sábado, 13 de setembro de 2008

VICKY E FAUSTO, JUNTOS E AO VIVO


Relativamente à música “Boneco Chorão”, lembrei-me que na altura o sonoplasta do RCH, Rádio Clube do Huambo, era o Carneiro Gomes que agora está, penso eu, na RR. Outro radialista da altura era o Ribeiro Cristóvão, que anda igualmente por aí. Talvez um destes dois possa acrescentar algo, pois acredito que alguém tenha trazido algumas gravações lá do RCH.

Essa história que o Um conta, foi-me igualmente transmitida, num dia em que o Fausto voltou a Nova Lisboa, no ano de 1970, já ele começava a mexer com as coisas aqui, e foi lá, entre outras coisas, convidar-me para me juntar a ele aqui em Lisboa, por sugestão de um tal Manuel Vinhas,(que foi o patrono da vinda do Fausto, que, na época, namorava uma das filhas desse senhor, segundo constava) para nós fazermos uma versão dos Rebeldes, metropolizada.

Na altura eu estava a entrar para a EAMA (Escola de Aplicação Militar de Angola) e recusei o convite, e, como escreveu o Camilo, eu nunca quis vir para a Metrópole, e na altura do festival, só o Fausto é que queria vir. Mas o pai opunha-se, bem como o pai do Tony, por causa dos estudos. Eu, simplesmente, não queria vir. Mas esses "mugimbos" que ouviste foram uma realidade e funcionaram também, como forma de aliviar a frustração, que sobretudo o nosso empresário, Sr. Matos sentiu, motivada pela acção da psico, que realmente nos vitimou.

Quanto á guitarra Burns Black Bison ficou realmente em Angola. Lá ficou não sei nas mãos de quem, mas deixou-me uma saudade imensa. Era um guitarrão e fui eu que em primeira mão a herdei, quando o Fausto veio para cá secar as lágrimas do pastor que chorava.

A missa ié ié que o Camilo fala, foi sobretudo um acontecimento politico-religioso-subversivo que deixou os pides da altura com os cabelos em pé e de olho no pessoal. O Camilo conhece bem a história e foi, de alguma maneira, parte actuante deste acontecimento.

Não deixa de ser irónico observar que o Fausto, que era a trave-mestra de todo esse projecto, juntamente com o Padre, Pinho de seu nome , se bem me lembro, ser já na altura agnóstico praticante, e, politicamente, começara a acordar à esquerda....

Alinhamento e sequência dos temas que tocávamos dos Beatles:

A Hard Day's Night, Boys, I Saw Her Standing There, Yes It Is, If I Fell, Till There Was You, Nowere Man, Oh Darling, I Wanna Hold Your Hand, I Feel Fine, Honey Don't, Twist and Shout.

As músicas iam entrando no nosso reportório à medida que os discos nos chegavam á mão.

Lembro-me que ensáiamos o "Till There Was You" e o "Yes It Is" no comboio, a caminho do Lobito, pois deram-nos o disco no dia anterior e o Fausto tirou a musica e a letra e ensinou-nos as musicas nessa viagem, que durou uma noite e perto de um dia inteiro.

Só depois de as ensaiarmos, é que ouvimos as ditas, num qualquer hotel no Lobito, e fizemos as correcções necessárias, horas antes de as tocarmos ao vivo, no Kalunga de Benguela.

Imaginem o thrill que nós sentíamos e a resposta daquele publico, virgem, ao ouvirem em primeira mão estes temas. Muita daquela gente, nem sabia o que eram os Beatles, mas a musica deles fulminou-os como um raio divino e mudou a vida de muitas almas..... as nossas incluídas.

Sobre a Burns Black Bison, foi construída por um english man de seu nome Jim Burns e obedecia a algumas caracteristicas, sugeridas pelo Hank Marvin, dos Shadows.

Portanto ainda hoje, são instrumentos miticos e únicos, pois eram, nessa época, feitos á mão e sujeitas a um controle de qualidade muito rigoroso.

É engraçado que ainda há pouco fui jantar com um amigo angolano, José Maria Coelho que, sem saber destas escritas, a meio do jantar, me perguntou pela Burns em causa.

Imagina o impacto q essa guitarra causou, quando apareceu em 1964.

Colaboração de Vicky

2 comentários:

Camilo disse...

Vicky,
Antes de mais, esta tua foto é de um simbolismo fantástico.
Nela me revejo, "naqueles tempos"...
O "sonho" comandáva-nos...!
(Apesar de tudo... valeu a pena sonhar. O mal, como diz o nosso Grande Amigo Daniel Bacelar, foi ter-mos nascido aqui...!).
O Manuel Vinhas, era o magnata da massa, tipo "Champolimaud". Era o "patrão" de muitas coisas em grande; da "Cuca", do "Notícia" e da Neográfica, onde eu estava.
O Padre, era o nosso Grande Irmão, o Luís Carlos, práfrentex e vira milho.
Quanto à gravação do "Boneco chorão", não creio que tanto o Carneiro Gomes como o Ribeiro Cristóvão a tenham trazido.
Eles devem ter-se visto aflitos para sair dali com a roupa que tinham vestido, tal o desespero...

Vou dar-te uma dica: aposto que a fita (bobime) ainda está no rés-do-chão do Rádio Clube do Huambo.
Vamos fazer todos os esforços para alguém conhecido, de Nova Lisboa, tratar, "in loco" do assunto... "pessoalmente".
Entretanto, Vicky, vai dando notícias dos teus eventos.
Como me disseste que, ùltimamente, os convites que recebes é para ires a funerais...
Um Abraço, ó meu.

Anónimo disse...

Manuel Vinhas era um milionário e patrono de uma série de gente: Luiz Pacheco, Júlio Pomar, Ary dos Santos e Cesariny e financiou a construção do Teatro Villaret. Era o dono da cerveja Cuca!