Os Xutos e Pontapés apresentaram-se hoje à noite no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, na máxima força, com um Pedro Gonçalves emprestado no baixo, chegando a exibir quatro potentes guitarras eléctricas em palco ao mesmo tempo.
Anunciava-se um concerto acústico, mas foi tudo às urtigas. Para dizer a verdade, a única atitude acústica em palco foi a pose dos Xutos... sentados! Aliás, como o público, confortavelmente, naquelas cadeiras tipo CCB.
De resto....
Mas isso também pouco importava. Os Xutos deram um grande concerto - duas horas e meia - numa sala com uma acústica magnífica, um som impecável e límpido e uma empatia exuberante entre palco e fora do palco.
Verdade que o cenário, discreto, também apelava ao acústico, à intimidade, com um jogo de luzes laranja sóbrio e fumo no ar (a que se juntava o do cigarro de João Cabeleira), fazendo lembrar os pequenos clubes nocturnos de jazz.
Mas à electricidade das guitarras cedo se juntou também o frenesim dos holofotes para iluminar o ritmo. Que eu tivesse dado conta, ninguém se importou.
Kalú, na bateria, único de t-shirt branca, era o motor. E só o vi pegar uma única vez nas vassouras, essas ferramentas suaves, tradicionais do acústico. Mais uma vez, ninguém se importou com a batida forte e feia, pelo contrário.
Deliravam!
(Só estou à espera que o campeão dos sons acústicos, Nuno Sebastião, debite as suas impressões no blogue).
Os Xutos deliciaram com 26 canções, todas cantadas em português, e parecia que não queriam ir embora. Tim a cantar como nunca, Zé Pedro é a argamassa, Gui num momento de teclas que não me sai da cabeça.
Uma das coisas que me fascina nos Xutos são as letras. São de um abstracionismo intenso. É um conjunto inteligente de termos pouco usuais no léxico da pop nacional, muitas vezes sem sentido. As palavras colam-se umas às outras, são sons.
Quem se lembraria de rimar "amores" com "contentores"?
Para registo, aqui ficam as 26 canções da noite: "Barcos Gregos", "A Sede", "O Que Foi Não Volta A Ser", "N'América", "Nesta Cidade", "Pequenina", Pêndulo", "Manhã Submersa", "Remar", "Negras Como A Noite", "Circo de Feras", "Doçuras", "Santo E A Senha" (nova), "Perfeito Vazio" (novo single), "Estupidez", "Vida Malvada", "Para Ti Maria", "Fim Do Mês", "Chuva Dissolvente", "Homem Do Leme", "Dantes", "Dia de S. Receber", "Ai Se Ele Cai", "A Minha Casinha", "Sémen" e "Contentores".
No final, já ninguém se lembrava que tinha sido chamado para um concerto acústico...
Anunciava-se um concerto acústico, mas foi tudo às urtigas. Para dizer a verdade, a única atitude acústica em palco foi a pose dos Xutos... sentados! Aliás, como o público, confortavelmente, naquelas cadeiras tipo CCB.
De resto....
Mas isso também pouco importava. Os Xutos deram um grande concerto - duas horas e meia - numa sala com uma acústica magnífica, um som impecável e límpido e uma empatia exuberante entre palco e fora do palco.
Verdade que o cenário, discreto, também apelava ao acústico, à intimidade, com um jogo de luzes laranja sóbrio e fumo no ar (a que se juntava o do cigarro de João Cabeleira), fazendo lembrar os pequenos clubes nocturnos de jazz.
Mas à electricidade das guitarras cedo se juntou também o frenesim dos holofotes para iluminar o ritmo. Que eu tivesse dado conta, ninguém se importou.
Kalú, na bateria, único de t-shirt branca, era o motor. E só o vi pegar uma única vez nas vassouras, essas ferramentas suaves, tradicionais do acústico. Mais uma vez, ninguém se importou com a batida forte e feia, pelo contrário.
Deliravam!
(Só estou à espera que o campeão dos sons acústicos, Nuno Sebastião, debite as suas impressões no blogue).
Os Xutos deliciaram com 26 canções, todas cantadas em português, e parecia que não queriam ir embora. Tim a cantar como nunca, Zé Pedro é a argamassa, Gui num momento de teclas que não me sai da cabeça.
Uma das coisas que me fascina nos Xutos são as letras. São de um abstracionismo intenso. É um conjunto inteligente de termos pouco usuais no léxico da pop nacional, muitas vezes sem sentido. As palavras colam-se umas às outras, são sons.
Quem se lembraria de rimar "amores" com "contentores"?
Para registo, aqui ficam as 26 canções da noite: "Barcos Gregos", "A Sede", "O Que Foi Não Volta A Ser", "N'América", "Nesta Cidade", "Pequenina", Pêndulo", "Manhã Submersa", "Remar", "Negras Como A Noite", "Circo de Feras", "Doçuras", "Santo E A Senha" (nova), "Perfeito Vazio" (novo single), "Estupidez", "Vida Malvada", "Para Ti Maria", "Fim Do Mês", "Chuva Dissolvente", "Homem Do Leme", "Dantes", "Dia de S. Receber", "Ai Se Ele Cai", "A Minha Casinha", "Sémen" e "Contentores".
No final, já ninguém se lembrava que tinha sido chamado para um concerto acústico...
16 comentários:
Na mouche! Se o cenário e o facto da banda e público estarem sentados remeter para um concerto acústico...com um Cabeleira em palco isso é impossível!
Breves notas pessoais sobre o concerto:
- Som espectacular. O Olga Cadaval, que não conhecia, não fica nada a dever à Aula Magna em termos de qualidade do som;
- Gostei bastante da segunda música nova que tocaram (Perfeitos Vazios?);
- O Cabeleira pode fumar em palco e eu à primeira fotografia com o telemóvel fui chamado à atenção...
- A partir da "Vida Malvada" ninguém conseguiu parar o meu filhote, de tal maneira que tive de abandonar o meu lugar sentado e ir para as escadas para ele poder pular e dançar sem vazar a vista a alguém :-)
Um pormenor que só dei conta agora. O tipo do baixo afinal é o Pedro Gonçalves dos Dead Combo! Sem óculos não reconheci...
Duas notas, a propósito:
1. Já tive a sorte de pisar o palco do Olga Cadaval e afirmo, sem reticências, que foi o auditório com melhor acústica em que toquei!
2. No show dos Stones do Arena O2 (Londres), em 2007, também Keith Richards e Ronnie Wood ousaram fumar como chaminés contra todas as regras do recinto. Posteriormente, os Stones receberam uma multa pesada. Será que os Xutos também terão de pagar a factura?
Xutos, a minha banda de culto a seguir aos Beatles. Tive a sorte de ver Xutos a tocar Beatles já, ainda espero um dia ver os Beatles a tocar Xutos, mas entretanto vou aguardando. Já vi os Xutos tantas vezes em tantos lugares diferentes, para audiências que variavam de algumas dezenas até largos milhares. E conseguem sempre transparecer que estão ali, os Xutos, por prazer de estarem juntos e de partilharem a sua música. Não serão os executantes mais virtuosos, nem os compositores mais talentosos, mas são o grande grupo de Rock feito em Portugal, fazem parte de nós, sem peneiras e sem grandes malabarismos. Tocam o Rock como ele é para ser tocado, simples e contagiante.
Muito Obrigado Senhores COmendadores
O Kerouac deve revolver-se na sepultura!
Um pormenor, NS e Filhote: a lei anti-tabaco permite porém que os artistas possam fumar em palco, pelo menos em Portugal.
Já que se falou dos Stones: Zé Pedro falou-me entusiasticamente do seu encontro com Mick Jagger e Keith Richards em 2007 em Alfama. E, surpresa minha, é super-fanático dos Oasis.
LT
Pois não sabia dessa benesse aos artistas, estava convencido do contrário até pelo comentário que o Jorge Palma fez aqui em Torres quando ia começar a tocar o «dá-me lume».
Está explicada a razão do Zé Pedro ter considerado o "Dig Out Your Soul" o melhor de 2008 numa votação da Radar...
A propósito do Zé Pedro e dos Stones, penso que já terá sido mais do que relatado, mas eu nunca cheguei a perceber se os Xutos sempre tiveram algum contacto directo com os Stones em Coimbra. Alguém fará a gentileza de colocar aqui essa história ? se é que aconteceu.
Jack:
Perguntei exactamente isso ao Zé Pedro, mas ele disse-me que não. Disse-me que só esteve com Mick Jagger e Keith Richards em Lisboa, em Junho de 2007, no restaurante Bacalhau, em Alfama, com João Pedro Pais. Explicou-me também que Jagger e Richards não estavam juntos no mesmo restaurante há mais de 20 anos. Por isso, Zé Pedro lembra-se bem de ter sido testemunha de um evento histórico.
De Coimbra, lembro-me bem eu e o Zé Pedro também, já que foi mandatário da juventude da Associação Académica de Coimbra, de que Keith tocou com um cachecol da Briosa!!!! Ora toma lá! E até parece que tocou melhor...
Yes!!!
LT
Sim, disso eu lembro-me, do cachecol. Eu também assisti a esse concerto dos Xutos, em que os Stones foram fazer a 2ª parte. Mas fiquei sempre na dúvida, porque ouvi histórias de que o Zé Pedro tinha estado com o Keith, e que tinha uma "pick" oferecida por este. Mas não me lembrava de nenhuma versão contada pelo próprio ZP. Também se dizia que os Xutos teriam ido tocar de borla nesse concerto. Mas são tudo histórias não confirmadas.
De facto, companheiro Kerouac, os Xutos fizeram a 2ª parte do concerto dos Stones em Coimbra. Enquanto a 1ª parte foi assegurada por uns Primal Scream em muito má forma.
Eu estava na 1ª fila, de plantão, à espera da chegada transcendente dos meus queridos "animais do antigamente".
E o meu filho mais velho, então com 15 anos, fez a sua estreia no culto Stones. E converteu-se, como eu, quando tinha também 15 anos e os fui ver a Madrid (1982).
Os Xutos foram excelentes, oferecendo um set curto e certeiro. Gostei muito. Quanto aos Stones, deram o seu melhor show de sempre em terras portuguesas. E olhem que eu estive em todos! Aquele versão de "Paint It Black" foi demolidora!!!
Sobre o mítico encontro dos nossos roqueiros com os Stones nessa noite de Coimbra, sei de fonte segura que ele aconteceu. Foi um convívio rápido, quase de segundos, com direito a fotografia e autógrafos. O problema é que consta que nem todos os Xutos estavam presentes no momento da verdade...
Eu percebi a piada, Jack, do concerto dos Xutos com 2ª parte dos Stones... eheheh... a minha resposta autista foi só para baralhar as hostes...
Ainda bem que voltaste, Jack, por onde andaste?
Ainda a respeito das "instituições" Xutos e Stones, não queria deixar de aqui escrever o quanto sempre me irritou a comparação popular que se faz das duas bandas. Do estilo, "os Xutos são os Rolling Stones portugueses".
A comparação não só é de um provincianismo bacoco como se apoia numa ignorância indesculpável.
Seguindo por esse tipo de comparações, seria muito mais correcto denominar os Xutos como "Clash portugueses", por exemplo...
Enfim, quando se trata de elevar heróis nacionais, nós, portugueses, perdemos sempre a noção do contexto e da dimensão. E os Clash, embora artística e historicamente muito mais próximos dos Xutos, não seriam suficientemente grandiosos para a nossa ilusão de grandeza.
Boas Filhote, andei sempre por aqui, entretido, a tentar sacar algum som que se perceba da Rickenbacker...eheh.
Quanto ao Stones/Xutos, penso que a comparação terás mais a ver com a longevidade, e com a própria aproximação do estilo do Zé Pedro ao seu Deus Keith Richards. E de facto os Xutos do início eram mais próximos do estilo dos Clash, especialmente no tempo do Zé Leonel. Mas depois evoluiram noutro sentido.
Quanto ao concerto de Coimbra, foi excelente mesmo, eu tive a sorte de por um mero acaso ficar ao pé daquele palco pequenino onde eles depois foram tocar todos juntinhos, vi ali os Stones a 3 ou 4 m. Penso que tiveram á altura dos Xutos....
Eheheheheh... Kerouac, malandro... mas estás desculpado... quem passa os dias agarrado a uma Rickenbacker merece tudo de bom!
Tens toda a razão, Filhote! Aliás, o Zé Pedro disse-me que era o único dos Xutos que gosta dos Stones. O Tim, por exemplo, é beatlemaníaco...
LT
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