"Folk Songs for Children" existem, naturalmente, desde que o povo se meteu a cantar e a história da "Folk Music" está recheada de grandes clássicos. Por exemplo, a grande colectânea "Folk Song", elaborada em 1947 em conjunto por John e Alan Lomax, Charles e Ruth Seeger está subdividida em onze grandes temas, sendo o primeiro deles ("Critters and Chillun'") dedicado a este tipo de música.
E logo na introdução deste capítulo, John e Alan Lomax escrevem uma coisa interessantíssima: "The life of a folk song depends not upon print, but uppon its appeals to children. If the young ones don't like what they hear their old folks singing, those songs will be forgotten".
Canções de embalar, canções alusivas aos animais ou às brincadeiras do dia-a-dia, todas elas integram o repertório clássico da "Folk Music" e todas elas foram compostas e/ou interpretadas pelos grandes cantores clássicos deste tipo de música: Leadbelly, Woody Guthrie, Pete Seeger, Cisco Huston, ...
Curiosamente, muitos dos intérpretes ditos "de intervenção", exploraram este tipo de música. Não creio que o tenham feito com imediatos objectivos de "mobilização das consciências" (tipo "de pequenino é que se torce o destino..."), mas sim naquela óptica de "keeper of the flame" que os Lomax referem no texto que citei.
Fazê-los ver que nunca ninguém está só enquanto tiver uma canção a que possa chamar "sua", e muito menos só estará se a puder cantar em conjunto com outras pessoas...
Woody Guthrie tem um repertório - em grande parte original - de "children's music" que ainda hoje dá para alimentar três ou quatro CDs da editora Folkways. E o mesmo se diga de Pete Seeger.
Mas talvez a intérprete que mais ligada tenha ficado a esta música é a Ella Jenkins. Tem mais de 20 discos para crianças publicados na Editora Folkways e o seu disco de 1966, "I'll Sing a Song", permanece ainda hoje como o disco mais vendido desse catálogo e foi obra obrigatória em muitos programas de ensino nas escolas norte-americanas ditas "de vanguarda".
Em meados dos anos 50, Lee Hays, dos Weavers, e Alain Arkin, dos Tarriers, eram já nomes sonantes do meio da "Folk Music". Nem por isso hesitaram em juntar-se a Jeremy e Doris Kaplan na criação de um novo grupo, a que chamaram The Babysitters, com o exclusivo propósito de gravar música para crianças. A de Woody Guthrie, mas também os outros grandes clássicos.
Já no início dos anos 60, Tom Paxton impor-se-ia como o autor contemporâneo que mais se dedicou a este tipo de música. "Goin' to the Zoo", "The Marvelous Toy", "Jennifer's Rabbit", "Hush-you-Bye" e tantas outras transformaram-se rapidamente, não só em clássicos da música infantil, mas em "standards" da música folk, "tout cout"...
Se me é permitida alguma nostalgia, direi, no entanto, que o disco deste tipo de música que mais me marcou foi o álbum "Peter, Paul and Mommy", que os Peter Paul and Mary publicaram em 1969 na editora Warner Brothers. Anos mais tarde, Peter Yarrow afirmaria que os Babysitters tinham sido uma das principais fontes de inspiração para a gravação deste álbum.
Se conheço todos os outros por "interesse histórico", o "Peter, Paul and Mommy" é o único de que verdadeiramente me lembro na altura em que foi lançado. Eu teria uns 15/16 anos por essa altura, mas lembro-me muito bem do impacto que essas músicas, ouvidas na rádio, exerceram sobre mim.
Penso até, que uma das principais razões porque gosto de "Folk Music" provem desse e doutros discos dos P.P & M., não só por eles, mas pelas portas que me fizeram abrir. Na verdade, quando Bob Dylan fez o seu primeiro disco (1962) eu ia a caminho dos nove anos e nada sabia dele, nem de Guthrie nem de Seeger... Tudo isso veio depois.
Voltando ao disco, é curioso verificar que ele não tem Lado A nem Lado B. Tem o "Zoo Side", dedicado aos animais, e o "Toy Side", dedicado aos brinquedos e às brincadeiras. Há músicas de Tom Paxton em ambos os lados e o resto são autênticas maravilhas adaptadas do cancioneiro tradicional e alguns originais de Peter Yarrow, como é o caso do "Puff, The Magic Dragon", outro clássico imediato e do fabuloso "Day is Done"...
Aos 16 anos eu já não acreditava em lendas e histórias encantadas, mas, se calhar, gostaria de acreditar. Acreditar na Terra do Hannalh Lee e voar pelos mares ao lado do Jackie Paper, na companhia do bom dragão.
E ainda hoje, quando oiço a Mary Travers começar a cantar o "Mockingbird" ("hush little baby, don't say a word...") um turbilhão de memórias me faz voltar 50 anos atrás quando a minha Mãe, nas noites de gripe, me massajava o peito com o creme Vick Vapour Up (não sei se é assim que se escreve, mas é assim que soa...) e me cantava uma ladainha para eu adormecer.
E eu adormecia com o odor bom do creme sob o meu pijama mas, sobretudo, com a sensação doce das mãos da minha Mãe sobre o meu peito...
Vinte e quatro anos depois (1993) os P.P & M. editaram um novo álbum, gravado ao vivo num programa de televisão, a que chamaram "Peter, Paul and Mommy Too".
Embora se deva sempre desconfiar das repetições, esta não dislustra nada. Embora as vozes estejam mais fracas, sobretudo a de Mary Travers, a emoção e a ternura estão todas lá, intactas.
E é comovedor ver Mary a declamar para a sua neta, sentada ao seu colo, o belo poema "Erika", que fez parte do seu primeiro álbum a solo, "a long time ago", então dedicada a sua filha. Do primeiro album só o "Puff" se repete e tudo o resto são agradáveis revisitações de grandes e pequenos clássicos.
Surpresa grande no belíssimo tema "Somos el Barco", e emoção máxima ao ver o Pete Seeger a pôr toda a pequenada a cantar o "We Shall Overcome".
Esta música nunca morrerá. Morrerei eu primeiro, mas espero ainda ir a tempo para pegar no meu neto Francisco pela mão e lhe poder cantar:
And if you take my hand my son, all will be well and the day is done.
Colaboração de Luís Mira
E logo na introdução deste capítulo, John e Alan Lomax escrevem uma coisa interessantíssima: "The life of a folk song depends not upon print, but uppon its appeals to children. If the young ones don't like what they hear their old folks singing, those songs will be forgotten".
Canções de embalar, canções alusivas aos animais ou às brincadeiras do dia-a-dia, todas elas integram o repertório clássico da "Folk Music" e todas elas foram compostas e/ou interpretadas pelos grandes cantores clássicos deste tipo de música: Leadbelly, Woody Guthrie, Pete Seeger, Cisco Huston, ...
Curiosamente, muitos dos intérpretes ditos "de intervenção", exploraram este tipo de música. Não creio que o tenham feito com imediatos objectivos de "mobilização das consciências" (tipo "de pequenino é que se torce o destino..."), mas sim naquela óptica de "keeper of the flame" que os Lomax referem no texto que citei.
Fazê-los ver que nunca ninguém está só enquanto tiver uma canção a que possa chamar "sua", e muito menos só estará se a puder cantar em conjunto com outras pessoas...
Woody Guthrie tem um repertório - em grande parte original - de "children's music" que ainda hoje dá para alimentar três ou quatro CDs da editora Folkways. E o mesmo se diga de Pete Seeger.
Mas talvez a intérprete que mais ligada tenha ficado a esta música é a Ella Jenkins. Tem mais de 20 discos para crianças publicados na Editora Folkways e o seu disco de 1966, "I'll Sing a Song", permanece ainda hoje como o disco mais vendido desse catálogo e foi obra obrigatória em muitos programas de ensino nas escolas norte-americanas ditas "de vanguarda".
Em meados dos anos 50, Lee Hays, dos Weavers, e Alain Arkin, dos Tarriers, eram já nomes sonantes do meio da "Folk Music". Nem por isso hesitaram em juntar-se a Jeremy e Doris Kaplan na criação de um novo grupo, a que chamaram The Babysitters, com o exclusivo propósito de gravar música para crianças. A de Woody Guthrie, mas também os outros grandes clássicos.
Já no início dos anos 60, Tom Paxton impor-se-ia como o autor contemporâneo que mais se dedicou a este tipo de música. "Goin' to the Zoo", "The Marvelous Toy", "Jennifer's Rabbit", "Hush-you-Bye" e tantas outras transformaram-se rapidamente, não só em clássicos da música infantil, mas em "standards" da música folk, "tout cout"...
Se me é permitida alguma nostalgia, direi, no entanto, que o disco deste tipo de música que mais me marcou foi o álbum "Peter, Paul and Mommy", que os Peter Paul and Mary publicaram em 1969 na editora Warner Brothers. Anos mais tarde, Peter Yarrow afirmaria que os Babysitters tinham sido uma das principais fontes de inspiração para a gravação deste álbum.
Se conheço todos os outros por "interesse histórico", o "Peter, Paul and Mommy" é o único de que verdadeiramente me lembro na altura em que foi lançado. Eu teria uns 15/16 anos por essa altura, mas lembro-me muito bem do impacto que essas músicas, ouvidas na rádio, exerceram sobre mim.
Penso até, que uma das principais razões porque gosto de "Folk Music" provem desse e doutros discos dos P.P & M., não só por eles, mas pelas portas que me fizeram abrir. Na verdade, quando Bob Dylan fez o seu primeiro disco (1962) eu ia a caminho dos nove anos e nada sabia dele, nem de Guthrie nem de Seeger... Tudo isso veio depois.
Voltando ao disco, é curioso verificar que ele não tem Lado A nem Lado B. Tem o "Zoo Side", dedicado aos animais, e o "Toy Side", dedicado aos brinquedos e às brincadeiras. Há músicas de Tom Paxton em ambos os lados e o resto são autênticas maravilhas adaptadas do cancioneiro tradicional e alguns originais de Peter Yarrow, como é o caso do "Puff, The Magic Dragon", outro clássico imediato e do fabuloso "Day is Done"...
Aos 16 anos eu já não acreditava em lendas e histórias encantadas, mas, se calhar, gostaria de acreditar. Acreditar na Terra do Hannalh Lee e voar pelos mares ao lado do Jackie Paper, na companhia do bom dragão.
E ainda hoje, quando oiço a Mary Travers começar a cantar o "Mockingbird" ("hush little baby, don't say a word...") um turbilhão de memórias me faz voltar 50 anos atrás quando a minha Mãe, nas noites de gripe, me massajava o peito com o creme Vick Vapour Up (não sei se é assim que se escreve, mas é assim que soa...) e me cantava uma ladainha para eu adormecer.
E eu adormecia com o odor bom do creme sob o meu pijama mas, sobretudo, com a sensação doce das mãos da minha Mãe sobre o meu peito...
Vinte e quatro anos depois (1993) os P.P & M. editaram um novo álbum, gravado ao vivo num programa de televisão, a que chamaram "Peter, Paul and Mommy Too".
Embora se deva sempre desconfiar das repetições, esta não dislustra nada. Embora as vozes estejam mais fracas, sobretudo a de Mary Travers, a emoção e a ternura estão todas lá, intactas.
E é comovedor ver Mary a declamar para a sua neta, sentada ao seu colo, o belo poema "Erika", que fez parte do seu primeiro álbum a solo, "a long time ago", então dedicada a sua filha. Do primeiro album só o "Puff" se repete e tudo o resto são agradáveis revisitações de grandes e pequenos clássicos.
Surpresa grande no belíssimo tema "Somos el Barco", e emoção máxima ao ver o Pete Seeger a pôr toda a pequenada a cantar o "We Shall Overcome".
Esta música nunca morrerá. Morrerei eu primeiro, mas espero ainda ir a tempo para pegar no meu neto Francisco pela mão e lhe poder cantar:
And if you take my hand my son, all will be well and the day is done.
Colaboração de Luís Mira
3 comentários:
Hugo Santos, continuando por aí algures e na impossibilidade de comentar, pede-me para avisar os milhares de visitantes do "Ié-Ié" de que não é o autor de "Folk Song For Childreen". Gostaria muito mas não tem bagagem para tal. É apenas responsável por incentivar um seu amigo a escrever coisas sobre os seus vários conhecimentos de música, mais propriamente "folk music".
"For Little Ones", disco II de "A Gift From A Flower To A Garden" de Donovan Leitch, merece uma citação apesar de Donovan não ser propriamente a minha chávena de chá.
À atenção de Hugo Santos:
Pete Seeger tem novo álbum - At 89.
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