quarta-feira, 6 de novembro de 2013

25 DE ABRIL: MFA - AUTOCRÍTICA E RECONSTRUÇÃO


Exemplar nº 8, assinado por Otelo Saraiva de Carvalho, de um documento de 72 páginas do Gabinete de Dinamização do Exército, do Estado-Maior do Exército (GDE/EME), que propõe a transformação do Exército regular português em Exército do Povo/Exército Popular.

A proposta viria a ser chumbada no Conselho da Revolução depois de ter sido divulgada pela agência ANOP.

15 comentários:

JC disse...

Que susto!

José disse...

Foi por um triz. Agora estaríamos a lidar com imagens descobertas nas obras do metro ( ainda se andariam a fazer) do falecido herói, Álvaro Cunhal...

José disse...

Para antecipar a defesa da pancada que aí vem, aqui fica para reflexão e sem intuito de ofender seja quem for ( a democracia é para isto, para se poder dizer livremente o que entendemos por certo):

Em 1974, antes do 25 de Abril tínhamos estabilidade do escudo que era das moedas mais fortes da Europa e do mundo. Tínhamos um PIB que já se desencolvia para não nos envergonhar na Europa. Tínhamos poupanças no Tesouro de 800 milhões de toneladas de ouro.Tínhamos um crescimento anual do PIB de cerca de 8 a 10% ( e fora maior nos antes anteriores). Tínhamos as contas públicas completamente controladas e não devíamos as penas aos pássaros como agora.

E tínhamos uma guerra que os socialistas chamam de "colonial" e que diziam que se não a tivéssemos éramos um país rico como os europeus ( não invento porque já demonstrei isso aqui com documentos de época- uma entrevista de Cunhal, de 1972 e um escrito de Mário Soares)

Não tínhamos liberdade para a Esquerda comunista andar a pregar o socialismo. Isso não tínhamos.

Será que precisamos tanto assim dessa liberdade?

Então lá vai: por causa dessa liberdade e desse socialismo, em dois anos ( em 1976)todos aqueles factores se inverteram. Todos os números vieram por ali abaixo e ficamos na dependência do estrangeiro.
Em 1977 tínhamos o FMI e pedíamos de chapéu na mão que nos dessem de comer ( dinheiro para tal); em 1983 idem aspas. E agora é o que se vê.

Alguém contesta estes factos simples e claros?

José disse...

O "demonstrei isso aqui" não é aqui, mas noutro lado. Copiei o comentário...

ié-ié disse...

Precisamos desta liberdade, José, para poderes escrever o que escreves.

E isso não é pouco...

abração!

LT

josé disse...

Esta liberdade e a outra, limitada, permitiam escrever o que escrevo. O que aquela, limitada, não permitia era escrever sobre as maravilhas dos amanhãs a cantar, caro companheiro...

E já agora, perdíamos alguma coisa com o que sabemos agora?

Anónimo disse...

Ao longo da sua história Portugal passou sempre por grandes crises e nem o monopólio do comércio marítimo das rotas da especiarias ou as minas de ouro do Brasil lograram alcançar conforto duradouro ou lançar numa rota de desenvolvimento sustentado, tendo carecido quase sempre de apoio externo para resolver militar ou financeiramente as suas crises. Os exemplos são muitos.

O montante máximo de ouro atingido no Banco de Portugal não foram 800 milhões de toneladas ( antes fosse, por que assim não teríamos problema algum ), mas sim um peso próximo das 800 toneladas, ainda assim um dos maiores tesouros de ouro em bancos emissores de moeda.

A crise por que passa hoje Portugal não é alheia à crise por que passam parceiros europeus e o norte-americano, este último ainda recentemente à beira de um “shutdown” perante um tecto de divida momumental, para não falar no Japão cuja dívida é superior a 200% do PIB. A própria Alemanha cresce economicamente na ordem das décimas não permitindo que seu mercado interno alavanque um crescimento europeu, já que o mundo ocidendal embarcou num processo de globalização e desindustrialização norteado pela exploração de mão de obra quase escrava dos países emergentes.

Sendo certo que que se cometeram muitos excessos ao longo desta terceira república, IMHO tudo poderia ter sido diferente se Portugal se tivesse aberto economica e democraticamente logo após a II Guerra Mundial, cavalgando a onda do Plano Marshall ao invés do isolacionismo a que se remeteu, ao mesmo tempo que teria folga para constituir uma sociedade civil e autónoma forte nas ex-colónias aproximando-as do modelo da Commonwealth o que lhe poderia potenciar uma evolução sem grandes rupturas ou dramatismo e um crescimento muito mais sólido do que o fugaz crescimento nos idos se setentas, justamente fruto de uma ténue abertura do regime, a que se chamou “primavera marcelista” ainda assim fortemente condicionado por leis de condicionamento industrial, momento em que já se sentia que o regime estava pôdre, vindo então a cair como uma folha seca e proporcionando, em dialectico contraste, todos os excessos que se lhe seguiriam.

JR

josé disse...

Caro JR:

A menção aos 800 milhões de toneladas é um lapso, como facilmente se compreende.

Agora, a questão do nosso isolamento durante os anos 50 e 60 pode ter sido algo de controverso, mas não vou tão atrás no tempo.

Reporto-me a 24 de Abril de 1974, nem preciso de ir aos anos sessenta.
E comparo com o que se passava dois anos depois.
Repare-se: deixáramos de ter a tal "guerra colonial" e que para Cunhal, em 1972 (entrevista publicada já depois do 25 de Abril no jornal O Raio, da Covilhã e que o programa Página Um considerou ser um dos melhores em 1974, salvo o erro) era o óbice mais importante ao nosso desenvolvimento porque gastávamos muito perto de 40% do Orçamento.

Tivemos a economia toda nacionalizada nos sectores fundamentais, incluindo toda a banca e seguros e era o Estado quem orientava o investimento e o desenvolvimento, a partir de Março de 1975, praticamente.

E que fizemos com essas duas vantagens ( do ponto de vista socialista e comunista)?

Uma bancarrota à vista em 1976, data da nossa actual Constituição que se esqueceu de proibir tal coisa ( bastava consagrar a regra de ouro do equilíbrio orçamental).

Que tal estes factos?

Anónimo disse...

Caro José

Os extremos tocam-se e forças contrárias atraem-se.

Como sabemos, saímos em 1974 de um extremo autoritário isolacionista, sem liberdades cívicas e individuais e já temporalmente desfasado que quase ia proporcionando, no contexto da guerra fria e como contrapondo dialéctico, um noutro extremo idêntico mas de sinal contrário, também este temporalmente desfasado uma vez que já tinha mostrado a sua real face com a visita dos tanques a Praga e Budapeste, Arthur Koestler já tinha escrito “O Zero e o Infinito”, para não falar nas denúncias dos crimes estalinistas efectuadas pelos próprios camaradas, facto este que remonta a 1956 e marca o início de uma viragem reformista na inteligência política europeia cuja primavera só viria os seus dias com a queda do muro de Berlim, já só em 1989.

Se é verdade que a orgia de nacionalizações e expropriações ocorrida no PREC não trouxe grandes vantagens do ponto de vista económico, antes pelo contrário, também é verdade que este capitalismo selvagem e desregulado a que se hoje se assiste, galopando uma globalização e desindustrialização dos países ocidentais, apostado em tirar partido da exploração de mão de obra quase escrava dos países emergentes, assente numa economia de casino de transacções não reais, esmagadormente financeiras e especulativas, titulada por lixo tóxico operado por mecanismos informáticos e algoritmos matemáticos que poucos dominam, alimentada pela febre “yuppie” e crença quase religiosa numa “mão invisível” que tudo resolve, onde a banca de investimento e especulativa se conubia com a banca das poupanças e seguradoras, estas a produzir em títulos o milagre de tornar lucrativa a falência ou o incumprimento assim como operações de bolsa em que se permitem lucrativos “short selling” apostando na queda etc. etc., tudo isto visando o lucro fácil e imediato sem correspondência alguma com um produto real, este agora situado no extremo oriente onde a inovação tecnológica aponta para a automação e robotização e consequente desemprego tecnológico, leva-me a recear que se está a preparar mais um ovo da serpente de consequências imprevisíveis e muito para além do que a queda em 2008 já demonstrou, continuando a grassar ( e desgraçar).

Que venha o diabo e escolha.
JR

josé disse...

JR:

Basicamente estamos de acordo. Falta apenas evidenciar que o " extremo autoritário isolacionista, sem liberdades cívicas e individuais e já temporalmente desfasado" de 1973 foi arredado, para sempre porque a água não passa duas vezes por baixo da mesma ponte.

Quanto ao "extremo autoritário isolacionista, sem liberdades cívicas e individuais e já temporalmente desfasado" que ainda perdura, o problema é que temos demasiada complacência com esse extremo e ainda exultamos ( é um modo de dizer que os media exultam) com os seus heróis mortos, como Álvaro Cunhal.

Esse é o problema porque não se equacionam esses dois extremos do mesmo modo e aceita-se que este último não é assim tão extremo. E é.

josé disse...

Um, o de 1973, é vilipendiado diariamente nos media pelos herdeiros ideológicos do outro que durante estas dezenas de anos continuam a jurar que não são do tal "extremo autoritário isolacionista, sem liberdades cívicas e individuais e já temporalmente desfasado". E são.

Tem todos os media ao dispor, sindicatos como correia de transmissão, manifestações de massas e "abaixo a troika" todos os dias.

Onde a coerência, então?

Anónimo disse...

Caro José

O regime cessante em 1974 durou mais de quarenta anos, aliás o consulado de Salazar figurava no Guiness Book of Records como o consulado mais duradouro de sempre, partilhando com D. Afonso Henriques o do reinado mais longo, deixando aquele profundas marcas na maneira de ser portuguesa, muitas delas negativas .

Como referi, deveria ter havido uma inversão logo a seguir à II Guerra Mundial e só não houve porque a guerra civil espanhola tinha deixado marcas suficientes na península o que levou levaram os aliados vencedores a tolerarem os regimes de Franco e Salazar que aliás mantiveram uma neutralidade colaborante também com aqueles, além dos nazis.

O regime ou personalidade que diz ser tão exaltado pelos media não chegou a implantar-se, pois, como sabemos, o PREC terminou logo no 24 de Novembro de 1975.

Isto faz toda a diferença porque, para além das efémeras embora profundas medidas económicas e políticas do Gonçalvismo, é difícil traçar um perfil do que seria um regime autoritário chefiado por Cunhal já na segunda metade dos setentas ,já depois da crise dos mísseis cubanos e em plena “détante” Brejneviana, aliás, o 24 de Novembro 1975 é também feito contra vanguardas revolucionárias que a linha cunhalista situava como aventureirismo ou doença infantil do comunismo, e convirá não esquecer que em nesse mesmo ano, 1975, são celebrados os Acordos de Hensínquia que resultaram da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa (CSCE) com a importante consequência que, em Moscovo ou no Ocidente, já nada seria como dantes, posta que foi a tónica nos direitos humanos.

Mas sobre o tema estão aí, entre outras, as biografias de Pacheco Pereira e a mais recente de José Milhazes que certamente darão uma imagem mais detalhada que notícias esparsas e exaltadas dos media.

JR

josé disse...

"O regime ou personalidade que diz ser tão exaltado pelos media não chegou a implantar-se, pois, como sabemos, o PREC terminou logo no 24 de Novembro de 1975."

Claro que não, mas os frutos do ano e meio de loucura colectiva ainda se pagam hoje e quem a promoveu é tratado como democrata quando o não é e os heróis dessa loucura são exaltados quando o não deviam ser. E mais: o sistema que propunham é exactamente o mesmo que hoje propôem. Basta ler ( e eu leio ) O Militante.
Explico o porquê daqueles frutos envenenados terem estragado a economia do país, para todo o sempre, no meu ponto de vista:

Em 1973 Portugal tinha uma economia assente na iniciativa privada com capitais próprios e muito elevados. A CUF por exemplo e os capitalistas tipo Champallimaud eram melhores do que hoje a Autoeuropa que ninguém contesta como "monopolistas" ( e são-no, na perspectiva comunista).

Os comunistas e socialistas, com a displicência do PPD/PSD e CDS da época aprovaram um sistema económico que ficou na Constituição: iamos a caminho da sociedade sem classes. Ficou lá escrito até 1989!

A nacionalização dos sectores chave da economia, com o afastamento lógico dos capitalistas monopolistas ( os tais que agora nos fariam muita falta se investissem, mas estão noutros sectores...)criou um sistema económico em Portugal distorcido em relação ao que existia em 1973 e que me parecia mais saudável. É preciso lembrar que nessa altura se pensava em fabricar em Portugal o Alfasud, da AlfaRomeu, um projecto certamente melhor que o da Autoeuropa. A Espanha fez isso, com outras marcas ( Volkswagen-Seat).

Em Julho de 1974 um grupo de "capitalistas monopolistas" propuseram ao Estado de então ( Palma Carlos e II Governo Provisório) um investimento de 120 milhões de contos. Conta o Sempre Fixe da época ( que tenho e publiquei recortes a prová-lo) que os políticos de então não quiseram tal investimento por vir daquele capitalistas e lhes oferecere dúvidas sobre as intenções dos mesmos. Está-se mesmo a ver a estupidez e ao mesmo tempo a lógica comunista que a sustentou.

Portanto, com o desmantelar do capitalismo tal como o tínhamos ( e não compor a tese de que eram uns protegidos porque todos os países protegem o seu capitalismo mesmo hoje) ficamos sem nada. E demoramos mais de dez anos s recompor um sistema capitalista que não tem alternativa.
E quando se recompôs já não era como fora nem poderia ser. Os capiutalistas que voltaram ( Champallimaud) fizeram-no ressabiados e desconfiados, investiram em quase nada, venderam os bancos a estrangeiros ( Totta Santander) e os grandes empreendimentos que tinham uma lógica capitalista que se reconverteria com o tempo ( Lisnave) acabaram por força das circunstâncias económicas.

Quem é que provocou tudo isto? Os comunistas e socialistas, a meu ver.
E por isso pagamos agora o facto de sermos ainda mais periféricos, não termos capitalistas monopolistas ( só temos os belmiros e jerónimos martins e quando muito os amorins que surguram depois) e temos miséria à porta comparando com países como a Bélgica ou Holanda ou até a Espanha.

Se tivéssemos conservado o sistema, como os espanhóis o fizeram estaríamos melhor que eles, penso eu de que.

Anónimo disse...

José

Deu um exemplo, os nossos vizinhos espanhóis.

A ditadura franquista, apesar de tudo o que lhe pode apontar, e não é pouco, soube antecipar o inevitável, o seu fim, chamando o futuro rei Juan Carlos a restaurar a monarquia constitucional , o único bastião que poderia suster os nacionalismos ibéricos como elemento unitário do estado espanhol, o que perdura até hoje, e o rei , por sua vez , promoveu uma transição pacífica para a democracia evitando assim rupturas revolucionárias que seriam muito mais dramáticas .

Para além disto, soube lançar o país na senda da industrialização em contraste com o ditador português que chegou a defender nos seus escritos que não devia haver água canalizada para que não se perdesse esse bucólico costume das mulheres com os cântaros à cabeça a caminho dos fontanários. O anterior regime era avesso à industrialização como o comprova as leis de condicionamento industrial. A título de exemplo, bastará a proibição na metrópole de uma bebida tão singela e universal como a Coca-Cola para não falar nas incontáveis obras culturais, livros, filmes , músicas que só seriam apreciadas após a liberdade.

E isto também tem um preço, e não é pequeno, no desenvolvimento de uma sociedade !

Hoje a Espanha, tal como Portugal, atravessa uma crise fortíssima, com uma taxa de desemprego muito superior à portuguesa, o que parece comprovar que as respectivas causas estão muito além do período do PREC português, período este que não pode ficar a pairar para todo o sempre como a causa única e última de todos os males futuros.

A Alemanha totalmente destruída e o Japão terrivelmente abalado os danos das duas bombas atómicas, souberam recuperar de estados muito mais deteriorados, naquilo que foi considerado até um milagre em contraste com o isolacionismo medíocre e comezinho a que se remeteu Portugal que agora e não deve continuar a chorar muito por um PREC que apenas mudou de mãos um fraco e incipiente tecido industrial nos longínquos anos setentas do século passado.

O que me preocupa verdadeiramente são as realidades dramáticas do presente muito mais problemáticas e à escala global, como aquelas que acima descrevi.

JR

josé disse...

"Para além disto, soube lançar o país na senda da industrialização em contraste com o ditador português que chegou a defender nos seus escritos que não devia haver água canalizada para que não se perdesse esse bucólico costume das mulheres com os cântaros à cabeça a caminho dos fontanários. "

Isto em 1973 era já fantasia de filme do Leitão de Barros.

Portugal em 1973 já não era isto e em 1974-75 poderia ter feito o que os espanhóis fizeram. Porque não fez? Não foi o Salazar o culpado- foram os socialistas e comunistas. A Esquerda e é esse o meu ponto de vista que aqui procuro demonstrar- sem querer ofender ninguém, como disse.