segunda-feira, 10 de março de 2014
EKOS: PREFEREM CANTAR EM PORTUGUÊS
O conjunto musical os "Ekos" formou-se há cerca de dois anos e meio.
A ideia partiu do bateria do conjunto Mário Baía (Mário Guia, lapso da revista - obrigado, Jack Kerouac), e foi logo aplaudida pelos dois camaradas de estudos, Joca Santos (viola ritmo) e António Vieira (viola baixo). A estes juntou-se, depois, outro amigo de nome Rui, o qual, mais tarde, foi substituído por seu primo Lopes Júnior (viola solo).
Como na altura os conjuntos do género eram em grande número, tornava-se difícil arranjar um nome que tivesse algo de original. Aconteceu num passeio fluvial, onde o conjunto se exibiu, que por ideia do Mário foi dado o nome de "Ekos", inspirado, talvez, na marca das suas violas.
As primeiras actuações foram naturalmente em Lisboa, pois trata-se de um grupo da capital, e apesar da inexperiência foram bastante animadoras. Passaram, entretanto, a ser cinco, com a inclusão do primeiro vocalista Eddie Gonzalez.
Como todos eram estudantes, exceptuando o Joca Santos, que já trabalhava num escritório, as digressões pela província não podiam de maneira alguma ser largas, limitando-se a actuações de fim de semana.
Quando do concurso efectuado no cinema Roma, os "Ekos" não brilharam, mas fizeram com que o público os apreciasse, obtendo 500 votos no concurso de popularidade.
Começaram, então, as naturais aspirações, tendo por base esse mesmo público que os incitava, e os cinco rapazes pensaram em gravar um disco, embora sabendo que iriam ter dificuldades e poderiam ser recusados, o que realmente aconteceu.
"Paciência", pensaram eles, havemos de ter mais oportunidades, não desanimando.
Chegou o Verão de 1964, e como no Algarve os conjuntos escasseavam, os rapazes pensaram que, aliadas a um contrato, umas ricas férias seriam o ideal, e lá foram para Lagos, daí para Albufeira, onde tocaram durante dois meses.
Começou, então, a sua digressão por terras algarvias, onde alcançaram êxito.
Foi em Albufeira que travaram conhecimento com o famoso Cliff Richard e passaram ao número de amigos do conhecido cançonetista. A tal ponto que este acedeu a cantar acompanhado por eles numa festa particular.
Elogiados pelos turistas e animados por Cliff, os "Ekos", que já contavam com mais um elemento, o actual vocalista José Luís, redobraram de entusiasmo para alvançar um primeiro plano.
Regressaram a Lisboa, e passaram, então, a ser apontados como revelação.
Em 1965, vida nova para os "Ekos".
Durante um ensaio, alguém tomou a decisão de colocar no repertório do conjunto músicas em português.
Pois se todos os componentes são portugueses, qual o motivo por que Portugal não haveria de ter a chamada música "Yé Yé" na sua própria língua?
Os "Ekos" passaram a cantar só em português, saindo, portanto, das imitações.
Gravaram, então, o almejado disco comercial depois do êxito obtido no "Ouro Negro Show", ao lado destes consagrados artistas, disco que obteve enorme sucesso, como provam as quatro edições esgotadas, a excelente qualificação no Grande Prémio do Disco (3º lugar) e o êxito musical da semana (durante quinze dias, o que acontece pela primeira vez, tanto com artistas nacionais como estrangeiros).
Chamados à televisão, aqui se estrearam. Entretanto, mais duas actuações na TV assinalam a ascensão do conjunto no plano artístico nacional.
Tiveram, depois, uma série de excelentes contratos em Ofir e na Póvoa de Varzim, onde continuaram a marcar presença e a ouvir os mais rasgados elogios do público e também de pessoas ligadas à música moderna internacional, como, por exemplo, Jack Le Caek, agente artístico dos Rolling Stones.
Foi nesta altura que a marcha ascencional do conjunto foi abalada ligeiramente com a chamada de três dos componentes para o serviço militar (Joca, Mário e Vieira).
Apesar de não poderem ensaiar como faziam, os seus espectáculos continuaram a agradar, como se viu durante o concurso "Yé-Yé" no Teatro Monumental, num dos últimos sábados, onde pela primeira vez houve lotações esgotadas.
As aspirações continuaram, pois os "Ekos" não esperam ficar por aqui.
Acima de tudo, pensam honrar a música moderna portuguesa, não só em Portugal, como no estrangeiro. Os contratos sucedem-se e muitos não serão realizados por falta de tempo, mas em breve voltarão à TV e gravarão mais discos para satisfação do seu já numeroso público.
Texto não assinado publicado na revista "TV" de 04 de Novembro de 1965
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