Antes do 25 de Abril, a Censura aos jornais tinha algumas particularidades, para não dizer buracos.
A ANI, que era a agência de notícias, tinha uma censura a posteriori, ou seja, enviava os seus telexes, sem censura, para os jornais ao mesmo tempo que para a Comissão de Censura.
De x em x tempo, ou mesmo irregularmente, mas diariamente, a Censura dava conta à ANI do que era para cortar, ou tudo, ou parte, ou uma palavra, ou um parágrafo, o que fosse, e a agência transmitia esses ditames aos jornais.
Mesmo com os jornais a serem fiscalizados pela Censura antes de irem para as bancas, o sistema, nos termos da Censura, não era nem perfeito nem rigoroso sobretudo para os despachos internacionais.
Este é um caso, uma notícia publicada no jornal "República", de 29 de Janeiro de 1974, com o título "Alemanha Federal: Decréscimo Demográfico e Perigo de Racismo", que a ANI traduziu da DPA.
Não recordo exactamente o modus deste caso particular - a Censura cortou a frase "ao mesmo tempo que se vai generalizando o hábito de "viver juntos" sem, portanto, a intenção de ter filhos", mas o jornal publicou-a na mesma - mas deve ter acontecido uma destas situações:
- ou o "República" se marimbou para o telex da Censura e o Exame Prévio não reparou;
- ou o telex da Censura foi tarde, o jornal já estava fechado e o Exame Prévio não reparou.
Estávamos a três meses do 25 de Abril!
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