segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
REGRESSO AO LOCAL DO CRIME 55
- Ele ainda está apaixonado por ti, Pyuong?
Levar uma anamita para a cama é como levar um pássaro: chilreia e canta sobre a nossa almofada.
Houve tempo em que pensei que nenhuma delas cantava como Phuong. Estendi a mão e toquei-lhe no braço – também os seus ossos eram frágeis como os pássaros.
- Ainda está, Phuong?
Ela riu e ouvia-a a acender um fósforo. Apaixonado?
Talvez se tratasse de uma daquelas frases que não entendia.
- Posso preparar-te o cachimbo? – perguntou-me.
Quando abri os olhos ela já acendera a lamparina e o tabuleiro estava preparado. A luz dava-lhe à pele um tom de âmbar escuro e ela debruçou-se sobre a chama com uma expressão de concentração, aquecendo a pequena pasta de ópio, rodando com a agulha.
- Pyle ainda não fuma? – perguntei-lhe.
- Não.
Deves convencê-lo; caso contrário não voltará.
Entre eles existia a superstição de que um amante fumador de ópio voltava sempre, nem que estivesse em França. A capacidade sexual de um homem podia ser prejudicada pelo fumo, mas elas preferiam sempre o amante fiel ao amante potente.
Graham Greene em "O Americano Tranquilo", Editora Ulisseia, Lisboa, Novembro de 1986.
Colaboração de Gin-Tonic
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