quinta-feira, 2 de abril de 2020
LOVE IS A TRAVELER ON THE RIVER OF NO RETURN
“Rio Sem Regresso” (Otto Preminger – 1954) é um filme que parece não ter deixado grandes saudades a quem o fez...
Marilyn Monroe tinha os caprichos que se conhecem, Robert Mitchum o mau feitio que se sabe, e Preminger também tinha a fama de ser um realizador com quem nem sempre era fácil trabalhar.
Mistura explosiva, portanto, e todos trataram de esquecer rapidamente o filme. Parece que Bob Mitchum nem queria sequer ouvir falar nele e chamava-lhe “the picture of no return”...
Curiosamente, nada disto transparece no filme, que aos meus olhos é um filme sereno, com a beleza telúrica daquelas magníficas paisagens das “Rocky Mountains” canadianas, tudo isto em Cinemascope e com uma bela fotografia de Joseph LaShelle.
Apesar de alguns perigos (os índios, os “rápidos”, os “maus” que não são índios,...), o filme desenrola-se serenamente, por entre as montanhas e ao sabor do rio, desaguando naquele inesquecível happy end do Mitchum com a Marilyn às costas, que todos nós desejávamos que acontecesse...!
E de todos os filmes de Marilyn, “Rio sem Regresso” é um daqueles onde mais gosto de a ver.
Sinto vontade de rever, de vez em quando, aquela cena onde, tão bonita e tão serena, guarda num saco os sapatos altos vermelhos, símbolo de um passado que desejaria encerrar para sempre, veste a camisa, ajeita os cabelos, desaperta o cinto, põe as fraldas para dentro, puxa da guitarra e canta para o miúdo “Down in the Meadow”, como quem embala nos braços, ternamente, a criança que sempre desejou mas que nunca conseguiu ter.
O filme foi realizado aqui, nos arredores da bonita cidade de Banff, no Canadá.
Onde vêm as quedas de água, o operador de câmara teve muito cuidado em ocultar tudo quanto era urbanismo e modernidade, que fatalmente apareceriam na imagem se descaísse a câmara um pouco mais para a direita, ou para a esquerda...
Mas o rio atravessa um enorme Parque Nacional, pelo que grande parte dos espaços permanecem livres e selvagens.
Parei num deles para fazermos um piquenique.
Sentei-me junto ao rio, pousei nele o olhar e o pensamento e deixei-me levar pelas águas...
There is a river, called the river of no return
Sometimes it’s peacefull and sometimes wild and free
Love is a traveler on the river of no return
Swept on forever to be lost in a stormy sea (wail-a-ree...)
I can hear the river call (no return, no return, ...)
Texto de Luís Mira
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