Fess Parker não deixou, propriamente, grandes recordações na "História do Cinema". Quase sempre papéis secundários numa vintena de filmes, dos quais os mais conhecidos para os "cinéfilos" talvez tenham sido "No Room For the Groom", de Douglas Sirk (1952) e "Thunder Over the Plains", de André de Toth (1953).
A excepção a esta regra foi o enorme sucesso que teve em três filmes produzidos pela Walt Disney na segunda metade dos anos 50, nos quais interpretava a lendária figura de David Crockett. Ontem como hoje, esses filmes tiveram um enorme sucesso junto da miudagem e Fess Parker tem, por via isso, lugar garantido no panteão das "Disney Legends". Mais tarde, já em meados dos anos 60, Parker teve também grande sucesso na televisão, sobretudo à custa da série Daniel Boone, que também me lembro de ter visto na minha meninice.
Mas se Fess Parker não foi um grande actor, foi um empresário de grande visão e sucesso. Na verdade, foi um dos primeiros a imaginar as enormes potencialidades da região de Santa Inez Valley para a produção de vinhos e também um dos primeiros a aí adquirir grandes extensões de terra para o cultivo da vinha. Hoje, a "Santa Barbara County", que é a grande região vinícola onde se integra Santa Inez Valley, luta lado a lado com Napa Valley pela fama da melhor produção da Califórnia. E um filme como o relativamente recente "Sideways", em boa parte lá rodado, tem feito muito pela divulgação do Pinot Noir...
Visitei a enorme quinta de Fess Parker, que também é "vedeta" no "Sideways". A par dos vinhos e azeites, os chapéus "à David Crocket" são um dos objectos mais procurados. Estive quase para comprar um para o meu neto Francisco, mas dei comigo a pensar: de que é que isto lhe vai servir, ele que nunca saberá na vida o que são "Índios" e "Cowboys"? E, mesmo que eu lhe conte como era, se ele me perguntar se há disso na Playstation, o que é que eu lhe irei responder? Não comprei. E, como é habitual em mim, arrependi-me no segundo imediato. Era uma excelente maneira de receber os meus Amigos em casa, numa noite que não fosse muito escaldante...
Mas Parker não se limitou a produzir e a vender vinho de boa qualidade. Abriu também, há muitos anos, um excelente restaurante no lugar de Los Olivos, que se chama "Marcella" e onde também almocei. E reparei que esse restaurante tem uma particularidade: um belíssimo jardim/terraço onde exibem filmes nas noites de Verão, num ciclo a que chamaram "Film Noir Fridays". Nada má a programação que se anunciava para as semanas seguintes: "The Big Sleep", "To Have and Have Not", "Breakfast at Tiffany's", "Citizen Kane", "Sullivan's Travels" e "It Happened One Night". Mas convenhamos que é um conceito demasiado generoso de "Film Noir"...!
Fiquei a pensar comigo próprio que bom que seria poder lá ficar aprovar os vinhos de Parker pela noite fora, com um bom charuto, enquanto passava um desses filmes, se possível o "To Have and Have Not". E depois, enquanto mandava mais uma bafurada de fumo pelo ar, dizer ao ouvido da minha parceira do lado, já um bocadinho"entornado": "If you want something, just whistle...You know how to whistle, don' t you?. Just put your lips together and blow...". Com a vantagem de não se ter o frio da esplanada da Cinemateca!
Colaboração de Luís Mira
A excepção a esta regra foi o enorme sucesso que teve em três filmes produzidos pela Walt Disney na segunda metade dos anos 50, nos quais interpretava a lendária figura de David Crockett. Ontem como hoje, esses filmes tiveram um enorme sucesso junto da miudagem e Fess Parker tem, por via isso, lugar garantido no panteão das "Disney Legends". Mais tarde, já em meados dos anos 60, Parker teve também grande sucesso na televisão, sobretudo à custa da série Daniel Boone, que também me lembro de ter visto na minha meninice.
Mas se Fess Parker não foi um grande actor, foi um empresário de grande visão e sucesso. Na verdade, foi um dos primeiros a imaginar as enormes potencialidades da região de Santa Inez Valley para a produção de vinhos e também um dos primeiros a aí adquirir grandes extensões de terra para o cultivo da vinha. Hoje, a "Santa Barbara County", que é a grande região vinícola onde se integra Santa Inez Valley, luta lado a lado com Napa Valley pela fama da melhor produção da Califórnia. E um filme como o relativamente recente "Sideways", em boa parte lá rodado, tem feito muito pela divulgação do Pinot Noir...
Visitei a enorme quinta de Fess Parker, que também é "vedeta" no "Sideways". A par dos vinhos e azeites, os chapéus "à David Crocket" são um dos objectos mais procurados. Estive quase para comprar um para o meu neto Francisco, mas dei comigo a pensar: de que é que isto lhe vai servir, ele que nunca saberá na vida o que são "Índios" e "Cowboys"? E, mesmo que eu lhe conte como era, se ele me perguntar se há disso na Playstation, o que é que eu lhe irei responder? Não comprei. E, como é habitual em mim, arrependi-me no segundo imediato. Era uma excelente maneira de receber os meus Amigos em casa, numa noite que não fosse muito escaldante...
Mas Parker não se limitou a produzir e a vender vinho de boa qualidade. Abriu também, há muitos anos, um excelente restaurante no lugar de Los Olivos, que se chama "Marcella" e onde também almocei. E reparei que esse restaurante tem uma particularidade: um belíssimo jardim/terraço onde exibem filmes nas noites de Verão, num ciclo a que chamaram "Film Noir Fridays". Nada má a programação que se anunciava para as semanas seguintes: "The Big Sleep", "To Have and Have Not", "Breakfast at Tiffany's", "Citizen Kane", "Sullivan's Travels" e "It Happened One Night". Mas convenhamos que é um conceito demasiado generoso de "Film Noir"...!
Fiquei a pensar comigo próprio que bom que seria poder lá ficar aprovar os vinhos de Parker pela noite fora, com um bom charuto, enquanto passava um desses filmes, se possível o "To Have and Have Not". E depois, enquanto mandava mais uma bafurada de fumo pelo ar, dizer ao ouvido da minha parceira do lado, já um bocadinho"entornado": "If you want something, just whistle...You know how to whistle, don' t you?. Just put your lips together and blow...". Com a vantagem de não se ter o frio da esplanada da Cinemateca!
Colaboração de Luís Mira
12 comentários:
Luis
Mas que interessante apontamento sobre o FESS PARKER e o seu David Crocket e Daniel Boone.
Na realidade o homem era o que se chama "um canastrão"mas confesso que fêz as delicias da minha juventude,e é com alguma saudade que por vezes vejo alguns daqueles (inocentes e cheios de moral) episódios que a nossa "RTP MEMÓRIA" nos oferece.
Entretanto agradecia que me enviasses para dbacelar@gmail.com o teu endereço de e-mail para te poder enviar as fotos do jantar.
Já pedi ao Hugo mas não deve ter visto ainda...
E como eu era fã do Daniel Boone...
Belo texto!
Pois, Luís, mas parece que a Pinot Noir é mesmo uma casta complicada. A minha experiência c/ ela é mtº limitada (os bons Borgonha custam os olhos da cara) e consta (dizem) que fora do "terroir" de origem nunca consegue ser bem a mesma coisa. Por cá, a Casa Cadaval tem (ou tinha?) um razoável, nos últimos anos, depois de lhe terem retirado o excesso de madeira dos iniciais. Era um pouco contra-natura face as estes vinhos da moda cheios de cor, fruta e corpo. Ficou-me na memória a garrafa que bebi com um "roastbeef" - ou rósbife, à portuguesa. O Carlos Campolargo, da Bairrada, tb vai fazendo umas experiências. Quando for rico, no outro mundo, dedicar-me-ei aos Pinot! Que tal são os da Califórnia?
Mas a cena memorável do "Sideways" é a do Chateau Cheval Blanc com um hamburger num qualquer "fast food".
Abraço
Peço desculpa pelo atraso nas respostas, mas só agora tive oportunidade de me voltar a sentar defronte do PC.
Assim, e por ordem de entrada:
Daniel,
Vou enviar o endereço já de seguida. Sou um nabo nestas coisas, e terei de ficar à espera que a Cristina ponha as nossas fotografias no computador, para vos poder retribuir.
Aproveito para te colocar uma questão "técnica", já que não tive oportunidade de o fazer na 6ª feira: há já uns anos atrás lembro-me de ter visto numa revista ("Mojo", salvo o erro...) um disco do Ricky Nelson dos anos 70colocado entre os 30 melhores da Country Music. Achei estranho, tanto mais que a selecção geral me parecia bem equilibrada e "informada"... Essa revista, entretanto, levou sumiço, e não faço ideia de que disco seja... Sendo tu um especialista do "Colorado Ryan", tens alguma ideia do que possa ser? Deixo também a questão à "comunidade bloguista"...
Filhote,
A nossa conversa sobre Dylan ficou a meio, e não gosto nada de deixar conversas a meio... Quando vim cá a última vez, no Domingo de manhã, o texto sobre o Denver tinha desaparecido. O nosso "Editor" substitui-nos pelo Cid e pelo 25 de Abril (excelente mistura, por sinal...!). Agora já sei que há uma maneira de recuperar textos antigos, mas, na altura, não sabia. Já que, na ocasião e por falta de tempo, pura e simplesmente não respondi ao seu último comentário ( o que até é indelicado...), ainda vai a tempo...?
JC
Tenho tido a sorte de poder aproveitar viagens profissionais, sobretudo em França, para comer e beber bem, à custa dos outros! Lembro-me de ter bebido excelentes Pinot Noir, e foi até, numa dessas magníficas refeições, que fiquei a saber o que isso era, tal a minha ignorância na matéria...!
Eu tenho uma apreciação muito "impressionista" dos vinhos, e tenho, até, a perfeita sensação de que o mesmo vinho me sabe de maneira diferente em função do contexto (lugares, companhias, circunstâncias, disposição geral, etc.).
Na California bebi vários Pinot Noir (quase sempre a copo, claro está, para não rebentar com o orçamento!). Por coinidência, tomei nota do que melhor me soube: chama-se "Lucia" e é produzido no Vale de Salinas, na "Lucia Vineyards & Wenery". Não era excessivamente frutado e, ao pôr-do-Sol, tinha uma cor maravilhosa. Mas coloco a questão a mim próprio: esse prazer veio só do vinho, ou do facto de o estar a beber no "Nephente", em circunstâncias praticamente irrepetíveis...?! Se o estivesse a beber na "Adega da Tia Matilde", teria a mesma sensação...?
Um Abraço a todos
Claro que o mesmo vinho pode mtº bem saber de maneiras diferentes consoante essas coisas todas. É normal e já tive variadas experiências dessas. E ainda em função do que se come, da temperatura (ambiente e do vinho) e dos diferentes modos como esteve guardado. E, e, e... etc.
Os bons Pinot nunca são mtº frutados e até têm por vezes um certo sabor a... terra. Mas, como disse, e infelizmente, a minha experiência c/ Pinots é insuficiente.
Pois, tb não me parece que a elegância característica de um Pinot vá mtº bem c/ o estilo de comida da Tia Matilde, sem qualquer menosprezo para esta. Simplesmente, requer outro estilo de vinhos.
Obrigado pela "dica". Tentarei uma garrafa na 1ª oportunidade.
Filhote: O Brasil começa a ter um ou outro vinho interessante! E a Argentina e o Chile têm mtº bons vinhos! Toca a experimentar!
Abraço
Luís Mira, ainda vai a tempo!
JC, costumo beber "tintos" do Chile. Como o Santa Helena Reserva. Gosto bastante. Já agora, pode aconselhar-me algum em especial?
Conheço poucos. Como produtores, Los Vascos e Torres (já bebi alguns de ambos)costumam ter bons vinhos a preços "honestos". Nunca bebi nada da Viña Santa Helena, mas tenho boas referências aqui pelos livros, que confirmam o que diz. Ah, e há os Almaviva, mas, acho, só se quiser gastar mais de 50€ por garrafa!!! Da Argentina bebo c/ alguma frequência os Finca Flinchman, da portuguesa Sogrape e que por isso se encontram por aqui c/ alguma facilidade (Amoreiras). Monocastas Cabernet, Malbec (tintos) e Chardonay (branco), que me lembre mas talvez haja mais um ou outro. Excelente relação preço/qualidade, já que custam entre 5 e 10 € e são vinhos bem feitos. Curiosamente, dos chamados vinhos do "Novo Mundo" os que por aqui aparecem mais são os australianos. Alguns (Penfolds, p. ex.) excelentes, diga-se, a preços mtº razoáveis.
Abraço
Caro Filhote,
Vamos, então, tentar retomar a conversa onde a deixámos...
Para mim o dinamismo destes blogs é estimulante, mas tem um inconveniente: muitos comentários, muitas respostas, por vezes sobre assuntos diferentes, o que nos faz perder com facilidade o fio à meada... Não dei conta, por isso, que vocé se referia, exclusivamente, ao segundo LP do Dylan ("The Freewheelin'n Bob Dylan" - 1963), e não ao primeiro.
(por curiosidade, um dos livros que tenho entre mãos para começar a ler chama-se "A Freewheelin' Time - A Memoir of Greenwich Village in the Sixties", é a autobiografia de Suze Rotolo e tem na sua capa uma fotografia tirada poucos segundos antes ou poucos segundos depois da fotografia que é a capa do disco...)
Pois não espere de mim coragem para "deitar abaixo" uma "Vaca Sagrada" como "The Freewheelin'...".
Mas, curiosamente, esse disco tem já em si os germes do "oportunismo" e dos "artificios" que hão-de marcar a carreira de Dylan. Não o podemos condenar por isso, mas Dylan começa por aproveitar a fama que lhe adveio do sucesso de interpretações alheias do "Blowin' in the Wind": primeiro a dos "New World Singers"; depois a dos P.P.& Mary, que teve uma enorme visibilidade por ocasião da "Marcha sobre Washington". Mas nunca se comentou muito que essa mesma canção não é totalmente "original", porque a sua linha melódica se baseia numa velha "black folk song" que se chama "No More Auction Block". Tal como a melodia e a ideia de base para o texto de "A Hard Rain's a- gonna Fall" se baseiam em "Lord Randall", uma velha balada inglesa ... E "Masters of War" e "Bob Dylan's Dream" se baseiam, igualmente, em antigas canções britânicas. E uma canção como "Farewell", "escrita" mais ou menos na mesma altura e que foi um grande sucesso no terceiro LP da Judy Collins, não é mais do que um plágio do tradicional "Leaving of Liverpool", que Dylan pode muito bem ter ouvido na versão dos "Corrie Folk Trio", que foi editada pela "Elektra"... E por aí fora...
Outro exemplo da "verticalidade" de Dylan (e já não falo do que ele fez à pobre da Joan Baez...): Dylan declara nas suas "Chronicles, Vol 1" que decidiu abandonar a interpretação dos velhos clássicos da Folk americana e começar a compor as suas próprias canções quando uma vez ouviu Mike Seeger (que recentemente passou por Lisboa...) e chegou à conclusão de que jamais conseguiria ser tão bom como ele na interpretação dessas canções.
Pergunto eu agora: Mike Seeger e os seus amigos, a solo ou em grupos como o "New Lost City Ramblers" lutaram sempre com enormes dificuldades para levar avante a sua difusão da "Old Time Music". Dylan fez alguma coisa para ajudá-los? Gritou aos sete ventos, na altura, o bom que era Mike Seeger? Uma ova! Escreve-o agora, quase 50 anos depois...
Diz vocé que "os fins justificam os meios". Não estou de acordo e é isso que nos separa. De Dylan aprecio muitos traços da Obra, mas não aprecio o Homem... Decidi, por isso mesmo, nunca o ir ver nas (salvo erro...) duas vezes que passou por Lisboa
Outra coisa que me irrita é a maneira como Dylan, com o seu "sucesso fabricado" e tal como sucede com algumas árvores e plantas, conseguiu secar tudo quanto estivesse à sua volta. Diz vocé que Dylan era original como não havia outro... E, por exemplo, Peter La Farge...? Havia outro a compôr e a interpretar como ele?
E porque razão as mesmas pessoas que dizem que o "Last Night I Had The Strangeast Dream", do Ed McCurdy, o "Universal Soldier", da Buffy Sainte-Marie, o "I Ain't Marching Anymore", do Phil Ochs ou o "My Son John" do Tom Paxton são demasiado "óbvias" e "panfletárias" ficam extasiadas perante o "Masters Of War", que ninguém sabe muito bem o que quer dizer... Talvez os outros incomodassem muito mais o "Sistema" do que Dylan alguma vez o fez ou quis, em boa verdade, fazer...
Um Abraço!
Mais uma vez, Luís Mira, tudo o que escreve é verdade. Parcialmente verdade.
Posso concordar com todas as suas ideias sobre Dylan, excepto com aquela em que revela não "apreciar o Homem"...
Sejamos justos, onde reside a verdade de todas as estórias que lemos e ouvimos? Ou seja, defendo sempre que para avaliarmos uma pessoa, temos de a conhecer. Bem, de preferência. E presumo que, tal como eu, infelizmente, o Luís também não conhece pessoalmente o senhor Robert Zimmermann. Como sabe, testemunhos de terceiros e os chamados "mitos urbanos" são muitas vezes expressados com ressentimento ou inveja...
Enfim, embora esse seu argumento nos separe um pouco, aceito-o como possiblidade.
Quanto ao "Freewheelin'", a canção que mais mexe comigo e melhor define, para mim, o talento de Dylan será sempre "Don't Think Twice It's Alright"... transcendente!
O resto é uma questão de gosto.
Neste momento, estou a ouvir "Blood on the Tracks". E, sinceramente, lembro-me de poucos LPs tão emocionalmente profundos como este. Denso e sofrido no limite do suportável. Que voz, que canções!
Grande abraço (e obrigado pelas fotos!)
Ah, Luís Mira, já me esquecia!
Infelizmente, ainda não li o livro da Rotolo e nem sequer o encontrei à venda por aqui. Depois, diga-me de sua justiça. Se vale a pena, se está bem estruturado, bem escrito, etc, etc, etc...
Que texto é que "desapareceu"? Aqui não desaparece nada, pode é mudar de sítio...
LT
POis é ´pessoal qual não foi minha surpresa e porque não minha tristeza ao ler que Fess Parker ( o eterno Daniel Boone ) faleceu hoje 18/03/2010 ) aos 85 anos. Resta nos a lembrança, e assistir aqueles episodios inocentes que já não existem mais.
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