COLUMBIA - SLEM 2315
Vou Dar De Beber À Dor – Fadinho Serrano – Meia-Noite E Uma Guitarra – Disse-te Adeus E Morri
Escolheu esta capa de um EP de Amália Rodrigues, não pela Amália em si – de que até gosta – mas pela fotografia da autoria de Augusto Cabrita.
Porque é bom que pessoas como Augusto Cabrita não fiquem no esquecimento.
Por norma é esse o destino dos artistas deste país.
Augusto Cabrita foi um homem de sete instrumentos, como diria o Sérgio Godinho. É dele a maravilhosa fotografia, a preto e branco, de “Belarmino”, filme de Fernando Lopes. Na televisão deixou o seu talento expresso numa série de colaborações só ao alcance de eleitos.
Concretamente, num programa de Luis de Freitas Branco, “Melomania”, e também o seu trabalho para a série “Vamos Jogar no Totobola". Com textos de Brandão Lucas.
Curiosamente, a propósito de um desses programas, o que foi transmitido na noite de 24 de Abril de 1974, Alice Vieira, na crítica publicada nas diversas edições do “Diário Popular” do dia seguinte, escrevia que num qualquer tempo futuro, Augusto Cabrita, ou alguém por ele, deveria reunir os melhores filmes das emissões “Vamos Jogar no Totobola”.
O Augusto Cabrita, que nos deixou em 1 de Fevereiro de 1993, não o fez e, supõe-se, que muito dificilmente alguém o fará. São daquelas coisas que não dão dinheiro…
Esteve uma única vez com Augusto Cabrita. Conversava à mesa da “Orion”, uma pastelaria no alto da Calçada do Combro, e quem o acompanhava conhecia o Augusto Cabrita e chamou-o para um café. Lembra a humildade sedutora, o fascínio daquele homem simples e de discurso claro, para quem os outros é que são importantes. Como ele, apenas se lembra de um outro mestre: Carlos Paredes.
Não resiste a reproduzir o que Dinis Machado, seu cunhado, escreveu no catálogo de uma sua exposição em Dezembro de 1986:
Talvez se possa definir o Augusto Cabrita (no que existe nele de definível) como um ser humano onde se combinam, com uma felicidade extremamente rara, a truculência, a generosidade e a arte do trabalho.
Absorve a vida como se lhe fosse pouca – e depois distribui-a, caminheiro, pelas mãos dos outros. Gosta muito de quem gosta (como se tivesse o culto do excesso) e aprende, olhando em cada novo olhar, repleto e substituído, a qualidade e a largueza de vistas que o levaram, com o tempo, a construir o seu opulento (e humilde) universo de imagens eternas.
Cheio do prazer de admirar (uma forma de benesse para aqueles que sabem confessar a grandeza possível dos outros), este homem situado de antenas visuais e de coração caleidoscópio, mestre de fotógrafos e narrador de amigos, lida com as dificuldades para se levantar sobre elas – mesmo que seja o arame farpado do grande sofrimento.
Num dia em que trocámos citações (como às vezes fazemos) ao ouvi-lo falar, no limiar da sensibilidade, do burlesco geométrico de Chaplin, disse-lhe que ele teve um destino à Le Corbusier: “Estás condenado a ver".
Acrescento nesta página para que a ideia seja mais esclarecedora: a sentir, a compreender e a revelar".
Colaboração de Gin-Tonic
Vou Dar De Beber À Dor – Fadinho Serrano – Meia-Noite E Uma Guitarra – Disse-te Adeus E Morri
Escolheu esta capa de um EP de Amália Rodrigues, não pela Amália em si – de que até gosta – mas pela fotografia da autoria de Augusto Cabrita.
Porque é bom que pessoas como Augusto Cabrita não fiquem no esquecimento.
Por norma é esse o destino dos artistas deste país.
Augusto Cabrita foi um homem de sete instrumentos, como diria o Sérgio Godinho. É dele a maravilhosa fotografia, a preto e branco, de “Belarmino”, filme de Fernando Lopes. Na televisão deixou o seu talento expresso numa série de colaborações só ao alcance de eleitos.
Concretamente, num programa de Luis de Freitas Branco, “Melomania”, e também o seu trabalho para a série “Vamos Jogar no Totobola". Com textos de Brandão Lucas.
Curiosamente, a propósito de um desses programas, o que foi transmitido na noite de 24 de Abril de 1974, Alice Vieira, na crítica publicada nas diversas edições do “Diário Popular” do dia seguinte, escrevia que num qualquer tempo futuro, Augusto Cabrita, ou alguém por ele, deveria reunir os melhores filmes das emissões “Vamos Jogar no Totobola”.
O Augusto Cabrita, que nos deixou em 1 de Fevereiro de 1993, não o fez e, supõe-se, que muito dificilmente alguém o fará. São daquelas coisas que não dão dinheiro…
Esteve uma única vez com Augusto Cabrita. Conversava à mesa da “Orion”, uma pastelaria no alto da Calçada do Combro, e quem o acompanhava conhecia o Augusto Cabrita e chamou-o para um café. Lembra a humildade sedutora, o fascínio daquele homem simples e de discurso claro, para quem os outros é que são importantes. Como ele, apenas se lembra de um outro mestre: Carlos Paredes.
Não resiste a reproduzir o que Dinis Machado, seu cunhado, escreveu no catálogo de uma sua exposição em Dezembro de 1986:
Talvez se possa definir o Augusto Cabrita (no que existe nele de definível) como um ser humano onde se combinam, com uma felicidade extremamente rara, a truculência, a generosidade e a arte do trabalho.
Absorve a vida como se lhe fosse pouca – e depois distribui-a, caminheiro, pelas mãos dos outros. Gosta muito de quem gosta (como se tivesse o culto do excesso) e aprende, olhando em cada novo olhar, repleto e substituído, a qualidade e a largueza de vistas que o levaram, com o tempo, a construir o seu opulento (e humilde) universo de imagens eternas.
Cheio do prazer de admirar (uma forma de benesse para aqueles que sabem confessar a grandeza possível dos outros), este homem situado de antenas visuais e de coração caleidoscópio, mestre de fotógrafos e narrador de amigos, lida com as dificuldades para se levantar sobre elas – mesmo que seja o arame farpado do grande sofrimento.
Num dia em que trocámos citações (como às vezes fazemos) ao ouvi-lo falar, no limiar da sensibilidade, do burlesco geométrico de Chaplin, disse-lhe que ele teve um destino à Le Corbusier: “Estás condenado a ver".
Acrescento nesta página para que a ideia seja mais esclarecedora: a sentir, a compreender e a revelar".
Colaboração de Gin-Tonic
20 comentários:
A capa tem um grosseiro erro de ortografia.
Lamentável a todos os títulos.
E o disco não é produto de uma qualquer editora de vão de escada, bem pelo contrário. Desconhece se o erro foi emendado em futuras edições do disco.
Vou ser honesto, Gin-Tonic: reconheço-lhe talento, bem expresso em alguns exemplos que citas. Mas reconhecendo-o, devo dizer-te que, apesar de um nome incontornável da fotografia portuguesa do séc. XX, acho o seu trabalho foi sempre relativamente sobre-avaliado - e tu sabes bem das razões pq o foi. Há na minha afirmação, claro, tb uma questão de gosto pessoal, a que não consigo eximir-me.
Outro assunto mais prosaico: vais à bola amanhã? Lá estarei!
Amigo Gin-Tonic, esse programa da RTP, "Melomania", era da autoria de Augusto Cabrita e João de Freitas Branco, e não de Luiz de Freitas Branco.
Luiz de Freitas Branco, compositor, pai do citado João, faleceu em 1955.
Apesar do anterior reparo, gostei muito do texto. Como sempre. E gostei muito de relembrar a pastelaria Orion, por onde parei bastante quando morava da Rua do Século e estudava no Conservatório.
E, JC e Gin-Tonic, como eu gostava de ir amanhã à bola com vocês... ai, senhores!
Texto com um erro mais que grosseiro grosseiro no texto. Diria mais: inadmissivel.
Obrigado pela rectificação, Filhote. E nem o facto de no Google, estar, como autor do programa, Luiz em vez de João, o inibe de se chamar a si próprio os nomes que, patadas na poça como esta, exigem.
Caro JC: o gosto pessoal entende a sobreavaliação nem tanto. Teríamos que pensar o mesmo de Eduardo Gajeiro, por exemplo. Se bem que a comparação seja um pouco forçada. O busilis da questão é esse diabo da palavra neo-realismo e nem as imensas discussões à volta do mesmo impede que os rótulos apareçam. Acresce que não é, de modo algum, um entendido, ou estudioso de fotografia, apenas alguém que, primitivamente coloca o olhar sobre a fotografia no gostar ou não gostar.
O camarada Gin-Tonic estará "apardalado" e eu acho que é por causa do Benfica. Está nervoso!
E até já me perguntou pelos 40 anos da Lua que só se completam amanhã!!!!
LT
Quanto ao Glorioso já marcou encontro com Kerouac nas roulotes do Alto dos Moínhos para uma sandocha de coirato. Mr. Ié-Ié, após a fiscalização às obras da Jaime da Silva Filho, também aparecerá, não para o jogo, mas para uns fininhos.
Luís Mira, anti-benfiquista militante, disse há pouco que, se o Glorioso perder, abre garrafa de espunante.
Ainda não percebi onde entro, mas também levo garrafa de espumante e vou celebrar com o Luís Mira!
LT
Mas, Gin-Tonic, o Gajeiro não lhe chega aos calcanhares.
Estarei no sector 20, fila D, nº 9. 3º piso inferior.
Ai o caraças!!! Estes benfiquistas estão mesmo nervosos!
Gageiro!!!!
LT
E... será que o Luís Mira...
TERÁ ESPUMANTE QUE CHEGUE?!!!
Gageiro, claro. Mas o McCarthy foi propositado (private joke).
Estão a falar de fotografia?
JC de acordo, reportagem é uma coisa, fotografia é outra!!!!
E sei do que falo, como devem calcular, conheci-os todos!
Razões de profissão :-)
De facto, o erro na capa foi corrigido: o meu exemplar tem "à" e não "á".
Só hoje vi e li este "post" do Gin Tonic, pelo que a minha resposta já chegará, certamente, fora do tempo.
Mas não posso deixar de ficar sensibilizado ao ver tanta "boa gente" disposta a emborcar um golito de espumante à pala de uma derrota do benfica...
Mas vou ter de os desiludir, porque cá por casa não há festa em dias de jogos a pevides. Tanto mais que, na chamada pré-época, eu gosto é que os corações dos benfiquistas se encham de esperanças... De ver, lado a lado, aquelas três gerações de sofredores (avô, pai e filhos, se possível..) com cachecois ao pescoço, bonezinhos da cabeça, pinturas nas faces, prontos a enviar a viola no saco ao primeiro empate na primeira jornada frente ao primeiro Leixões que lhes apareça à frente... Esse é que é o verdadeiro gozo do verdadeiro anti-benfiquista, e não o joguito da apresentação da equipa aos magníficos sócios...!
http://puraterylenevirgem.blogspot.com/2009/02/amalia-rodrigues_19.html
nesta tem o erro corrigido
que tal uma etiqueta com "fotografos/fotografias"
Ponhamos as coisas (o erro do acento grave da capa) nestes termos:
SE A PROVA DA CAPA TIVESSE IDO À COMISSÃO DE CENSURA,(como era obrigatório)...
tal erro NUNCA teria acontecido!!!
(ora toma!!!)
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