Their Satanic Majesties Request, 40 anos depois
Their Satanic Majesties Request é um disco maldito.
Em Dezembro de 1967, quando o álbum foi dado a ouvir ao mundo, uma terrível maldição catalogou-o como pálida resposta a Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, aclamada obra dos Beatles editada uns meses antes. E os Rolling Stones foram acusados de todas as desgraças da humanidade.
Condenou-se o capricho de uma capa psicadélica em 3-D de produção caríssima, milhares de horas de estúdio consumidas em LSD, e o desvio da crueza e frontalidade de Satisfaction ou Get Off Of My Cloud a favor de uma aparente falta de direcção musical.
O crítico-historiador Nik Cohn sentenciou o fim dos Stones, considerando a obra das coisas mais maçudas da História do Rock, e o próprio Keith Richards, anos mais tarde, referiu-se ao LP como "a load of crap".
Obviamente, tratou-se de uma condenação injusta. Enquanto Sgt. Pepper’s foi a banda sonora da cultura Hippie, do movimento Peace and Love, e do Verão do Amor californiano, esbanjando optimismo, cor, e perfeição musical, Their Satanic, em todo o seu esplendor caótico, assinalou oportunamente o início da ressaca de uma época também ela com o seu quê de decepcionante.
Verdade seja dita, o disco é uma verdadeira carta fora do baralho no rico e extenso historial discográfico dos Rolling Stones. E se Aftermath (1966) e Between The Buttons (1967), tal como os singles Paint It Black ou Have You Seen Your Mother Baby Standing In The Shadow, já indiciavam uma viragem para um universo sonoro mais Pop-experimental-ou-psicadélico e eminentemente britânico, Their Satanic revela-nos uns Stones que nunca mais tivemos a oportunidade de ouvir. Uns Stones perdidos no tempo. Uns Stones do outro mundo.
Gravado durante o famigerado annus horribilis da banda, de prisões por posse de droga e outros fait-divers traumáticos, Their Satanic registou para a posteridade uma excelente colecção de canções pseudo-cósmicas, ornamentadas por melodias e arranjos absolutamente brilhantes.
A música americana, fonte do som original da banda, está completamente ausente do disco, porém, é impossível escapar ao apelo futurista de 2000 Light Years From Home, The Lantern, Gomper, ou 2000 Man.
Depois, o disco ainda inclui a rara, e bem sucedida, incursão de Bill Wyman na composição e interpretação vocal, In Another Land, e a barroca orquestração de John Paul Jones – futuro membro dos Led Zeppelin –, no clássico She’s a Rainbow.
Hoje, podemos constatar como em 67 os Stones estavam bem mais próximos das visões vanguardistas de Syd Barrett do que das viagens místicas dos Beatles. Aliás, não será por acaso que Their Satanic é considerado o álbum psicadélido que mais influenciou os Punks, Pós-Punks, Góticos, Indies e afins. Citadel, uma das canções seminais do album, soa como um anúncio das décadas seguintes!
Para os Vinyl Junkies como eu, aconselho sempre que oiçam a versão original mono do disco, na sua versão americana (London) ou inglesa (Decca). Certos sons tornam-se surpreendentemente presentes, e o som geral do disco apresenta-se notoriamente mais denso.
Quanto ao objecto em si, é maravilhoso. Dos mais desejados no submundo do vinil. Segundo a bíblia da Record Collector, o Rare Record Price Guide, existe uma edição promocional do LP (Decca TXL/TXS 103 – 1967) cuja capa é forrada a seda. Nunca vi tal Pedra de Roseta, mas pagaria para ver. As cópias são avaliadas por uma quantia tão obscena que me escuso de revelar.
Entretanto, na foto de Michael Cooper em 3-D é possível decifrar por entre a vegetação, aos pés da banda, as cabeças dos Fab Four. E ao abrir-se a capa em dois, descobre-se uma interessante profusão de elementos cujo motivo central é um labirinto que não vai dar a lado nenhum.
Sou fã do Their Satanic desde os 13 anos de idade. Comprei a minha primeira cópia na Compasso de Campo de Ourique. Era uma pobre reedição portuguesa desprovida do esplendor da foto em 3-D. Somente anos depois, numa discoteca madrilena junto à Gran Via, experimentei a suprema felicidade de adquirir uma cópia original.
Para sempre gravada na minha memória estará a noite de 10 de Junho de 1990 quando a Urban Jungle Tour passou por Lisboa. Foi a primeira vez dos Stones em Portugal. E não imaginam o meu espanto ao ouvir 2000 Light Years From Home ao vivo, no palco de Alvalade. Também a minha adolescência foi resgatada naquele instante.
Their Satanic Majesties Request está de parabéns. Sobreviveu 40 anos. Tal como eu próprio. E enquanto a minha vida for conduzida por discos assim, a felicidade não terá fim. Mesmo que seja apenas por um momento. Satânico, claro…
Pedro de Freitas Branco, Rio de Janeiro
Their Satanic Majesties Request é um disco maldito.
Em Dezembro de 1967, quando o álbum foi dado a ouvir ao mundo, uma terrível maldição catalogou-o como pálida resposta a Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, aclamada obra dos Beatles editada uns meses antes. E os Rolling Stones foram acusados de todas as desgraças da humanidade.
Condenou-se o capricho de uma capa psicadélica em 3-D de produção caríssima, milhares de horas de estúdio consumidas em LSD, e o desvio da crueza e frontalidade de Satisfaction ou Get Off Of My Cloud a favor de uma aparente falta de direcção musical.
O crítico-historiador Nik Cohn sentenciou o fim dos Stones, considerando a obra das coisas mais maçudas da História do Rock, e o próprio Keith Richards, anos mais tarde, referiu-se ao LP como "a load of crap".
Obviamente, tratou-se de uma condenação injusta. Enquanto Sgt. Pepper’s foi a banda sonora da cultura Hippie, do movimento Peace and Love, e do Verão do Amor californiano, esbanjando optimismo, cor, e perfeição musical, Their Satanic, em todo o seu esplendor caótico, assinalou oportunamente o início da ressaca de uma época também ela com o seu quê de decepcionante.
Verdade seja dita, o disco é uma verdadeira carta fora do baralho no rico e extenso historial discográfico dos Rolling Stones. E se Aftermath (1966) e Between The Buttons (1967), tal como os singles Paint It Black ou Have You Seen Your Mother Baby Standing In The Shadow, já indiciavam uma viragem para um universo sonoro mais Pop-experimental-ou-psicadélico e eminentemente britânico, Their Satanic revela-nos uns Stones que nunca mais tivemos a oportunidade de ouvir. Uns Stones perdidos no tempo. Uns Stones do outro mundo.
Gravado durante o famigerado annus horribilis da banda, de prisões por posse de droga e outros fait-divers traumáticos, Their Satanic registou para a posteridade uma excelente colecção de canções pseudo-cósmicas, ornamentadas por melodias e arranjos absolutamente brilhantes.
A música americana, fonte do som original da banda, está completamente ausente do disco, porém, é impossível escapar ao apelo futurista de 2000 Light Years From Home, The Lantern, Gomper, ou 2000 Man.
Depois, o disco ainda inclui a rara, e bem sucedida, incursão de Bill Wyman na composição e interpretação vocal, In Another Land, e a barroca orquestração de John Paul Jones – futuro membro dos Led Zeppelin –, no clássico She’s a Rainbow.
Hoje, podemos constatar como em 67 os Stones estavam bem mais próximos das visões vanguardistas de Syd Barrett do que das viagens místicas dos Beatles. Aliás, não será por acaso que Their Satanic é considerado o álbum psicadélido que mais influenciou os Punks, Pós-Punks, Góticos, Indies e afins. Citadel, uma das canções seminais do album, soa como um anúncio das décadas seguintes!
Para os Vinyl Junkies como eu, aconselho sempre que oiçam a versão original mono do disco, na sua versão americana (London) ou inglesa (Decca). Certos sons tornam-se surpreendentemente presentes, e o som geral do disco apresenta-se notoriamente mais denso.
Quanto ao objecto em si, é maravilhoso. Dos mais desejados no submundo do vinil. Segundo a bíblia da Record Collector, o Rare Record Price Guide, existe uma edição promocional do LP (Decca TXL/TXS 103 – 1967) cuja capa é forrada a seda. Nunca vi tal Pedra de Roseta, mas pagaria para ver. As cópias são avaliadas por uma quantia tão obscena que me escuso de revelar.
Entretanto, na foto de Michael Cooper em 3-D é possível decifrar por entre a vegetação, aos pés da banda, as cabeças dos Fab Four. E ao abrir-se a capa em dois, descobre-se uma interessante profusão de elementos cujo motivo central é um labirinto que não vai dar a lado nenhum.
Sou fã do Their Satanic desde os 13 anos de idade. Comprei a minha primeira cópia na Compasso de Campo de Ourique. Era uma pobre reedição portuguesa desprovida do esplendor da foto em 3-D. Somente anos depois, numa discoteca madrilena junto à Gran Via, experimentei a suprema felicidade de adquirir uma cópia original.
Para sempre gravada na minha memória estará a noite de 10 de Junho de 1990 quando a Urban Jungle Tour passou por Lisboa. Foi a primeira vez dos Stones em Portugal. E não imaginam o meu espanto ao ouvir 2000 Light Years From Home ao vivo, no palco de Alvalade. Também a minha adolescência foi resgatada naquele instante.
Their Satanic Majesties Request está de parabéns. Sobreviveu 40 anos. Tal como eu próprio. E enquanto a minha vida for conduzida por discos assim, a felicidade não terá fim. Mesmo que seja apenas por um momento. Satânico, claro…
Pedro de Freitas Branco, Rio de Janeiro
1 comentário:
É um dos meus discos favoritos!!!
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