sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

VÁVÁ


Av. dos Estados Unidos, 100, Lisboa - 217 966 761

Nos anos 60 e princípios dos 70, o Café Vavá era sede de um certo tipo de tertúlias que, no meio do cizentismo salazarento do Portugal de então, cintilavam de talento, alegria e criatividade.

No Vavá preponderavam, essencialmente, dois grupos: os "cineastas e afins", criadores do "novo cinema", a que se juntavam músicos, escritores, publicitários e artistas, e estudantes que aqueles apelidavam, com fraterno desdém, os "associativos".

No Vavá criava-se, conspirava-se, namorava-se, comia-se (bastante mal...), em suma , vivia-se. Ali nasceram amores, paixões, amizades (tudo eterno, claro).

No Vavá, o convívio era diário e permanente, quase totalitário, começava à hora do almoço e prolongava-se depois do fecho do café noutros locais - o Montecarlo, o Monumental, a Ribadouro ou o Gambrinus, conforme a disposição e as posses financeiras conjunturais.

As "Vavalquírias" eram as claques nos jogos de futebol entre os frequentadores do Vává, crismadas por João César Monteiro.

Eis alguns dos frequentadores do Vává:

Jorge Manuel Veloso, baterista do quarteto do Hot Club, João César Monteiro, realizador de cinema, José Escudeiro, operador de câmara, Fernando Lopes, realizador de cinema, Luís Vilas-Boas, fundador e sócio número 1 do Hot Club de Portugal, pioneiro do jazz, criador do Festival de Cascais, Simão Santiago, então prendado estudante de Direito e futuro águia dos tribunais, Alberto Seixas Santos, realizador de cinema, Carlos Barbeitos, cognominado (por Gérard Castello-Lopes) depois de um jogo de futebol, "o Beria" em virtude de alguma agressividade no desempenho das suas funções de defesa central, Rui Barbosa, estudante de Direito, José Paulo Gascão Nunes, estudante, Nuno Brederode Santos, personalidade de currículo tão brilhante e multifacetado que seria estulto tentar referenciar, o "tio" Fernando Vilhena de Carvalho, Gérard Castello-Lopes, cinéfilo e um dos maiores fotógrafos da sua geração, Jean Pierre Gebler, saxofonista belga do Quarteto Hot Club, Ângelo Sajara, futuro publicitário, Pedro Coelho, então estudante, efémero membro de governos e Cristiano de Freitas, que viria a ter uma longa e brilhante carreira na administração hospitalar e no turismo.

Também o grande actor brasileiro Geraldo d'el Rey, na altura em Portugal para rodar um filme de Paulo Rocha, José Leal Loureiro, que viria a ser um importante editor, José Medeiros Ferreira, homem de Estado, historiador e professor, Fausto Monteiro, então estudante de Direito, José Manuel Picão de Abreu, rugbyman e publicitário, António Dias, futuro diplomata, Armando Trigo de Abreu, professor e investigador que, entre outras coisas, tem no desenvolvimento científico em Portugal um papel central.

(texto, adaptado, de António Dias)

2 comentários:

gps disse...

gosto sobretudo do "estulto" :)

Mutante S.21 disse...

Sítio gasto, caro e que nem consegue preservar o seu próprio património. Se sobreviver a 2014 é um milagre.
Urge um trespasse, para quem saiba o que é (foi) o Vá-Vá e trate a casa como ela merece ser tratada. Já chega de dar corda a bebedolas que comem tudo e não criticam nada.


Agora é mais Fique-Fique (em casa).