Meus queridos amigos:
Já antes de 1974, tanto os músicos profissionais como a rapaziada dos "conjuntos" (hoje bandas) tinham imensas dificuldades económicas, pois os instrumentos eram caríssimos, sobretudo para nós, simples estudantes, com pouco dinheiro, algum dele ganho em qualquer "bailarico" de liceu ou esporádica actuação.
Comprar uma Fender ou uma Burns era um sonho impossível, contentando-nos nós com uma guitarra Eko, bem popular naquela altura.
No entanto, havia uma casa de instrumentos musicais na rua de S. José (em Lisboa) que era uma espécie de Santuário para todos nós, a CASA GOUVEIA MACHADO.
Digo Santuário, pois António Gouveia Machado, seu proprietário, estava sempre pronto com o seu habitual sorriso a facilitar a vida à "malta" e a vender o tão ambicionado material musical a prestações "a perder de vista".
Era o amigo da "malta" e, muitas vezes, confidente das nossas pequenas frustrações de jovens cheios de sonhos, que, claro, 98% das vezes, nunca se realizaram devido à pequenez do nosso meio musical (já naquela altura era assim!!).
Gostaria de o relembrar, pois em 1974 já me encontrava afastado destas lides musicais e a minha vida há muito que tinha seguido outros voos, por acaso relacionados com a aviação.
Mas vim a saber que, tempos após o 25 de Abril de 1974, o nosso amigo SR. GOUVEIA MACHADO (como era conhecido entre nós) viu-se obrigado a fechar o seu estabelecimento e a rumar ao Brasil.
Desconheço as razões que o obrigaram a fazer isso, mas uma coisa senti quando tive conhecimento do facto: uma enorme saudade e montes de recordações de amenas "cavaqueiras" com o nosso AMIGO.
Junto podem ver uma fotografia tirada quando da visita dos Shadows à sua loja, (quando da inesquecível actuação do Cliff Richard e dos Shadows no Cinema Império, em Lisboa - dias 11 e 12 de Dezembro de 1965 - nota do editor), pois era o representante das guitarras Fender e Burns para Portugal, marca dos instrumentos que, como toda a gente sabe, eram a imagem de marca dos Shadows.
Pode-se ver da esquerda para a direita, John Rostill (Shadows, viola-baixo), Brian Bennett (Shadows, bateria), António Gouveia Machado (e o seu característico sorriso), este vosso criado (com um "ar apardalado", tal a emoção do encontro), Hank Marvin (Shadows, viola-solo, e os seus característicos óculos), e dois fãs e frequentadores da casa.
Caro ANTÓNIO GOUVEIA MACHADO, onde quer que se encontre, um grande "MUITO OBRIGADO" em meu nome e no de toda uma geração que foi musicalmente feliz devido à sua compreensão e a um grande coração.
BEM HAJA!
Daniel Bacelar
PS - Agradecia que se alguém tiver paciência para ler isto e ainda se lembrar destes tempos, deixasse aqui o seu testemunho, pois pessoas como ANTÓNIO GOUVEIA MACHADO infelizmente, hoje.... já não há!
Já antes de 1974, tanto os músicos profissionais como a rapaziada dos "conjuntos" (hoje bandas) tinham imensas dificuldades económicas, pois os instrumentos eram caríssimos, sobretudo para nós, simples estudantes, com pouco dinheiro, algum dele ganho em qualquer "bailarico" de liceu ou esporádica actuação.
Comprar uma Fender ou uma Burns era um sonho impossível, contentando-nos nós com uma guitarra Eko, bem popular naquela altura.
No entanto, havia uma casa de instrumentos musicais na rua de S. José (em Lisboa) que era uma espécie de Santuário para todos nós, a CASA GOUVEIA MACHADO.
Digo Santuário, pois António Gouveia Machado, seu proprietário, estava sempre pronto com o seu habitual sorriso a facilitar a vida à "malta" e a vender o tão ambicionado material musical a prestações "a perder de vista".
Era o amigo da "malta" e, muitas vezes, confidente das nossas pequenas frustrações de jovens cheios de sonhos, que, claro, 98% das vezes, nunca se realizaram devido à pequenez do nosso meio musical (já naquela altura era assim!!).
Gostaria de o relembrar, pois em 1974 já me encontrava afastado destas lides musicais e a minha vida há muito que tinha seguido outros voos, por acaso relacionados com a aviação.
Mas vim a saber que, tempos após o 25 de Abril de 1974, o nosso amigo SR. GOUVEIA MACHADO (como era conhecido entre nós) viu-se obrigado a fechar o seu estabelecimento e a rumar ao Brasil.
Desconheço as razões que o obrigaram a fazer isso, mas uma coisa senti quando tive conhecimento do facto: uma enorme saudade e montes de recordações de amenas "cavaqueiras" com o nosso AMIGO.
Junto podem ver uma fotografia tirada quando da visita dos Shadows à sua loja, (quando da inesquecível actuação do Cliff Richard e dos Shadows no Cinema Império, em Lisboa - dias 11 e 12 de Dezembro de 1965 - nota do editor), pois era o representante das guitarras Fender e Burns para Portugal, marca dos instrumentos que, como toda a gente sabe, eram a imagem de marca dos Shadows.
Pode-se ver da esquerda para a direita, John Rostill (Shadows, viola-baixo), Brian Bennett (Shadows, bateria), António Gouveia Machado (e o seu característico sorriso), este vosso criado (com um "ar apardalado", tal a emoção do encontro), Hank Marvin (Shadows, viola-solo, e os seus característicos óculos), e dois fãs e frequentadores da casa.
Caro ANTÓNIO GOUVEIA MACHADO, onde quer que se encontre, um grande "MUITO OBRIGADO" em meu nome e no de toda uma geração que foi musicalmente feliz devido à sua compreensão e a um grande coração.
BEM HAJA!
Daniel Bacelar
PS - Agradecia que se alguém tiver paciência para ler isto e ainda se lembrar destes tempos, deixasse aqui o seu testemunho, pois pessoas como ANTÓNIO GOUVEIA MACHADO infelizmente, hoje.... já não há!
11 comentários:
Confesso que foi com uma làgrimazita no canto do olho que editei esta bela homenagem de Daniel Bacelar a Gouveia Machado.
Por um lado, cumpre-se um dos objectivos deste blog que é o de trazer até aqui relatos na primeira pessoa, dos protagonistas, fazer circular a informação e estabelecer pontes de comunicação entre todos os interessados.
Por outro, como já aqui escrevi, não me posso esquecer que o meu Pai dava assistência na Gouveia Machado e por isso também sinto este texto de Daniel Bacelar como uma homenagem ao meu Pai.
Obrigado, Daniel! É uma honra e um privilégio acolher este tributo.
LT
(quase me apetecia assinar com o meu nome verdadeiro)
pois eu conhecer conhecer o sr Gouveia Machado nao posso dizer que sim; mas que lá ia frequentemente comprar discos, com desconto porque um familiar meu prestava assistência lá, em material electrico, sobretudo rádios, gravadores de bobinas, etc.
e lembro-me de muitas vezes ouvir nalta dos conjuntos a tocar nos instrumentos que estavam por lá e numa sobreloja..
faço minhas as palavras do Titá.....
Bonita e importante homenagem, Daniel.
Volto aqui a escrever que também eu guardo comigo um pouco da casa Gouveia Machado... herdei do meu pai a Fender Telecaster vermelha (ano de fabrico: Dez.1962) que agora agita as noites cariocas. Igualzinha à do saudoso Muddy Waters!
Obviamente, não frequentei a Casa Gouveia Machado, pelo menos que me lembre, mas toda essa história repetiu-se um pouco na Diapasão da av. João XXI do amigo João Salgueiro.
Também a Diapasão fechou as portas...
A Casa Gouveia Machado era um paraíso. Os catálogos que editava regularmente fizeram sonhar toda uma geração. Para os que, como eu, tiveram a sorte de poder lá ir regularmente experimentar instrumentos ou pura e simplesmente estar com malta das bandas (ou candidata a..., era um deslumbramento permanente.
Além disso, Gouveia Machado era um Senhor!
quantos gravadores ericsson passaram lá por casa para serem esventrados e arranjados; a paga era em descontos nos discos e nos albuns para os mesmos...
Vivam,
Nessa época, com 16 anos e ainda na Figueira da Foz, eu devorava os catálogos (a preto e branco) que mandava vir da Casa Gouveia Machado. Nessa altura tinha uma EKO azul (plástico a imitar madrepérola) de 4 "vibradores" e 6 teclas, e sonhava com uma Burns ou Fender (quase impossível devido ao preço).
Passado pouco tempo, e após algumas conversas telefónicas com o "Sr. Gouveia Machado" (era assim que se chamava, de facto) consegui convencê-lo a falar com a minha mãe e explicar-lhe os "benefícios" de comprar uma Fender Telecaster para o filho (eu) que estava a formar um conjunto musical.
Pacientemente, concordou, e ainda hoje me recordo da sensação de ternura e agradecimento que tive para com o Sr. Gouveia Machado, quando, passados cerca de 2 meses, fui buscar a guitarra à estação da C.P.
Bem haja.
Passado uma eternidade descobri este comentário ao Sr. Gouveia Machado pelo grande Daniel Bacelar .Não poderei estar mais de acordo só poderei dizer isto .
Litó ( Fanatic´s )
Caro Maurício,
estava a formar uma banda?
Chegou a existir?
Quando... nasceu?
Que nome(s) teve?
Agradeço se puder contribuir.
:)
Claro, isto vem a propósito do Mostrai-vos.
:)
Tudo o que aqui está relembra-me as histórias que o meu avô me contava acerca do Sr. Gouveia Machado foi lá que o meu avô adquiriu a sua Fender Stratocaster de 64, esta guitarra foi para iniciar a banda Diamantes Negros infelizmente ele não ficou na banda, mas anos depois comprou a mesma guitarra a banda, o meu avô tocou nos Aztekas, nos Flinstones, Pokeres e Impacto 6 era o Sr. Robustiano Alves, hoje guardo a guitarra dele com imensa ternura bem haja a todos obrigado por este blog
Ainda não ouvimos falar desses conjuntos. Mais alguma informação sobre eles, caro Tiago?
:)
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