quarta-feira, 8 de julho de 2009

JOSÉ LELLO, OUTRA VEZ...


ALVORADA - EP-60-1152 - 1969

Caminhando - Balada Para Um Emigrante - Miguel - Pesacador

Tudo originais de José Lello, actual dirigente do PS.

Ah! Este disco tem 40 anos! Foi "disco da semana" na "Plateia" de 28 de Outubro de 1969.

José Lello é um nome que até agora nunca tínhamos ouvido. Surgiu-nos esta sua gravação e como mais um novo nome para a música portuguesa, dedicámos-lhe uma atenção especialíssima.

Não ficámos decepcionados, antes pelo contrário, embora achemos que José Lello foi prejudicado pela "táctica" de se gravarem EPs. Um "single" tinha sido muito melhor. Ganhava o intérprete e ganavva o público.

Expliquemos Porquê: contém fundamentalmente este disco duas canções com bastante conteúdo e de boa qualidade, a par de ouras duas que parecem menos boas, dando ideia uma delas de quase ter sido feita à pressa, como que apenas destinada a encer o disco.

Mais pormenorizadamente: "Balada Para Um Emigrante" e "Miguel" estão a mais.

Devem, quase por certo, pertencer às primeiras experiências de José Lello e nota-se nelas fragilidade, principalmente na parte lírica.

"Miguel" é por demasiado dramática e com uma certa falta de fundo. De notar o exagero de interpretação de José Lello em "... porque sou pai de ti Miguel", marcando e gritando uma frase que embora precisasse de destaque não era tanto com foi dado.

Boa a ideia melódica sobretudo na parte final. Fraca harmonização. A outra canção atrás referida enferma de alguns dos defeitos apontados para "Miguel", tendo demasiados "la-la-la" como que se o poeta tivesse falta de inspiração nesses momentos.

Mas a título de uma justiça a que se não pode fugir devemos acrescentar que tomaríamos nós que de toda a música portuguesa tivesse este nível: o defeito principal dessas duas faixas é baixarem o nível global do trabalho de José Lello, porque apesar de tudo, ainda são composições razoáveis.

Mas os pontos altos são atingidos com "Caminhando" e "Pescador". A primeira é a história do pobre que vive na sua aldeia e que trabalha de manhã à noite sem ter nada de seu. Tem de deixar a sua terra e os seus e partir para outro lado.

A música é simples e repetitiva, mas tem uma apresentação que não esconde fragilidades, nem usa de processos complicados para tapar "buracos" e isso só pode ser bom.

Pena que José Lello grite demais certas frases, principalmente nos tons altos. Um bocadinho mais de suavidade não ficava mal. No entanto, este é um bom trabalho de música portuguesa.

"Pescador" é a melhor faixa do disco. Tema difícil de tratar sem se cair em dramatismos fáceis. José Lello conseguiu dar-nos toda a vida do pescador em três quadras de uma enorme simplicidade de palavras, mas de muita força e certeza de significados.

Não há aqui segundos sentidos, nem construções complicadas, apenas a simplicidade e a honestidade do pescador.

Música de tom pesado, em linha com o tema tratado. Aqui José Lello está mais sóbrio embora puxe ainda pela voz.

Ainda de aplaudir o trabalho de orquestra de Italo Caffi.

Utilizando poucos instrumentos, assentando no "cello" e na flauta, o seu trabalho está sóbrio e adequado ao que as composições pediam.

José Lello era um nome desconhecido, José Lello já não é um nome desconhecido na música portuguesa, é "alguém que surge e dequem há muito a esperar".
As nossas esperanças ficam nele depositadas.

in
Plateia, 14 de Outubro de 1969

5 comentários:

Camilo disse...

A Música portuguesa não merecia "isto"!!!
Que pena o "Baygon" só servir para exterminar moscas, insectos, baratas e outros bichos rastejantes...

filhote disse...

Mais tarde, José Lello formou uma interessante banda de Psicobilly... os estrondosos Lello & Irmãos.

DANIEL BACELAR disse...

E mais tarde juntou-se a uma outra Banda um tanto ou quanto HEAVY....METAL!!!!
Bão sei se me faço entender!!!!

Camilo disse...

...Psicoquê, "filhote"?!!!

paulo disse...

Heavy metal? Aquilo não passa é de um Trash Metal do piorzinho que por cá houve, bem abaixo de medíocre!