terça-feira, 21 de junho de 2011

QUINTETO E EKOS, JUNTOS E NA GUERRA


Daniel Gouveia, do Quinteto Académico, e Zé Luís, dos Ekos, foram contemporâneos na guerra em Angola, em 1966. O primeiro era alferes miliciano, o segundo, cabo, mas eram sobretudo bons amigos que se tratavam por tu.

O Zé Luís fez a tropa comigo em Angola, na mesma Companhia, nos mesmos sítios, nos mesmos quartéis. Éramos bons amigos, desde as músicas. Chegámos a fazer bailes com os dois conjuntos.

Além disso, nessa Companhia (180 homens) éramos os únicos naturais de Lisboa, o resto era tudo transmontano ou beirão.

Acontece que o Zé Luís, por não ter o 5º ano do liceu completo, era cabo "cripto" (especializado em transmissões em código secreto) e eu, por ter o 7º, era alferes.

Quando o capitão, comandante da Companhia, percebeu que nos tratávamos por tu, admoestou-me, pois os oficiais podiam tratar os cabos por "tu", mas em sentido inverso tinha de ser por "meu alferes" e "vossa senhoria".

O facto de um cabo tratar um alferes por tu era atentatório do RDM (Regulamento de Disciplinar Militar).


Aquilo pareceu-me perfeitamente ridículo (como mais coisas da tropa), já que éramos todos milicianos, ou seja, civis com farda.

Então combinámos entre os dois que o Zé Luís me trataria por "meu alferes" e eu a ele por "você" e pelo apelido. Foi uma machadada no RDM, que não previa a situação e o Zé Luís passou a ser o único cabo da Companhia a ser tratado por você por um oficial.

Estava reposta a igualdade!.

Colaboração de Daniel Gouveia, do Quinteto Académico

1 comentário:

Caínhas disse...

O Daniel foi colega de recruta do Tó Gandara, ex-Guitarras de Fogo, e que entre várias, bandas em que deu uma "perninha", uma delas foi nos DIAMANTES NEGROS, e na Festa que estes então jovens Cadetes deram em Mafra, o Tó Gandara com o patrocínio do Capelão do Quartel de Mafra, levou lá os DIAMANTES, estava eu a cumprir serviço militar na BA2-OTA, e tive direito a um dia de folga, com carro do Exército a ir-me buscar e pôr à unidade, com a inveja estampada no rosto dos meus colegas alunos da FAP.
Ainda me lembro de ter tocado "There's a kind of hush", e Shugar shugar.
Os Cadetes interpretaram uma rábula, da sua autoria em que ali se destacava a imaginação que havia para dar umas tacadas, nos sítios mais apertados.
A tropa não é propriamente um restaurante 5 estrelas, então eles tinham um texto em que, diziam por exemplo, que tinham ido marchar para a tapada de Mafra, e chegaram ao quartel com as meias todas rotas com buracos "como batatas", mais isto mais aquilo, "como batatas", esta frase repetia-se ao longo do texto. Ali colocaram a nu que a comida era batata, o resto era só para dar o gosto.
Um abraço ao Daniel, pessoa que nunca mais vi, desde esse longinquo ano de 1967, e que foi para nós de uma amabilidade imensa.

Caínhas - Baterista dos DIAMANTES NEGROS