quinta-feira, 4 de outubro de 2012

JOHN LENNON E PHIL OCHS


Uma vez em Nova Iorque, Phil Ochs voltou a estar com Jerry Rubin, que estava agora a viver no antigo apartamento de Phil na Prince Street. A tensão que sentiram na América do Sul ainda pairava entre eles, e por muito que tivessem gostado de falar das suas experiências depois de Rubin ter partido, Phil evitou o assunto sempre que estavam juntos.

As feridas, compreendeu Phil, demorariam tempo a sarar. Rubin encontrava-se frequentemente com John Lennon, que se tinha mudado para Nova Iorque e estava numa batalha com o Governo pelo direito a ficar nos Estados Unidos.

Os serviços de emigração afirmavam que Lennon devia ser deportado por causa de um antigo caso de posse de marijuana em Inglaterra, mas esse era o argumento menos relevante para o Governo querer Lennon fora do país; na verdade, a administração Nixon estava preocupada com a visão política de Lennon, sobretudo em relação ao Vietname, e, para as autoridades, o Beatle exercia demasiada influência.

Quando Lennon soube que Phil estava em Nova Iorque, demonstrou interesse em estar com ele. Lennon tinha escrito três canções de protesto recentemente, que esperava mostrar a Phil para saber a sua opinião. Jerry Rubin e Stew Albert combinaram um encontro.

Phil tinha conhecido Lennon anos antes na Inglaterra, durante o pico dos Beatles, e o encontro tinha sido desagradável. Lennon nunca tinha ouvido falar de Phil, e recebeu-o da mesma maneira que teria recebido um fã.

Mas desta vez, Lennon estava muito mais afável - mesmo humilde, por vezes - quando tocou para Phil uma canção que tinha escrito sobre John Sinclair, um poeta e activista radical do Michigan a quem tinha sido dada uma dura sentença de prisão por ter oferecido dois joints a um polícia à paisana.

Lennon, que sabia bem que o Governo estava a usar esses pretextos, queria amplificar nacionalmente a sua canção.

Phil adorou a canção - tanto que se voluntariou para cantá-la no seu próximo concerto. Lennon, por sua vez, convidou Phil a participar na marcha "Libertem John Sinclair" marcada para Ann Arbor, no Michigan, a 10 de Dezembro [1971, creio...].

O evento prometia os maiores nomes da música, incluindo Stevie Wonder e Bob Seeger, que iam actuar ao lado de Allen Ginsberg, Ed Sanders, Jerry Rubin, David Dellinger e Bobby Seal. Phil aproveitou a oportunidade para se juntar a eles.

O encontro com Lennon foi um grande sucesso. Phil tocou duas das suas canções ("Joe Hill" e "Rhythms of Revolution"), com Lennon a acompanhá-lo com dobro e os dois discutiram política e escrita de canções de protesto. Numa troca de piadas, Phil tentou explicar a Lennon o passado dos Wobbies, mas ele não conseguiu ir além do gozo que o nome da IWW lhe provocava.

Phil honrou a sua promessa ao cantar a canção de Lennon no seu próximo concerto. Ficou surpreendido por não ter tido reacção imediata ao mencionar quer o nome de Lennon, quer o de John Sinclair, mas a canção recebeu enormes aplausos quando acabou de a cantar.

Aparentemente, as pessoas ainda gostavam de uma boa canção e uma boa causa. A "resposta incrível", assinalou Phil com agrado no seu diário, "foi um voltar aos bons velhos tempos" [do início da sua carreira, sobretudo a primeira década de 60 e, sobretudo ainda, antes de 1968].»

Tradução de Eduardo Ferreira ("There But For Fortune - The Life Of Phil Ochs", Michael Schumacher, Hyperion, Nova Iorque, 1966).

2 comentários:

Edward Soja disse...

Olá,

há a Chords of Fame, em que ambos cantam, no YT.

http://youtu.be/kKIXd8eZCDk

:)

Edward Soja disse...

Bem, não é cantam, mas sim falam. Antes da canção.

:)