segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

RONDA DO SOLDADINHO


edição de autor, francesa, clandestina em Portugal, s/número de catálogo, 1969

Ronda do Soldadinho (José Mário Branco) - Mãos Ao Ar! (Jorge Glória/José Mário Branco)

Além deste exemplar, francês, com capa branca, há um outro, português, com capa de João Segurado e uma fotografia de José Mário Branco, da autoria de Michel Morange.

Além de José Mário Branco (voz, piano e viola), participaram nesta gravação Claude Puyalte (viola-solo) e Bernard Guérin (contrabaixo).

Em 1969, José Mário Branco autoproduz, com dinheiro adiantado pelas associações dos emigrantes, o single "A Ronda do Soldadinho", de que entram clandestinamente em Portugal 2 ou 3 mil exemplares.

Foi o meu pai que mandou imprimir cá uma capa. Depois do 25 de Abril ainda me devolveram uma caixa com discos que tinham sido apreendidos pela PIDE (José Mário Branco, in "Canto de Intervenção", Eduardo M. Raposo, Biblioteca Museu República e Resistência, 2000).

Em 1970, José Mário Branco era muito solicitado para actuar em associações de emigrantes e nos meios universitários. Estas duas canções foram compostas para abordar a questão da guerra colonial junto desse público.

Musicalmente, este trabalho tem pouco a ver com o anterior ("Seis Cantigas de Amigo", 1969), o que é uma consequência directa das concepções do autor. A abordagem de uma temática completamente diversa impôs naturalmente a procura de outros ambientes sonoros.

Desta vez, José Mário Branco tentou aproximar-se da simplicidade harmónica da música popular portuguesa, sem a ela se limitar taxativamente, esboçando um estilo que viria a retomar, com outros ingredientes formais, na fase "maoísta" da sua obra.

Por outro lado, o acompanhamento de piano no segundo tema sugere já o conjunto de influências musicais que iriam marcar o álbum "Mudam-se Os Tempos, Mudam-se As Vontades".

Acima de tudo, este disco deixa clara a intenção de cortar com a tristeza e com o imobilismo nacional dos "baladeiros".

(in "O Canto da Inquietação", Octávio Fonseca Silva, Biografias MC, 2000)

Tal como Gin-Tonic já evidenciou, há uma versão de "A Ronda do Soldadinho" pela insuspeita Isabel Silvestre no seu álbum a solo, "A Portuguesa", EMI, 1996, e, também, na colectânea "Sons de Paz", EMI, 2003.

Jorge Glória era um exilado português, vizinho de José Mário Branco em Paris.

2 comentários:

O Arquivista disse...

Existe, de facto, a capa do disco de 1970 com uma fotografia de josé mário branco tirada por Michel Morange, tal como pode ser visto no livro de Octávio Lima ou então no link abaixo, por exemplo: arquivosdoprotesto.blogspot.com/2008/12/jos-mrio-branco-ronda-do-soldadinho.html.

Aliás, creio existirem duas edições deste disco, uma francesa e outra portuguesa (?), com capa idêntica, mas pelo que sei, com algumas diferenças no interior. Infelizmente, não posso adiantar muito mais, pois não possuo nenhum exemplar.

O Arquivista disse...

Errata: não é "Octávio Lima", mas sim Octávio Fonseca Silva.