Maxi 45 rpm, distribuído com a 1ª edição de "Ser Solidário" - 1982
Gravado ao vivo no Teatro Aberto em 1 de Maio de 1981, mistura de José Manuel Fortes em Fevereiro de 1982.
Produzido por José Mário Branco e Trindade Santos.
Por indicação do autor: expressamente proíbida a audição pública deste disco, parcial ou total.
Deixo-vos sentidamente com estas palavras, elas valem o dia:
...
O FMI, o FMI é só um pretexto vosso, seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...
Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe?
Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viagem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe...
Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
4 comentários:
Os homens da luta...contra o shampoo, a gillete e o pente!
Disco de charneira! Brilhante!
Nesse dia estive lá.
E há dias que nunca se esquecem.
O único problema, é que hoje, olho à minha volta e dá-me vontade de chorar....de raiva!
Questões ideológicas e históricas à parte e escutado tantos anos depois, FMI não perdeu - estranhamente - nenhuma da sua pujança poética e rítmica e - paradoxalmente - nenhuma da sua actualidade.
É uma obra de arte, da poesia, da declamação, da música, do "stand-up tragedy", da ironia, da politica, da critica de costumes, da irreverencia jovem, da indignação e contestação sociais.
Um grito dilacerante de revolta vociferado pelo mais genial músico da sua ínclita geração e que após uma definição catártica visceral do que (também)era ser-se português nessa época termina dizendo de forma simples e humilde:
"Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto..."
Palavras para quê? Um dos nossos maiores artistas.
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