quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

"O TERCEIRO HOMEM"


DECCA - DFE 8535

In Grinzing – The Café Mozart Watlz – The Harry Lime Theme – Lili Marlene

O avô gostava muito do tema do filme “O Terceiro Homem”. O filho comprou-lhe o disco, um 78 RPM, tocado pelo Anton Karas, o célebre “The Harry Lime Theme”.

Anos mais tarde, já o avô tinha morrido, o pai também, encontrou num antiquário, ali para os lados do Campo Santa Clara (lISBOA), este EP com Anton Karas e a cítara, na capa.

Como estes tempos pré-natalícios são propícios a saudosismos, que não consegue disfarçar, foi buscar a capa: pelo avô, também porque gosta muito de Orson Welles, e, acima de tudo, por essa fantástica Alida Valli, “os olhos mais verdes que já vi, uma testa altíssima, uma boca sôfrega, perfil suavíssimo e um corpo que, sem ser vistoso ou agressivamente sensual, tinha as proporções feitas para a sedução”, no dizer de João Bénard da Costa, com quem nem sempre concorda, mas aqui tira-lhe o chapéu.

Dizem as más-línguas que o filme tem muito de Orson Welles e pouco de Carol Reed, o seu realizador. Não lhe custa a acreditar, mas não é coisa que se vá discutir agora.

Todo o filme está pontuado por esta extraordinária música de Anton Karas. Quase apetece dizer que o filme foi feito para aquela música. Sempre que a ouve, o filme vem-lhe à memória e revê toda aquela cena do final de “O Terceiro Homem”, um dos muitos grandes finais que o cinema já deu.

Tem sérias dívidas que continue a dar, pelo menos para o seu gosto.

Altiva e orgulhosa, Alida Valli deixa o cemitério de Salzburgo e caminha estrada fora, indiferente à boleia que Joseph Cotten lhe oferece. Em fundo ouve-se a cítara de Anton Karas, até Alina Valli se perder, sublimemente, na linha do horizonte.

“Percebo que a imagem só se moveu, ou seja, só houve cinema, para nos dar movimentos desses e mulheres assim”, para voltar a citar João Bénard da Costa.

Em Itália, Alida Valli, manteve suspensa a sua carreira por se recusar a aparecer naquilo que, no seu lúcido entender, considerava ser propaganda fascista.

Orson Welles deixou escrito: “Não penso no que ficará de mim, nem isso me importa. Creio que é tão vulgar trabalhar para a posteridade como por dinheiro".

A ninguém interessará saber mas, esta noite, esta noite, vai rever “ O Terceiro Homem".

Colaboração de Gin-Tonic

7 comentários:

Anónimo disse...

E a etiqueta "Bandas sonoras" ?

JC disse...

Ora excelente ideia, Gin-Tonic, para suceder ao Aleksandr Nesvkiy e ao Prokofiev; não me tinha lembrado desta! Kann Ich? Até vou citar, a propósito, uma história c/ o "glorioso"!
Abraço

filhote disse...

E ele faz muito bem em rever o "Terceiro Homem", um dos meus filmes favoritos. Absoluta obra-prima.

Amanhã, ou depois, tratarei de fazer o mesmo programa...

Luis Magalhães Pereira disse...

Filhote,

"Amanhã, ou depois, tratarei de fazer o mesmo programa..."

First business then pleasure, just this time, please!

Your friend in Lisbon is waiting... Waiting on a friend!

filhote disse...

Ah, então o Gouveia é esse erudito fantasma do Zandonaide!

Calma, o negócio está a avançar...

Luis Magalhães Pereira disse...

Tenement steps Tenement steps Tenement steps oooooooooooooh...

Get on with it N'Wokocha!

daniel bacelar disse...

Caro Hugo
Como sempre a tua prosa é um espanto.
Tens a capacidade de descreveres as coisas e crias-nos a sensação de que estamos a ver cinema.
O tema do "TERCEIRO HOMEM" desde muito miudo me persegue,pois devia ter os meus 6 para 7 anos,a Emissora Nacional apresentou uma adaptação para rádio deste filme,estilo folhetim e o tema musical sempre me impressionou pelo seu dramatismo e beleza.
Há uns anos,descobri um single exactamente com este tema no seu original e comprei-o.
Tenho de o empretar ao Rato para o colocar numa das suas fabulosas compilaçõe,pois não há dúvida ..
É UM CLASSICO!!!!