quarta-feira, 11 de maio de 2011

OS SEARCHERS FORAM OS PRIMEIROS

Os Searchers terão sido os primeiros ié-iés ingleses a tocar em Portugal, no Teatro Monumental, em Lisboa, nos dias 02 e 03 de Novembro de 1965. Fizeram duas sessões por data, às 16 e às 18H30. Curiosos aqueles tempos.

Os anúncios então publicados nos jornais nacionais proclamavam os Searchers como um dos mais famosos "pop" grupos ingleses.

O cardápio incluia os Satins (também ingleses, mas que chegaram a gravar em Portugal, com Fernando Conde, por exemplo, ) e ainda os portugueses Dakotas, Sheiks e Ekos. Apresentação a cargo do distinto locutor da rádio e da televisão Fialho Gouveia.

A iniciativa foi de Vasco Morgado que etiquetou os Searchers como uma das mais caras e discutidas atracções do mundo do espectáculo em rigoroso exclusivo.

Como reagiu a Imprensa da época a esta estreia?

Sem qualquer histeria. Aliás foram muito poucos os jornais que a ela se referiram.

"O Século", no próprio dia 02 de Novembro, mesmo antes dos concertos, titula: em actuação verdadeiramente sensacional Lisboa recebe hoje, no palco do Monumental, um dos mais famosos grupos de ritmos modernos em todo o Mundo, os discutidos The Searchers.

Respigo alguns parágrafos da notícia:

Tudo começou em Liverpool, com o nascimento dos Beatles (...) A celebridade, porém, só elegeu um escasso número de conjuntos e, entre estes, The Searchers, que Vasco Morgado trás ao Monumental, para alegria e entusiasmo do enorme público ié-ié que respira em Lisboa e seus arredores.

Os rapazes chegaram ontem à tarde ao Aeroporto da Portela, cabelos compridos (é a regra), vestuário excêntrico (idem) e vivacidade a rodos.

Rodeados de admiradores portugueses que os acolheram no aeroporto, The Searchers declararam estar encantados com a recepção e o sol, acrescentando que vão dar todo o seu melhor rendimento, pois é seu desejo conquistar o jovem público de Lisboa.


No dia seguinte, o mesmo jornal titula: Aplausos delirantes (e bem merecidos) para The Searchers, mas o periódico prefere dar conta (com fotografia) do choque eléctrico que Joka Santos, dos Ekos, apanhou ao tocar num microfone. Por isso, os Ekos só tocaram na matinée das 16 horas.

O "Diário de Notícias", por seu turno, dá algum destaque à apresentação dos Searchers: "Boys" sem cabeleiras (com aspecto lavado, mas também, como os Beatles, naturais de Liverpool) entusiasmaram o público - é o título da desenvolvida notícia.

O jornal também dá conta da descarga eléctrica, mas refere erradamente que foi sobre um dos membros dos Dakotas e não sobre Joka Santos, dos Ekos.

Legenda de uma fotografia: ainda que com maior moderação do que noutras latitudes, a juventude portuguesa não deixa de reagir entusiasticamente ao "virtuosismo" dos músicos ié-ié como o provou ontem na sala em que se exibiam The Searchers.

Legenda de outra foto: cabelos fartos e desgrenhados, uma guitarra dedilhada com furor e eis a imagem do sucesso traduzido em dinheiro.

Cito uma passagem da notícia:

Toda a sala do Monumental, em perfeito descontrolo musical, acompanhou os heróis de Liverpool, também cidade natal dos Beatles. Quatro rosas de ouro na Inglaterra e actuações em todas as capitais do Mundo, onde provocaram delírio e parangonas nos jornais, The Searchers, uma das mais caras e famosas atracções do music-hall internacional, empolgaram o público que ontem acorreu àquela sala de espectáculos, especialmente para seguir a sua actuação.

Todo o Monumental dançou e cantou com eles. Interpretaram 15 números, alguns dos quais acompanhados com palmas pela assistência. Delírio e mais delírio foi a nota sensacional deste extraordinário espectáculo de música yé-yé ontem realizado em duas sessões na ampla sala do Saldanha.

Menos famosos do que os seus irmãos Beatles, The Searchers possuem no entanto maior veia interpretativa e maior conjunto. De aspecto lavado e nada guedelhudos, o conjunto ofereceu ao público da capital a mais convincente e espectacular exibição de música moderna que Lisboa até aos dias de hoje presenciou. Um êxito que perdurará na memória de quantos acorreram ontem ao Monumental.

8 comentários:

Queirosiano disse...

Belos espectáculos de descoberta que foram, de facto.

E, a propósito, há uma magnífica caixa dos Searchers para sair, e que está bloqueada há quase um ano por causa da titularidade dos direitos de dois EPs que eles gravaram para a Liberty. Chegaram a sair críticas na Mojo e na Record Collector, mas o lançamento acabou por ser adiado sine die.

Uma pena, porque a colectânea consegue ser mais completa que a (aliás excelente) da Sequel, que já tem uns bons anos.

beto disse...

Lembro-me de um velho blitz que falava de um grupo inglês que esteve cá e não sei se associava o tele-romance "Chuva Na Areia". Eram os Searchers?

ié-ié disse...

Já estou com água pela boca pela caixa dos Searchers, uma das minhas bandas de eleição.

Entretanto, acaba de sair uma dos Hollies com as gravações da EMI. Já vem a caminho, mas ver como está...

LT

Queirosiano disse...

Acho-a boa, mas com algumas coisas já muito datadas. Continuo a pensar que "The Long Road Home" é superior porque a selecção foi mais criteriosa, e tem gravações ao vivo de várias épocas, bem interessantes. E do ponto de vista da apresentação, não se comparam.

filhote disse...

Nem consigo imaginar a emoção de ver os Searchers ao vivo em 1965... ah, senhores!

Grande banda!

Jack Kerouac disse...

Filhote, e imagina que te conseguias transportar para aquela plateia e ver de uma assentada, Searchers, Sheiks e Ekos...dos Dakotas não faço ideia se eram bons.

Anónimo disse...

Os Dakotas, lembro-me terem sido dos primeiros grupos a actuar no Palco do Monumental, no Concurso Yé Yé, de t-shirt à pirata, listadas de azul e branco.
Tinham bons músicos, como o baterista Zé da Cadela, e o actual baixista Zé Nabo, que por essa altura salvo erro era guitarra solo.
Tinham um vocalista também bom, chamado Paulino.
Não foram longe como DAKOTAS, mas como sabem, são "GENTE COM VISIBILIDADE" na música em Portugal.

ié-ié disse...

A informação que tenho é a de que os Dakotas, de Almada, participaram no Concurso Yé-Yé com Luís Manuel Forra (viola-solo), José Rodrigues (viola-baixo), José Eduardo Cardoso (baterista), Rogério Gonçalves (viola-ritmo) Luís Paulino (voz).

LT