segunda-feira, 15 de março de 2010
DISCOS PE(R)DIDOS
FILM FLAM PRODUCTIONS - 1984
Side One
Prams, Piers and Bitter Tears – Rosemary Smith – First Hour Of The Day
Side Two
Living Legends – The Boy Sailor – Maybe One Day
Na solidão de um aeroporto, e para fazer tempo, enquanto aguarda o avião, alguém compra uma revista sobre música.
Pelo meio da leitura encontra um artigo que lhe dá a conhecer “The Band Of Holy Joy” como banda revelação desse ano.
Nunca ouvira falar, mas a leitura do artigo acaba por lhe dar pistas, que o levam a concluir que a banda não deverá andar longe das "Jug Bands", que surgiram em força nos Estados Unidos, nos anos 20, e depois ressurgiram, também com alguma importância, por ocasião do "Folk Revival" do início dos anos 60.
Basicamente bandas acústicas, que utilizavam uma panóplia de instrumentos musicais ditos "exóticos", nomeadamente de sopro e precursão (garrafas, bidons, caixotes de madeira e coisas do estilo).
Tomou nota do nome da banda e esqueceu o assunto.
Um dia, em Lisboa, na secção de música, dita “Independente”, de uma discoteca, encontra o vinil.
Uma capa mesmo bonita, daquelas que nos remetem para Nicolas Guillen, para memórias de bares junto ao mar, onde se conversa e bebe apenas por isso mesmo, também amores, vinhos e rosas vermelhas, quem sabe mais o quê, talvez cerejas.
Confirma a ideia inicial sobre a influência das "Jug Bands" e gosta do que ouviu.
Por um daqueles jantares de Natal, que se fazem antes de ser Natal, porque la navidad é para a família, as conversas descaem ao sabor de divagações, copos bebidos lentamente, fumaças de charuto, chalaças várias.
No meio da converseta, há um amigo que fala, entusiasticamente, de um disco que ouvira no “Som da Frente” do António Sérgio, uma banda cujo nome é “The Band Of Holy Joy”e que não descansará enquanto não encontrar o disco.
Ele sabe bem do que o amigo está a falar.
Ficou a olhar para a cor azulada do final do charuto e pensou: as suas águas não são preferencialmente a daqueles rapazes, certamente com piada e que iniciaram a carreira tocando ao vivo em instituições psiquiátricas.
Era Natal e que diabo! Um amigo merece sempre o nosso melhor lado, para um amigo devemos estar sempre disponíveis, como os santos.
Monologou, então, que o disco ficaria melhor acompanhado pelo amigo do que com ele.
Foi à estante, tirou o disco, e olhou a capa por uma última vez.
Colaboração de Gin-Tonic
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13 comentários:
História comovente! Curiosamente (ou talvez não) também eu dei o meu único vinil de Band Of Holy Joy, o LP "Positively Spooked", a um amigo no dia 08 de Novembro de 2007.
LT
Muito bonito Gin!
Dos discos pedidos lembro-me do "Quando o telefone toca!
Vou fazer uma busca na net!
Abraço
Brilhante!
Está um bocado romanceado, mas o que seriam dos excelentes Escritores, como Gin-Tonic o é, sem uma pitada de romance...?
É por amizades assim que a vida vale a pena
Plenamente de acordo Rato.
Mas já não existem, agora é só egocentrismo!
Ah existem, existem! Raras e preciosas, mas existem sim senhor!
Não rato e falo do que sei!
Amigos?
Pessoas que se preocupam?
Não:
Eu também sei do que falo. Felizmente!
Quem anda à chuva molha-se e, neste blogue, um pacato cidadão está sujeito a tudo: até chamarem-lhe escritor...
Ouviu contar esta história. Viu a capa e também a achou bonita, a história ainda mais.
Sugeriu aos dois intervenientes que um deles contasse a história.
Esperou o tempo suficiente mas de história, nada.
Decidiu avançar, agora chamam-lhe escritor.
Ele há cada uma!!!...
Como é provável que dele não se fale, regista a morte de Jean Ferrat, ocorrida há dias mas só hoje conhecida.
Aos poucos, os compamheiros de esrtrada que, aqui e ali, o ajudaram a percorrer caminhos, vão partindo.
Dói cada vez mais...
C'est un joli nom, Camarade...!
Este também voou de minha casa, mas não foi oferecido...!
.... e se te incomoda "Escritor", escreva-se então "Escriba"...!
Parabéns, venerando escritor!
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