domingo, 18 de março de 2012

JOE DOLAN


PYE  - PATS 7002

Make Me An Island – If You Care A Little Bit About Me

Permitam-lhe que ele desarrume a memória e que, por uma história de nada – ou de tudo? – ponha o Joe Dolan a rodar.

Um café de província, Alfeizerão, junto a uma bomba de gasolina, uma bomba de gasolina da Mobil, que não era como as bombas de gasolina que o imaginário dos filmes americanos lhe transmitiu.

Duas, três mesas, uma jukebox a um canto, todas as sextas-feiras do último mês, de quase quarenta meses de tropa, dez tostões na ranhura da jukebox e o "Make Me An Island" do Joe Dolan a cantar no sonolento café, 2, 3 gins tónicos.

Ele que até à data, depois de um milhão de gin-tónicos – chapelada a Mr. Humphrey Bogart – bebidos, em muitos e diversos bares, uns rascas, outros a armar ao fino, terá sempre na memória o sabor daqueles gins.

As circunstâncias fazem milagres e ele sabe que os gins eram merdosos e aproveita para  citar Nuno Júdice:  nada nos faz reviver melhor o passado do que um cheiro que em tempos lhe esteve associado.

É isso.

O gin era marca Bols, a água tónica era Canada Dry, o limão não tinha casca, o dono do café aproveitava as cascas para os martinis, o gelo tirava-o das paredes da geladeira dos Olás, mas nada, que Joe Dolan e o seu "Make Me An Island", o saber que o findar da tropa se aproximava, em passo de corrida, não fizessem esquecer.

Terminou a tropa ao bater do meio-dia de 30 de Setembro de 1970.

Apanhou a camioneta da carreira dos Claras, chegou-se a casa, pegou na Aida zarpou para Os Perús, à Praça do Chile, frango assado, no dizer do escritor e jornalista Rui Cardoso Martins,  os melhores frangos assados do mundo, uma garrafa de tinto Aliança, pudim flan, Antiqua, em balão aquecido, se faz favor, e  ala que se faz tarde para  o 3º anel da Luz, que ainda não era Catedral, ver o Glorioso espetar 8 a 1 no Olimpija, uma rapaziada que em Liubilana, na 1º mão da 1ª eliminatória da Taça dos Clubes Campeões Europeus, tinha cometido a soberba proeza de empatar a um golo.

Para o informe ficar como deve ser:

O árbitro foi o sr. Queudeville do Luxemburgo e o Glorioso alinhou com José Henrique na baliza, Malta da Silva, Humberto Coelho, Zeca e Toni (Barros entrou aos 80 m), Jaime Graça, Matine, Simões (capitão), Artur Jorge, Torres e Eusébio.

O treinador era o inglês Jimmy Hagan, o garagista.

O pantera negra meteu 5 golos, Zeca, Artur Jorge, Jaime Graça, fizeram o resto.

Na jukebox de um café de província, junto a uma bomba de gasolina, Joe Dolan acabou de soltar os últimos versos take me and break me and make me an island, I'm yours.

Ainda sente o último gole de gin antes de se pôr a caminho para o último recolher do dia, no RI 5 das Caldas da Rainha, a mesma porta de armas por onde, 42 meses depois, por um 16 de Março, um grupo de militares saíu, a caminho de Lisboa, para aquilo que, ainda hoje, ninguém sabe explicar muito bem o que foi.

Um ensaio para o 25 de Abril, dizem os que pormaiores querem abreviar.

Sing again Joe!

Colaboração de Gin-Tonic

8 comentários:

Camilo disse...

e...38 anos depois, "cá" estamos nós... sem "jukebox's"... mas,por acaso, até TENHO os discos do Joe Dolan, sim senhor...!

Karocha disse...

Camilo
Eu também tinha !

filhote disse...

Excelente crónica, Gin-Tonic! É disto que o povo deste blogue gosta!

JC disse...

Boa!, Gin-Tonic. Mas gin Bols e água tónica Canadá Dry (lembras-te que esta era a alcunha do grande Zé Torres?)só te desculpo mesmo por estares na tropa e ser o que havia.
Abraço

Muleta disse...

sempre gostei deste já falecido Joe Dolan....

Luís MIra disse...

Chego tarde, mas ainda a tempo de saudar a proximidade da Primavera e, com ela, o fim da hibernação de Gin-Tonic.

Já conhecia partes desta história mas assim, no seu todo, tem mais sabor.

E até o pormenor dos 8-1, por norma pouco simpático, assim à distância tem outra graça...

E eu que pensava que só o Messi é que tinha marcado cinco golos na Taça/Liga dos Campeões...

Luís MIra disse...

Chego tarde, mas ainda a tempo de saudar a proximidade da Primavera e, com ela, o fim da hibernação de Gin-Tonic.

Já conhecia partes desta história mas assim, no seu todo, tem mais sabor.

E até o pormenor dos 8-1, por norma pouco simpático, assim à distância tem outra graça...

E eu que pensava que só o Messi é que tinha marcado cinco golos na Taça/Liga dos Campeões...

Anónimo disse...

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M.Júlia