sábado, 12 de dezembro de 2009

OPEN ROAD 01


Ao longo de quase um ano, falei-vos aqui de muitos lugares (cidades, bares, restaurantes, hotéis, monumentos, parques naturais, locais de filmes, eu sei lá…), mas reparo agora que, salvo a Route 66 “en passant”, não tanto pela estrada em si mas mais pelo revivalismo a ela associado, não vos falei rigorosamente nada acerca daquilo que liga todos esses lugares entre si: as estradas, as magníficas estradas americanas!

Essas intermináveis estradas da América sempre me fascinaram. Esse fascínio veio da Literatura, da Música e do Cinema, claro está… Mas também da Fotografia: desde os pioneiros da FSA, com Walter Evans à cabeça, até Robert Frank e, mais recentemente, Wim Wenders e Raymond Depardon, nomeadamente do seu livro “Errances”. Um pouco menos da Pintura, embora Edward Hopper não ande, por vezes, muito longe destes ambientes.

É, aliás, curioso como umas coisas chamam sempre pelas outras: a música puxa-me tantas vezes para a estrada, tal como a estrada faz soar a música. E por aí fora…

No Cinema, entre os filmes de que mais gosto há imensos “road movies”. A lista é muito longa, mas posso lembrar aqui o “Easy Rider”, como não podia deixar de ser, mas também “Two-Lane Blacktop”, “The Vanishing Point”, filmes negros como “Detour”, “Gun Crazy”, “They life by Night”, de “terror” como “Duel” (que homenageio numa fotografia…!) e “The Hitcher”, filmes de Lynch como “Wild at Heart” e “Straight Sory”, europeus como “A Ultrapassagem”, “Alice nas Cidades” e “Ao Sabor do Tempo” de Wenders, “Profissão: Repórter” do Antonioni, tantos “westerns” que também são, à sua maneira “road movies”, e até esse divertimento menor que é Thelma and Louise). Cada vez que os via era a estrada, mais do que tudo o resto, que me fascinava…

E que dizer, também, acerca da influência que um livro tal como o “On the Road”, do Jack Kerouac, pode ter exercido sobre um jovem já de si com alguns sintomas de taradice pela América. Só poderia ter sido uma, concerteza: pô-lo a gritar para dentro de si próprio “eu não hei-de morrer sem lá pôr os pés e percorrer aquelas estradas”…!

Para o título desta “crónica” quase final, hesitei entre evocar Donovan ou Roger Miller. Embora seja verdade que me senti, por diversas vezes, um verdadeiro “king of the road”, tal a completa solidão que me acompanhava na estrada, não há dúvida que a sensação de um interminável espaço aberto à minha frente, a perder de vista, foi predominante, como terão ocasião de ver nesta curta selecção das larguíssimas dezenas de fotografias de estrada que fui fazendo.

Na América não precisamos de museus nem de parques naturais… A beleza está mesmo ali na estrada, ao alcance da nossa mão.

E a “história” era sempre a mesma: saíamos do motel com a Cristina a barafustar por ter dormido pouco e, mal chegava ao carro, aí ia ela, banco puxado para trás e pézinhos no tablier… O silêncio instalava-se e eu ficava então sozinho a beber sofregamente aquelas paisagens, com a máquina ao lado pronta para disparar em andamento…

E, a determinada altura, já não era eu quem conduzia aquele pequeno Chevrolet vermelho. Ia mais adiante, montado numa Harley Davidson, braços abertos esvoaçando ao vento como asas de pássaro, ao som dos Byrds de “Wasn’t Born to Follow” e da balada de Easy Rider…

The river flows
It flows to the sea
Wherever that river goes
That’s where I want to be
Flow river flow
Let your waters wash down
Take me from this road
To some other town

Colaboração de Luís Mira

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