quarta-feira, 7 de outubro de 2009

AS GUITARRAS SÃO COMO AS CEREJAS


Quase me apeteceria dizer que as guitarras são como as cerejas...

Nos primeiros tempos do rock inglês (segunda metade dos anos 50), o acesso às guitarras americanas em Inglaterra era uma raridade. As importações dos EUA eram praticamente impossíveis porque a Inglaterra estava ainda a pagar-lhes os empréstimos de guerra.

Por isso, os músicos ingleses começaram com guitarras fabricadas no Continente, em alguns casos por encomenda (e com marca de) retalhistas britânicos: foi a época das Hofner, Hagstrom ou Egmond.

A primeira guitarra "famosa" do George Harrison foi uma Futurama, fabricada na Checoslováquia numa fábrica de móveis, por encomenda da Rosetti inglesa.

À parte as excepções, como as Fender, primeiro do Hank Marvin e depois de todos os Shadows, o primeiro grande acesso dos músicos ingleses (alguns) às guitarras americanas foi através de Hamburgo, e dos músicos americanos com quem aí se cruzaram.

Começam então a aparecer, já nos anos 60, algumas Gretsch, Gibson, Epiphone, Rickenbacker e Fender, mas só com os anos 60 adiantados, com o fim das restrições à importação, elas se tornaram verdadeiramente acessíveis.

Pode dizer-se que, em geral, os grandes guitarristas ingleses começaram todos com instrumentos mais que medíocres, em alguns casos até construídos por eles próprios.

A Eko esteve praticamente fora desta equação. Primeiro, porque apareceu tardiamente, em relação ao período de que falei acima. Segundo, porque nunca se implantou verdadeiramente no UK (na altura em que apareceram, fabricavam-se em Inglaterra guitarras baratas equivalentes, como as Vox).

A Eko apareceu tarde porque pretendeu capitalizar num fenómeno já em marcha. Era originalmente um fabricante italiano de acordeões, que tentou modernizar-se e penetrar num mercado nascente. O passado "acordeonista" é bem visível na decoração das guitarras, pelo menos nos primeiros anos, com motivos brilhantes a lembrar lantejoulas.

Quando o boom da música moderna atingiu Portugal já se estava nos anos 60. A alternativa mais popular às grandes guitarras americanas (que apareciam por cá, mas em pequenas doses, que o mercado não dava para mais) foram as Eko, que tinham uma variedade enorme de modelos e de preços.

Porquê as Eko? Provavelmente uma brilhante jogada de antecipação do António Gouveia Machado, que percebeu muitas coisas mais cedo que os seus conservadores concorrentes e conseguiu a importação exclusiva no momento certo.

Mas mesmo entre nós, desde muito cedo os músicos sérios começaram a fugir delas como o diabo da cruz.

Comentário de Queirosiano, imagem de Luís Pinto de Freitas

2 comentários:

JPF disse...

Curiosa esta história.
A minha primeira guitarra eléctrica foi precisamente uma Eko, comprada por 4 contos (20 euors) em Alcobaça, em 1975. JPF

Luís Duarte disse...

O pessoal nos Fanantic's era "artilhado" de Ekos .O que queriamos eram os amplificadores VOX e não tínhamos dinheiro .Esse magrinho do lado esquerdo ou estou com falta de vista ou sou eu ,
Litó ( Fanatic´s )