quinta-feira, 15 de abril de 2010

CULTURA NÃO É ENFEITE


Se a parte do cérebro que tem adormecido lhe permitisse, lembrar-se-ia quando começou a ser selectivo no que respeita ao cinema, ao teatro, aos livros, à música.

De certeza certa sabe que por um qualquer dia de Março de 1961, se sentou no Pavilhão dos Desportos em Lisboa, para ver teatro.

A Câmara Municipal de Lisboa, o SNI, patrocinava o “Teatro Popular de Lisboa” dirigido por Pedro Bom.

Não viu tudo, não leu tudo, não ouviu tempo mas consumiu tudo o que lhe viesse parar, aos olhos, aos ouvidos, às mãos.

Razão suficiente para estas Duas-Peças-Duas:

“O Morgado de Fafe em Lisboa”, comédia em 2 actos de Camilo Castelo Branco e “Falar Verdade a Mentir”, comédia em 1 acto de Almeida Garrett.

No programa poderia ler-se:

Espectáculo para maiores de 12 anos.

Haverá um intervalo de 10 minutos entre os 1º e 2º actos de “O Morgado de Fafe em Lisboa” e outro de 20 minutos entre esta peça e a comédia “Falar Verdade a Mentir”.

Encenações de Pedro Bom.

Apontamentos cenográficos e arranjos de cena de Mário Alberto.

Guarda-roupa gentilmente cedido pela Empresa Rey Colaço-Robles Monteiro.

Cabeleiras de Alberto Madureira.

Sonorização de Luís Moreira e Afonso Araújo.

Ponto: João da Silva.

Contra-regra João Leiria.

Actores que participavam nas duas peças: Carlos Costa, Fernanda Alves, Alexandre Vieira, António Anjos, Maria José, Ruy Mendes, Victor Ribeiro.

Actores que apenas participavam na peça de Camilo: Maria Albergaria, Mário Sargedas, Cândida de Lacerda, Roberto Viana, Manuel de Oliveira.

Na contracapa do programa, Luiz Francisco Rebelo situava historicamente as duas peças e os autores.

Notas à margem:

Imaginem as condições acústicas do Pavilhão dos Desportos para ver teatro.

Imaginem que o espectáculo começava às 21,45, havia meia-hora de intervalo, e calculem a que horas o espectáculo acabava.

Imaginem que ele descia, a pé, parte do Parque Eduardo VII, toda a Avenida da Liberdade para ir apanhar, ao Martim Moniz, o eléctrico para a Graça, que o deixava em Sapadores, e depois ia para casa, na Rua da Penha de França, não tinha a chave de casa, tocava à campainha, o pai abria-lhe a porta.

Imaginem que ele naquele tempo tinha 16 anos e daí a pouco, às 08,30, horas começava as aulas no Liceu Gil Vicente”.

Era feliz, sabe-o agora.

Sente hoje um arrepio gelado quando presencia uma enormidade de gente a proclamar, ufana, a sua incultura.

Sabe que os governantes deste país têm um soberano desprezo pela cultura.

Sabe que daqui a dias o 25 de Abril fará 36 anos.

Sempre é verdade que se envelhece!

Colaboração de Gin-Tonic

1 comentário:

M.Júlia disse...

Memórias de um tempo tão distante, mas que sabe tão bem recordar.
Hoje é tudo tão diferente, mas
afinal sempre foi assim e como
disse o poeta, o mundo pula e
avança ... (para melhor ou para
pior?). Responda quem souber!
Gostei muito do que escreveu, acredite!