sábado, 17 de maio de 2014

"GRÂNDOLA, VILA MORENA" - 50 ANOS!


ORFEU - KSAT 680

Grândola, Vila Morena - Traz Outro Amigo Também

Este é o single, não muito vulgar, de "Grândola". A capa é igual à do EP.

No domingo dia 17 de Maio de 1964, faz hoje 50 anos, José Afonso é convidado para cantar na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense num espectáculo que a colectividade levava a efeito no seu 52º aniversário.

A sessão em Grândola foi, por diversas razões, marcante na vida de José Afonso. Recordá-la-á anos mais tarde a José Salvador:

"Naquela altura enfiava-me nos buracos que me aparecessem no meio de bailes, casamentos, cantava por minha conta e risco. As coisas vão tomando corpo quando recebo um convite da Música Velha de Grândola, assinado pelo Zé da Conceição, que estava ligado ao teatro local orientado pelo Hélder Costa.


(...)

"Fiquei brutalmente satisfeito com o convite para cantar na Música Velha. Meti-me no comboio com a Zélia e aí encontro-me com o Carlos Paredes (...) Foi a primeira vez que conheci o Paredes e então fiquei extremamente impressionado com a colectividade.

(...)

"Numa carta aos pais, José Afonso dá conta de quanto a passagem por Grândola o marcou: "Se alguma vez tiver de deixar esta terra, é a lembrança destes homens que conheci em Grândola e noutros lugares semelhantes que me fará voltar".


A 21 de Maio de 1964, José da Conceição recebe na carta de José Afonso um poema dedicado a Grândola, que é lido em sessão pública no dia 24 de Maio, na mesma sala onde foi realizado o espectáculo.


Os presentes escutaram pela primeira vez: "Grândola, Vila Morena/Terra da fraternidade/O povo é quem mais ordena/Dentro de ti ó cidade/Em cada esquina um amigo/Em cada rosto igualdade/Grândola, Vila Morena/Terra da fraternidade/Capital da cortesia/Não se teme de oferecer/Quem fòr a Grândola um dia/Muita coisa há-de trazer".


Três anos depois, a editora Nova Realidade lança o livro "Cantares de José Afonso", com uma nova versão do poema, reduzido agora às duas primeiras quadras.

Em 1971, no livro "Cantar de Novo", surge a terceira versão de "Grândola, Vila Morena" com a inclusão da quadra "À sombra de uma azinheira/que já não sabia a idade/jurei ter por companheira/Grândola, a tua vontade".

Será esta a versão definitiva da canção que integra o álbum "Cantigas do Maio" e editado nesse ano.


É José Mário Branco que faz os arranjos musicais da canção e que sugere a José Afonso que a cante repetindo cada quadra por ordem inversa dos versos, como é uso no Alentejo.


A 29 de Março de 1974, a Casa da Imprensa promove o 1º Encontro da Canção Portuguesa no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, onde actuam, entre outros, Adriano Correia de Oliveira, Carlos Paredes, Fausto, Vitorino e José Afonso.


O espectáculo terminará com as mais de seis mil pessoas presentes a entoar de pé e em côro "Grândola, Vila Morena".

Menos de um mês depois, à meia-noite de vinte do dia 25 de Abril, os ouvintes do programaLimite, da Rádio Renascença, ouvem Leite de Vasconcelos declamar a primeira quadra da canção "Grândola, Vila Morena",


Em seguida, a voz de José Afonso enche a noite, dando o sinal esperado para a saída dos quartéis das tropas que iriam derrubar a ditadura.


É deste modo que Grândola fica para sempre associada ao 25 de Abril e aos seus princípios mais nobres de Liberdade, Democracia e Solidariedade.


Celebrar estes 50 anos é prestar um tributo a José Afonso, figura maior da cultura portuguesa a quem Grândola será sempre devedora de uma identidade que nos orgulha, enriquece e responsabiliza.


É afirmar a nossa vontade e determinação em ajudar a construir um mundo mais fraterno e solidário. É assumir que esta canção, que nunca deixará de ser o nosso hino e um referncial da nossa acção, se tornou património de todos os que dela legitimamente se apropriam.


"Grândola, Vila Morena" é, já hoje, e será cada vez mais no futuro, património imaterial da Humanidade.


Fonte: Associação José Afonso

Sem comentários: