De 6 a 11 Fevereiro de 1956, a Associação Académica de Coimbra realizou no Teatro Avenida e no Teatro da Faculdade de Letras a “Semana Universitária de Cinema”.
Exibição de filmes, conferências de Roberto Nobre, José Ernesto de Sousa, a publicação de um Caderno Comemorativo, com colaboração de Alves Costa, Mário Bonito, Roberto Nobre, José Ernesto de Sousa, Manuel Gama, etc.
Às gerações mais novas, possivelmente, o cine-clubismo, não dirá nada, mesmo às gerações anteriores terá passado um pouco à margem.
Num artigo “Cineclubismo Hoje”, publicado no número de Dezembro de 1968, do Boletim do Cine-Clube do Porto, poderia ler-se:
Preocupados com as suas próprias dificuldades e ocupados com as suas contendazinhas caseiras, os Cine-Clubes descuraram as suas justas reivindicações, abrandaram a defesa de posições conquistadas e, sobretudo, esqueceram-se dos seus grandes problemas gerais e colectivos.
Por vezes, agitaram-se muito por dentro, mas deixaram-se estrangular, isolar e enfraquecer. Perderam o antigo espírito de luta e de coesão. Cometeram erros. Esqueceram as lições da sua própria história. E, indirectamente, ajudaram a estagnar o movimento cineclubista português.
Documento pertencente ao acervo cinematográfico do Luís Mira.
Colaboração de Gin-Tonic
Exibição de filmes, conferências de Roberto Nobre, José Ernesto de Sousa, a publicação de um Caderno Comemorativo, com colaboração de Alves Costa, Mário Bonito, Roberto Nobre, José Ernesto de Sousa, Manuel Gama, etc.
Às gerações mais novas, possivelmente, o cine-clubismo, não dirá nada, mesmo às gerações anteriores terá passado um pouco à margem.
Num artigo “Cineclubismo Hoje”, publicado no número de Dezembro de 1968, do Boletim do Cine-Clube do Porto, poderia ler-se:
Preocupados com as suas próprias dificuldades e ocupados com as suas contendazinhas caseiras, os Cine-Clubes descuraram as suas justas reivindicações, abrandaram a defesa de posições conquistadas e, sobretudo, esqueceram-se dos seus grandes problemas gerais e colectivos.
Por vezes, agitaram-se muito por dentro, mas deixaram-se estrangular, isolar e enfraquecer. Perderam o antigo espírito de luta e de coesão. Cometeram erros. Esqueceram as lições da sua própria história. E, indirectamente, ajudaram a estagnar o movimento cineclubista português.
Documento pertencente ao acervo cinematográfico do Luís Mira.
Colaboração de Gin-Tonic
10 comentários:
A Cinemateca e, curiosamente, a democracia e o desenvolvimento (a liberdade, a militância partidária,o alargamento das classes médias, a suburbanização, a massificação do ensino c/ o fim do associativismo tal como o conhecíamos), mais do que os erros próprios, mtº contribuiram para o fim do cine-clubismo. Como tudo na vida, teve o seu tempo e a sua inegável importância. Mas arrisco dizer que os chamados cinemas de bairro, de "reprise", tiveram talvez maior importância na formação de uma geração de cinéfilos do que propriamente os cine-clubes, que cumpriam essencialmente uma função política (necessária) tendo o cinema como meio. Nunca fui cineclubista (devo ter assistido no máximo a 1/2 dúzia de sessões) e fui frequentador apenas moderado dos cinemas de "reprise" (Lys, Imperial, Promotora e Paris,aqui e ali), por isso estou a falar "quase do fora" e acima de tudo a lançar um repto para a discussão. Vá lá, Gin-Tonic e Luís Mira...
JC
Cinemas "de bairro" e Cinemas "de reprise" (não confundir os dois) nunca tiveram nada a ver com cinefilia.
Primeiro a diferença entre os dois tipos: nos Cinemas de Bairro nunca havia estreias e eram frequentados por um público mais popular que adorava as "cowboyadas" e os "pepluns". Os outros Cinemas, onde os filmes se estreavam em 1ª mão viravam Cinemas de reprise logo que o Verão chegava, possibilitando ver sobretudo aqueles filmes mais recentes que se tinham perdido aquando da estreia.
Nunca frequentei cineclubes em Portugal, apenas as sessões clássicas do Império ou Apolo 70, só para citar as mais conhecidas. Estas sessões tinham o mesmo objectivo dos Cineclubes, que era dar a conhecer a história do Cinema. Contudo, fui sócio muito activo do Cineclube de Lourenço Marques, durante os últimos 5 anos que vivi em Moçambique (1970-1974). E foi por ter tido esse privilégio (não nos iludamos, ser-se sócio de um CC era um autêntico privilégio nesses tempos) que aprendi a gostar de ver Cinema e conheci autênticas maravilhas desde os tempos do mudo.
E é verdade que a Cinemateca foi a grande responsável (no bom sentido, claro) do fim dos Cineclubes, devido aos ciclos de cinema que passou a organizar e que chegavam a muito mais gente.
Concordo contigo, Rato, numa coisa: é mais rigoroso distinguir entre cinemas de bairro e de "reprise". No meu comentário referia-me a estes últimos. Mas não concordo noutra: há que distinguir entre cinefilia e "cinelogia", ou seja entre o gosto pelo cinema e o conhecimento do cinema. E no que refere ao gosto pelo cinema, mesmo enquanto apenas puro entretenimento, os cinemas de "reprise" tiveram uma indiscutível importância.
Abraço
Pontos de um leigo na matéria, apenas espectador:
O cineclubismo foi um veículo muito importante na lutra contra o regime. Não só pelos filmes que programavam mas também pela possibilidade de encontro e reunião que possibilitavam. Uma importante fatia de militância encontrava-se nos cibe-clubes. Acontecido o 25 de Abril, face às novas realidades e lutas, esses militantes são desviados para os partidos e movimentos políticos. e é empobrecimento de quadros que começa a corroer o cibeclubismo. Ainda se tentou uma injecção de gente nova nos cine-clubes, ainda se relizaram muitas sessões de cinema dito não comercial mas, por motivos vários, pernas deixaram de andar sessa direrção. Não é a cinemateca, não são as terças e quartas-feiras clássicas, que tiram força e existência aos cine-clubes: é o 25 de Abril. A partir daqui o cinema era outro!
JC:
Desconheço o termo "cinelogia", sinceramente nunca ouvi falar. Mas se significa "conhecimento do cinema" então está directamente ligado à cinefilia, pois a paixão pela 7ª Arte é indissociável do conhecimento dos filmes que fazem a História do Cinema. Hoje em dia e infelizmente, as novas gerações desconhecem de um modo geral o termo porque é algo que se perdeu ao longo dos anos. Aliás, basta ler-se algumas "críticas" actuais para se constatar isso mesmo. Sobrevalorizam constantemente produtos menores como se de "grandes obras" se tratassem, denotando desse modo o seu desconhecimento relativamente aos grandes filmes do passado. É claro que ainda vão existindo algumas - poucas - excepções. Mas como sempre, só servem para confirmar a regra.
HUGO:
Só em parte concordo com a influência do 25 de Abril no encerramento dos Cine Clubes. Isso foi realmente verdade no princípio. Mas como sabes o "25 de Abril" só durou ano e meio. E os Cine Clubes nunca mais voltaram.
Tentei dar-vos ontem a minha opinião, num longo texto que, mais uma vez, se perdeu... Tentarei retomar agora algumas dessas ideias, em estilo mais telegráfico.
Assim, e em meu entender:
1) É errado atribuir ao 25 de Abril e, muito menos, à acção da Cinemateca, a morte dos cineclubes. Essa morte estava anunciada já há muitos anos, como se pode verificar através da citação do "post" do Gin-Tonic. Os Cineclubes em Portugal viveram, quase sempre, de costas viradas uns para os outros, perdidos em guerrinhas internas nem sempre por questões ideológicas. Nunca foram capazes de se organizar, para serem mais fortes e poderem dispôr de outros meios, como foi o caso, por exemplo, dos franceses, organizados numa forte Federação Nacional dos Cineclubes Franceses que, entre outras iniciativas, editava uma excelente revista mensal (a "Cinema") da qual fui assinante.
Em Portugal só um cineclube estava, verdadeiramente, bem organizado: o do Porto, pela mão do saudoso Alves Costa. E não admira, por isso, que tenha sido o que mais durou;
2) A seguir ao 25 de Abril, três fenómenos ocorreram:
a) O Cineclube como lugar de acção política e de "conspiração" deixou de fazer grande sentido;
b) As militâncias que ainda tinham sobrevivido nos cineclubes dispersaram-se, não só na política mas também noutros domínios da cultura, da vida associativa a nível local, etc;
b) A oferta de cinema disparou, não só através da Direcção-Geral da Acção Cultural (os primeiros ciclos do Palácio Foz começaram assim...), como através das Embaixadas, das Associações de Amizades, do AR.CO, das próprias cinemas privadas (Ex: o Apolo 70, programado pelo Lauro António). Nunca houve tanta oferta de cinema diferente em Portugal. Ciclos de cinema soviético, cubano, bulgaro, romeno, checo, húngaro, eram a mato... Quanto à Cinemateca, ela ainda iria levar muito tempo a organizar-se e a apresentar uma oferta consistente e permanente...
Em síntese, o declínio dos cineclubes era uma tendência inevitável que já vinha de longe mas que foi acentuada com o advento da "Liberdade", a dispersão dos seus principais animadores e a enorme oferta cultural que passou a existir.
Rato: "cinelogia" inventei eu quando escrevi o "post"!
LM e Gin-Tonic:
Quando me referi à Cinemateca estava de facto - concordo - a ser redutor. Mas o LM corrigiu-me, e bem, ao falar da mtº maior oferta cultural que passou a existir c/ o 25 de Abril. Mas em algo não concordo: que a morte dos cineclubes tenha como principal causa factores internos, e até acho o LM se contradiz um pouco no seu comentário. Pode essa desorganização ter tido algum papel, não o nego, mas nunca o principal. Penso todos concordamos, contudo, numa coisa: a liberdade, a democracia e o desenvolvimento social tiveram um papel mtº relevante, quando não mesmo determinante, no fim do cineclubismo.
Outra nota: quando introduzi a diferenciação entre a cinefilia e aquilo a que chamei "cinelogia" estou a lembrar-me de muita gente da geração da minha mãe, que é uma cinéfila, no sentido lúdico do termo,de fruição do cinema entretenimento, mas não uma conhecedora de cinema num sentido mais intelectual. Como vivia em solteira, tal como as minhas tias, no Alto de Stº Amaro, para além da frequência dos cinemas da baixa não perdia o Palatino e a Promotora. Foi ela quem primeiro me chamou a atenção para o cinema entretenimento dos anos 30 e 40- de aventuras, do Tarzan, do Errol Flynn, das comédias, dos musicais -, filmes adequados a uma menina burguesa da época. Foi, talvez, a 1ª geração cinéfila, mas cujo conhecimento do cinema não era demasiado intelectualizado embora viesse a influenciar uma geração (a nossa) de "cinélogos (Rato, desculpa lá o neologismo!)
JC,
Eu não inventei nada...
Os "factores internos" que conduziram ao declínio dos cineclubes estão bem evidenciados na citação do "post" de Gin-Tonic, que data de 1968 e, reparo agora melhor, consta do boletim do Cine-Clube do Porto, que era então, repito-o, o melhor organizado e aquele que mais procurava lutar contra o marrasco que começava a fazer-se sentir nos finais dos anos 60.
O momento áreo do cineclubismo em Portugal são a última metade dos anos 50 e a primeira de 60. Embora tenha lido algumas coisas sobre esses tempos, não os acompanhei por dentro porque a minha "cinefilia a sério" começou, verdadeiramente, nos finais dos anos sessenta, aí pelos meus 16/17 anos.
Mas, a partir daí, acompanhei a actividade de alguns cineclubes (Imagem, ABC, Universitário,...) e posso testemunhar-lhe muitos aspectos dessa degradação interna de que lhe falo: inexistência de uma actividade de programação regular que gerasse a habituação; cópias anunciadas que não chegavam, ou chegavam em muito mau estado; total ausência de textos de apoio, para além do minimal "programa"; ausência de enquadramento histórico na abertura e de debate no final. Enfim, tudo coisas importantes que constituiam a essência do próprio movimento cineclubista. Não quero ser exagerado, mas tudo isto acontecia com muita frequência. Eu próprio me desinteressei e me afastei, já que havia outras alternativas.
Agora uma coisa é certa: como em todos os fenómenos sociais, não existirá uma única causa para o declínio desse movimento, mas sim uma articulação de factos, todos importantes mas, quiça, uns mais determinantes do que outros.
Acredito plenamente no que diz, LM. Foi por não conhecer os problemas por dentro que lancei o repto. Mas acho esses problemas apenas aceleraram um processo em que os factores exógenos foram determinantes.
Abraço
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