senhor Marquês", "Cantiga da Velha Mãe E Dos Seus Dois Filhos", "Romance De Um Dia Na Estrada", "Maré Alta"

Fausto: "Foi Por Ela", "Namoro", "Rosalinda", "Ó Pastor Que Choras", "Atrás Dos Tempos", "Europa, Querida Europa", "Delicadamente Para Ti", "O Barco Vai De Saída", "Eu Tenho Um Fraquinho Por Ti", "Roupa Velha".

A canção de Zeca Afonso podia ser "Canto Moço" em contraposição aos "três cantos".

20 comentários:

Abel Rosa disse...

Subscrevo.
É com muita pena que vejo uma boa ideia ser completamente estragada pelos arranjos, demasiado intimistas para o local, e os coros , Meu Deus, com um travo a Lopes Graça...Coros a mais, mistura de vozes, perdoem-me horríveis...não esperava mas o que há-de ser de nós...
São artistas que que transportavam muitas utopias e muitas recordações e só por isso sou solidário....mas confesso que me senti com um pente e um canivete.

Luis Magalhães Pereira disse...

Ié-Ié,

Mas como é que era o concerto? Eles estavam sempre em palco, os 3 juntos?

E as canções eram interpretadas pelos 3?

Eu sou fã dos 3 individualmente, mas nunca imaginei que se concebesse um espéctáculo destes, a 3!

Calculo que, apesar da herança solidária e de companheirismo, sejam 3 egos demasiado grandes para co-existir harmoniosamente em palco...

Mas isto sou eu aqui a 5,000 km de distância, a especular...

ié-ié disse...

Houve de tudo um pouco, caro Gouveia. Os três em palco, só dois, só um, sózinhos, com a multidão em palco...

Imagina que uma das canções que me fez chorar, "Rosalinda", não teve o seu criador em palco.

Curiosamente, uma das coisas que mais temia e que tu referes - incompatibilidade de génios, sobretudo por parte de Fausto - não aconteceu!

Essa foi aliás, do meu ponto de vista, a parte mais meritória e convicente do espectáculo: como aqueles três enormes egos se acomodaram! E olha que estavam bem contentes!

E como não teriam ficado ainda mais se tivessem tido o público em êxtase, de princípio a fim, completamente rendido...

Entre eles houve sim companheirismo e solidariedade, interacção, como se diz agora, porém sentimentos que fraquejaram quando transbordados para fora do palco por culpa de um repertório insensatamente mal escolhido, digo eu.

Foi pena! A festa poderia ter sido muito mais bonita, pá!

LT

gin-tonic disse...

Chateia-se com isso, mas há coisas que cheira de longe. É mesmo um chato...Nunca gostou dos 3 estarolas, não apreciou os 3 tenors, idem para a reunião de Carlos Mendes, Tordo, Paulo de Carvalho e não seria esta que o faria pensar diferente. Apesar dde serem do mesmo tempo, das mesmas músicas eles são incompativeis.
Mas entende perfeitamente estas coisas. Sente o mesmo. Aos poucos o capilé vai substituindo o sangue nas veias e apenas se aguarda um qualquer sinal que nos mande lá para trás, os "good old times" em que éramos felizes só que não o sabíamos.
LOtação esgotada. Também lá estaria se não tivesse que aplicar os restos da parca reforma noutras necessidades... Hélas!...

josé disse...

No dia 2 de Novembro, se Deus quiser, direi como foi que vi o concerto.


Até lá, leio opiniões e são díspares. O Público de hoje leva-os aos píncaros...

ié-ié disse...

Não sou tão fundamentalista quanto Gin-Tonic. As minhas expectativas eram elevadas, sim, por isso o trambolhão foi maior.

Proponho um exercício que vou iniciar no próprio post: o nosso próprio alinhamento: 30 canções mais Zeca.

José: achaste mesmo que Nuno Pacheco, no "Público", levou o concerto aos píncaros? Nalgumas passagens até me pareceu bem mais cáustico do que eu.

LT

JC disse...

Por essas e por outras é que nunca vou... E desculpem lá a arrogância, mas é impossível resistir: a essa mesma hora eu jantava mtº bem num dos restaurantes do estádio Santiago Bernabéu, c/ vista para o relvado. Sei a Catedral é outra coisa, mas...!

ié-ié disse...

Mas ainda não saiste do Estádio? Dormiste lá e tudo, não?

LT

JC disse...

Quase, LT. A minha filha mora quase ao lado. Saio de casa, ando 200m até ao fundo da rua e estou no estádio.

josé disse...

Olha, lembro-me bem de descer uma rua dessas, para entrar na loja de recuerdos do clube. Na altura ( 2006), o maior era um qualquer do Manchester com nome espanhol impronunciável. Nem me lembro, mas sei que a camisete de jogador foi bem cara...

Quanto ao Pacheco do Público, fio-me no parágrafo final. "De qualquer forma, 22 de Outubro foi um grande dia. E da história já nada o apagará."

Quem escreve assim, conclui que foi coisa de levar aos pincaros...

ié-ié disse...

Vi logo que não tinhas lido o texto todo, José. Lê lá, lê lá!

LT

josé disse...

Leiamos...

A fasquia era tão alta que à saida, sa reacções foram díspares, apesar de favoráveis. (...) não correspondeu integralmente á expectativa: o que eles quiseram, e fizeram, foi um espectáculo com um lote de excelentes canções" (...)"As prestações a solo, depois de uma Barca dos Amantes em duo a merecer melhor embalo, mostraram isso: magníficas, todas as três, e merecidamente aplaudidas."

(...) Falhas na audição das vozes baralharam até algumas entradas. Mas nada disso tirou ao concerto aquilo que era o seu objectivo principal:mostrar um trabalho conjunto(...) dos três músicos ( com outros 19 do melhor nível)".
(...) fechou com chave de ouro numa sequência fabulosa: Mudam-se os tempos, FOi por ela, Que força é essa".
"Excelente na concepção, o concerto pode melhorar na concretização num ponto fulcral: algumas das prestações em trio."

Não li nada mais que pusesse em causa esta apreciação. De píncaros, porque não saiu de lá, mesmo com a observação que o bom poderia melhorar.

O bom é inimigo do óptimo. Mas os píncaros ficam abaixo do céu estrelado. E ainda mais do nirvana...

Quando fui ver Bob Dylan a Vilar de Mouros já sabia que iria ver um Dylan desafinado, totalmente cabotino por baixo de um chapéu de palhetas e atrás de um teclado sem efeito algum relevante.

Mas achei aquele concerto o máximo! Porquê? Por causa das suas músicas e dos seus músicos.

Espero sentir o mesmo, pelo menos, com o Três cantos.

Seria assim que escreveria a crónica sobre o concerto de ontem se tivesse ido ver.

DANIEL BACELAR disse...

OH JC
Vê lá se de uma vêz por todas sais do estádio Santiago Barnabéu porque senão não chegas a tempo do nosso almoço do dia 7 de Novembro.
Ainda te oferecem o lugar de porteiro!!!

JC disse...

Estou a tentar ir, como disse. Mas tenho de resolver primeiro outras coisas.

ié-ié disse...

OK, estás prevenido, é diferente. Eu não estava!

Eu costumo dizer que um prevenido nunca é um pessimista...

LT

filhote disse...

Três cantos... se assim foi... que pena!

Baggio disse...

http://baggiogeodesico.blogspot.com/2009/10/quero-o-meu-dinheiro-de-volta.html

(saudades de dois meses de netparque)

ié-ié disse...

"saudades de dois meses de netparque"?

Boa! Gostava de saber quem é o saudoso.

E fiquei fã de mais 2 blogues:

http://baggiogeodesico.blogspot.com

http://emissaocircuitofechado.blogspot.com/

LT

Baggio disse...

Vasco Gil.
Estive lá apenas um mês e meio, a tratar da agenda. Depois arranjei um trabalho «sério» (e muito mais chato), e entrou o André para o meu lugar. Nunca mais encontrei um ambiente laboral tão saudável como aquele que se vivia ali.
Saludos.

ié-ié disse...

Grande Vasco! Do melhor que houve no NetParque!

Belos blogues, parabéns!

LT