sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

BOM É QUERER BEM


RGE  - SLRL  8625

Face A

Bom é Querer Bem – Mundo Vazio – Solidão – Sonata Sem Luar – Ri – Favela

Face B

Voltei – Você – O Menino Desce o Morro – Nego Malandro de Morro – Vem Comigo – A mesma Rosa Amarela

Quando andou a mexer nos discos dos Manhattan Transfer, os dedos deslizaram para os vinis da Maysa Matarazzo.

Quando o Inverno chega, o frio faz-se gélido, há vozes próprias para nos aquecerem.

A de Maysa Matarazzo é uma delas.

José Scatena a primeira vez que viu Maysa ficou deslumbrado: ele deveria ter 19 anos e era linda. Aqueles enormes e inquietos olhos, os cabelos aloirados e cheios, um perfume doce que ficava no ar.

Ele, a primeira vez que viu-ouviu Mayza Martarazzo, foi pelos 15 anos, ela tinha 36, na televisão a preto e branco, num TV Clube, em directo e apresentado por um todo babado Henrique Mendes.

Como dizem, hoje, os putos do liceu: ficou agarrado!

Até um determinado tempo, os brasileiros garantiam que a música popular brasileira estava marcada pelo «antes» e pelo «depois» de Maysa.

Depois houve mutos mais antes e depois e continuará a haver.

No entanto, há muito, muito tempo, que não se lembrava de Maysa.

Não fora a circunstância de um deslizar de dedos e continuaria no olvido.

E ela bem o ajudou.

Numa das mais interessantes versões de "Marcianita" que ele conhece, é a do Daniel Bacelar só que ele capricha em renegá-la, não-sei-quê-por-causa-do-arranjo-à-Marino Marini-coisa-que-o-valha.

Na canção existe aquela pedacinho em que se ouve: em matéria de amores eu sou sempre passado pra trás.

No tempo em que se fascinou pela voz de Maysa era assim que ele se encontrava: passado para trás.

Mas ele é de signo Carneiro, teimoso que nem um raio, e contou para si mesmo que tinha de dar a volta à situação.

Aconteceu a inauguração da filial na Graça do Banco Português do Atlântico, o gerente era amigo do pai, e levou-o até ao cocktail. Uns senhores de casaco branco passeavam-se com umas bandejas com copos e iam distribuindo bebidas. Passaram perto e ele deitou a mão a um copo que tinha uma rodela de limão, uns cubos de gelo, que ele entendeu ser uma limonada.

Não era.

Tratava-se de gin-tónico.

Soube-lhe a prazeres do paraíso.

Lá por casa não havia garrafas de gin, apenas whisky, Johnny Walker, nas versões rótulo vermelho e negro, este apenas quando o rei fazia anos.

Até que um dia entrou portas dentro do "British-Bar", sentou-se naquelas mesas de mármore, pediu um gin-tonic. Com amabilidade perguntaram-lhe: de que marca?, espantou-se e  outra coisa não saiu senão o mais baratinho.

Desceu o velho Gordons.

Por ali ficou a ver a tarde correr, a olhar as prateleiras de linda e boa madeira, com garrafas das diversas e coloridas bebidas.

Ainda não estava lá o relógio que marca as horas ao contrário e que aparece em "A Cidade Branca", filme  do Alan Tanner.

Apenas existia o papagaio, um ambiente confortante e dedicou-se a um grande cachimbada.

Desde esse dia, o British passou a ser o seu porta-aviões.

Sentiu que deu a volta aquela história do sempre passado para trás, sim, que precisão tinha ele de ir ao encontro de quem não se lembrava de vir ter com ele.

Repara agora que só queria lembrar Maysa e desatou a contar a vidinha dele.

Que têm os viajantes-ié-ié a ver com isso?

Rigorosamente nada.

Apenas uma terna lembrança de que Maysa, o gin-tonic, o British-Bar o ajudaram a percorrer um caminho.

Gracias a la Vida.

Pois, da Maysa há-de trazer mais um vinil, o resto está nessa coisa horrorosa a que chamaram CDs e trará apenas um, e ele explicará o porquê.

Ele não sabe se valerá a pena colocá-los no kioske (claro que vale!, nota do editor).

Mas alguém lhe sussurra, com erudição bacoca:

Fait ce que voudras.

Entendeu.

Colaboração de Gin-Tonic

3 comentários:

filhote disse...

Há bruxas, Gin-Tonic!

Neste preciso momento, estou a ver a reprise do seriado sobre a Maysa... a propósito dos 50 anos da TV Globo...

Anónimo disse...

Muito passada por Paulo Fernando, no "Tic-Tac" (RCP, finais dos anos 60).
CMD-Santarém.

ié-ié disse...

eu gostava de saber era o indicativo da "23ª Hora" que - acho eu! - era igual no Rádio Clube e na Renascença.

LT