sábado, 13 de setembro de 2014

NOVA CANÇÃO PORTUGUESA (1960-1974)


"Canta, Amigo, Canta - Nova Canção Portuguesa", João Carlos Callixto, Âncora Editora, 2014, 240 págs.

Sabem quem é Clementina, João Vaz Lopes,  José Froes Leitão ou Raul Manuel?

A esta e a muitas outras interrogações responde o livro “Canta, Amigo, Canta” sobre a “nova canção portuguesa (1960-1974), de João Carlos Callixto, um experimentado investigador da música portuguesa.

O livro acaba de ser editado pela Âncora Editora numa excelente apresentação gráfica, muita rara em edições do género. Basta relevar que são reproduzidas a cores as 319 capas de discos que o livro comporta, se bem as contei.

Também se bem contei, são 103 os nomes da “nova canção portuguesa” que o autor traz à liça, tendo em conta o limite temporal a que se subordinou, de 1960 a 1974.

Os “reis da nova canção portuguesa” são Tonicha, pelo lado feminino, com 21 discos, e Paulo de Carvalho, pelo lado masculino, com 16 discos.

João Carlos Callixto define a sua obra como um “dicionário de cantores e grupos” e pelas 240 páginas do livro espraiam-se pequenas e enxutas biografias dos escolhidos (mas nalguns casos excessivamente laudatórias), com as respectivas discografias (sempre a terminar em 1974, portanto, infelizmente incompletas), por ordem alfabética, o que facilita o seu manuseamento.

As capas dos discos são acompanhadas por fichas técnicas precisas, o que torna o livro deveras interessante deste ponto de vista.

Estranham-se no entanto os critérios que conduziram à obra que deve ter levado anos de trabalho árduo de pesquisa e de confirmação de informação.

Se o livro é dedicado à “nova canção portuguesa (1960-1974)”, não se percebem, por exemplo, as ausências de José Cid, do Quarteto 1111 ou da Filarmónica Fraude, já que o Pop Five Music Incorporated praticamente só cantou em inglês, com uma excepção. E outros.

E, ao invés, há nomes como Paco Bandeira, Tonicha (ainda por cima Rainha), Carlos Bastos, Maranata, Carlos Guilherme, Carlos Alberto Vidal, José Lello e outros.

O fado de Coimbra – que me toca mais de perto – e que dificilmente poderá ser catalogado como “nova canção portuguesa” está representado por Adriano Correia de Oliveira e Germano Rocha (que não é conhecido) e omite, por exemplo, Luiz Goes (cujo 2º ano de falecimento passa no próximo dia 18 de Setembro) e que, provavelmente, terá sido o que mais inovou no sentido de transformar o fado de Coimbra numa “nova canção portuguesa”.

O autor justifica que o objecto do livro engloba "quase todas as tentativas de ir contra a corrente (baladeiros/canção de protesto/folk/nova canção ligeira)".

"Podia ter incluído algo de pop rock (Quarteto 1111, Filarmónica Fraude, por exemplo) ou de fado (José Manuel Osório ou José Labaredas, por exemplo), mas optei por não o fazer por entender que se tratava de facto de outros âmbitos".

Sei, por experiência própria, que não é fácil levar projectos deste tipo a bom porto. As dificuldades começam logo que há uma folha em branco à frente. Como fazer? Com que critérios? E por muito bem que os critérios estejam escanhoados, há-de haver sempre vozes insatisfeitas e contestatárias. É a vida! Depois dos critérios afinados, segue-se a pesquisa da informação e a confirmação do seu rigor, que também não é obra de menos delicadeza.

João Carlos Callixto navegou pelos escolhos e mal ou bem, mais bem do que mal, coloca assim mais tijolo graúdo no edifício do conhecimento  da música que se faz em Portugal, o que é de louvar.

E agora aguardam-se com expectativa as biografias de Vítor Gomes e de José Manuel Concha (dos Conchas), um “arty book” sobre Amália Rodrigues e a sequela da “Biografia do Ié-Ié”.

Luís Pinheiro de Almeida

5 comentários:

josé disse...

Eh lá! Vou procurar já!

E depois de ler farei a crítica. Esta que aqui aparece já é de antologia jornalística. E se houvesse um jornal ou revista como deve ser, em Portugal e dedicado a estas coisas da cultura musical, popular-erudita, parecido com uma Mojo ou uma Rolling Stone dos setentas, era para publicar em destaque de primeira página.

ié-ié disse...

Abraço, companheiro!

Como dizem os brasileiros, fico sem jeito!

Estou ansioso por ver a tua apreciação!

Abração!

LT

bairro do vinil - JPAR disse...

Boa tarde. Ora, se o livro é sobre a "nova canção portuguesa" e o significado que esse termo verdadeiramente comporta, não iria perceber a inclusão do Luis Goes, num livro deste género, bem como o José Manuel Osório ou José Labaredas. É fado, e são fadistas que nunca sairam do género fado.
Por outro lado, Pop Five, Filarmónica, são grupos portugueses que seguem a orientação Pop Rock anglo-saxónica. Para mim, não se trata de nova música portuguesa. Mais duvidoso, poderia ser o José Cid e o Quarteto 1111, mas parece-me uma exclusão acertada ainda que não me surpreendesse a sua inclusão, nomeadamente do José Cid.

Quanto à Tonicha, talvez seja o nome mais discutível, pois o seu surgimento não foi no âmbito de qualquer processo de renovaçao da música portuguesa, mas quem conhece a carreira da Tonicha a partir de 1967, bem sabe o seu papel foi de destaque na música portuguesa.

bissaide disse...

Só agora li a tua crítica, Luís. Antes de mais, obrigado pelas tuas palavras! Quanto aos nomes de que falas, tentei explicar na introdução do livro as razões da não inclusão, mas tudo é sempre discutível. Ou seja, José Cid, Quarteto 1111 ou Filarmónica Fraude poderiam estar, mas não estão por virem de uma matriz pop rock. A mesma explicação para Luiz Goes ou para António Bernardino, como também refiro na introdução - sendo que especialmente Adriano Correia de Oliveira e também Germano Rocha estão aqui por terem extravasado os "moldes" da canção de Coimbra. De resto, boas leituras! E, no teu caso, aguarda-se a sequela da "Biografia do Ié-Ié"! Quando temos obra? Por último: João, obrigado também pela tua achega no anterior comentário!

Anónimo disse...

Já comprei (é caro!), já li (lê-se depressa) e gostei.

Só que fiquei sem saber o que é a "nova canção portuguesa", tal a heterogeneidade dos biografados.

Outra coisa: nunca dei por que houvesse (ou ouvisse) psicadelismo na música portuguesa, mas isso pode ser defeito dos meus ouvidos.