Esta noite, no Coliseu, em Lisboa, o chefe de gabinete do primeiro-ministro Passos Coelho, um reputado médico investigador da sida, um advogado especialista em direitos de autor e mais quatro outros experientes músicos tiraram a barriga de misérias e o público que encheu a arena seguiu o mesmo passo.
Há quem lhes chame os "Joy Division portugueses".
O tal reputado investigador da sida, Ricardo Camacho, faz jus à etiqueta: veste de negro, não tira os olhos das teclas ou das cordas da guitarra, não é exuberante e só fala para dedicar "Glória" a António Sérgio.
O advogado especialista em direitos de autor, Pedro Oliveira, é mais da linha com a sua camisa branca e Levi's 501. Mas quando pede a guitarra de Rodrigo Leão toca-a como Peter Hook. Talvez não tenha grande voz, mas sempre é melhor do que Pedro Abrunhosa, Lou Reed e/ou Leonard Cohen.
O chefe de gabinete de Passos Coelho, Francisco Menezes, é o Keith Reid da banda, mas ainda subiu às teclas com o seu ar diplomata.
Outro joy division, de escuro vestido, é o canhoto Rodrigo Leão, provavelmente o músico mais experiente e credenciado com uma carreira a solo séria e competente.
Gabriel Gomes, outro músico com M, é o "punk" da banda. Vai a todas, ao acordeão (mesmo quando parece Eugénia Lima num pequeno incidental), à guitarra e às teclas. E ainda tem tempo para puxar pelo público.
Paulo Abelho, outro músico com cardápio, é o percussionista louco, o Bez da Sétima Legião, e Nuno Cruz, baterista, o homem do ritmo certo que só não é o Ringo Starr, porque o Beatle é inimitável.
Finalmente, Paulo Marinho, discreto, que também toca gaita de foles e flauta nos Gaiteiros de Lisboa, é o fairpot convention, a sonoridade celta da 7ª.
O cenário não existe, as luzes são sóbrias, a exuberância é exclusiva de Paulo Abelho e Gabriel Gomes e do público quando exulta e se levanta em pé com "Sete Mares", "Noutro Lugar" e "Por Quem Não Esqueci", todas repetidas no encore.
O concerto foi filmado: DVD? Disco ao vivo? Programa de televisão?
Merecem, até porque respeitaram a sonoridade original, não cedendo a paneleirices!
LPA
10 comentários:
Embora não seja grande fã dos Sétima Legião, desvairei com esta crónica.
Parabéns, LPA!
E atenção: se tudo correr conforme o previsto, amanhã enviarei a crónica de um outro concerto, memorável, que aconteceu por aqui na noite passada (3 de Maio)...
Obrigado, companheiro! Aguardo ansioso a tua crónica!
LT
bela crónica
"nao cedendo a paneleirices" isso é importante. evito comebacks etc por causa disso. pelos visto este foi bom...
Obrigado, FO! Não considerei um "comeback". Acho até que foi o primeiro grande concerto da 7ª.
LT
O disco "Memória" inclui um DVD de um concerto ao vivo.
Vi a entrevista no Camara Clara em que estava programada uma surpresa para os dois concertos mas ainda não consegui saber qual era.
A noticia do Francisco Menezes tocar teclados em duas ou três canções já estava anunciado.
Se alguém souber... a menos que seja a dedicatória a António Sérgio,
O disco "Memória" inclui um DVD de um concerto ao vivo.
Vi a entrevista no Camara Clara em que estava programada uma surpresa para os dois concertos mas ainda não consegui saber qual era.
A noticia do Francisco Menezes tocar teclados em duas ou três canções já estava anunciado.
Se alguém souber... a menos que seja a dedicatória a António Sérgio,
A "surpresa" terá sido a presença de gaiteiros, não sei se os de Lisboa, porque não os conheço visualmente.
Para o final houve também a presença de um guitarrista que não consegui identificar.
Não houve muitas reportagens sobre o concerto e as duas que li ("Blitz" e "Correio da Manhã") não mencionavam qualquer delas.
E também não se pode dizer que seja "grande surpresa" a presença de gaiteiros.
Surpresa seria sim a presença de Quim Barreiros em desgarrada com Gabriel Gomes.
LT
Muito bom.
A crónica.
O concerto não vi. Infelizmente.
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