Fundado em 1873 por um pasteleiro do Porto, que se radicou em Viseu, o estabelecimento não resistiu à crise que tem afectado o comércio nesta cidade, e encerrou as portas. Quase século e meio depois. Definitivamente?! Só o tempo o dirá.
O anúncio do encerramento, que há muito se adivinhava, feito através de um aviso na porta a informar o fecho para obras, não deixou, mesmo assim, de surpreender uma clientela diária ainda fiel.
“Era inevitável. É a consequência de uma crise que não conseguimos ultrapassar”, lamentou Paulo Gaspar, da gerência do estabelecimento.
A Pastelaria Horta era o último espaço do género que ainda resistia na Rua Formosa. Antes dela, já tinham desaparecido, entre outros, o café Guarany, frente à Agência de Publicações Domingos, Agostinho e Filhos, o café Montanha onde hoje se localiza a Pretexto, o Bijou que acolheu mais tarde a Casa Tavares, os cafés Rossio e Santa Cruz e a pastelaria Santos. Havia ainda a pastelaria Lisboa, no gaveto com a rua dos Combatentes, que servia no rés-do-chão a famosa ginjinha do “João das Catembas”. Isto sem falar das pensões Ideal e Rambóia, e da Casa de Pasto Barreto.
No tempo em que a Rua Formosa era a principal artéria da cidade de Viseu, ponto de encontro de gerações de viseenses e local de visita obrigatória para quem se deslocava à cidade, os cafés e pastelarias eram uma imagem de marca.
A Horta, neste caso, era procurada por quem, de longe, não queria perder a oportunidade de saborear as especialidades regionais que ali tinham o seu santuário, como as castanhas de ovos, os papos de anjo, ou os pastéis de feijão e de Santa Luzia.
“Era a casa mais bem frequentada de toda a região. Ao ponto de, em tempos mais recuados, só ser permitida a entrada a clientes que levassem gravata”, recorda António Barros Correia – Tó como é mais conhecido -, que trabalhou 27 anos no Horta, primeiro como empregado e depois como sócio gerente.
O ex-proprietário lembra, entre outras, as presenças de Mário Soares e Eunice Muñoz. Mas, outras memórias mais antigas, lembram que o escritor Aquilino Ribeiro era cliente diário do estabelecimento.
Quem não se lembra das “estórias” à volta do chá quente e do chá frio do Horta?. Há quem assevere, a pés juntos, que as duas modalidades eram mesmo uma prática na mais fina pastelaria de Viseu, frequentada pela “fina flor” da sociedade local, onde algumas senhoras se recusavam a saborear as deliciosas empadas de lombo de porco com chá quente.
“Para dar a volta ao problema, e com a cumplicidade do empregado de mesa, pediam um chá frio. Nada mais, nada menos, que uma chávena de chá com vinho branco lá dentro. Era uma tarde bem passada”, confirma António Barros Correia.
Fonte: Via Rápida
A pastelaria reabriu em Julho de 2012 com nova gerência, um empresário de Aguiar da Beira.
5 comentários:
O chá frio era uma realidade que também muitos homens praticavam para beber um bom vinho branco da região, normalmente ao lanche com as famosas empadas. As estórias dos vinhos brancos do Dão entroncam com outra realidade. Conta-se que em tempos idos, como os brancos do Dão eram pouco apreciados na zona, iam para a Região da Bairrada, onde apareceu o espumante.
Uma tristeza a perda do Horta de boas memórias e uma boa referência da cidade. Parabéns pelo post.
Eduardo Pinto
Mais uma referência da nossa terra que se vai e com ela um pouco de nós também...
inexorável, voraz, o tempo varre, impiedosamente indiferente, aki e aki, o k a nossa memória gostaria de konservar 'ad eterno'...
o Horta era tudo!...
a malta mais nova, em determinada altura, «dava o ku e cinko tostões» para poder lá entrar, mas, não podendo, estacionava na porta e mesmo ao lado (Rebelo), assobiando e piskando o olho às gajas k, saídas da Eskola Komercial, ao final da tarde, subiam a Rua Direita e por ali passavam, aos magotes, propositadamente para se exibirem e desafiarem, elas tb, o alegre e barulhento pessoal maskulino da «bua»
rekordo k, de vez em kd, o «kagaçal» era tão grande,k o empregado, o SR. Korreia, assomava à porta e enxotava nervoso a rapaziada, mas, daí a minutos todos eles retornavam komo se nada fosse kom eles; e isso era assim toda a santa tardinha...
Foi com tristeza que li a notícia do encerramento da pastelaria Horta, um dos ex-libris da cidade de Viseu.
Das mãos do Sr. Santos, pai da minha grande e saudosa Amiga Zézinha "Horta", saíam iguarias com que nos deliciávamos na infância, juventude e, quando tivemos de partir para estudar, nas férias corríamos a matar saudades das empadas, dos pastéis de feijão,dos caramujos,dos doces de ovos...
Recordo que, no dia em que completei a 3a. classe, corri para casa e pedi de presente à minha Mãe dinheiro para ir ao Horta comprar as célebres bolachas de manteiga com as extremidades cobertas de chocolate. Penso que o pacote chegou a casa vazio...
O atendimento carinhoso do Sr. Américo, a eficiência do Sr. Jorge eram cativantes.
Figuras emblemáticas da nossa terra passavam a tarde nesta pastelaria e, entre elas, não posso deixar de referir a D. Júlia "Veneno" que nos saudava efusivamente quando nos via entrar.
Nunca fui a Viseu que não entrasse no Horta, embora nas últimas vezes com um sentimento de mágoa tanto pela ausência dos Amigos que sempre aí encontrava e entretanto "partiram", como por sentir que se aproximava o fim daquela "instituição".
Quero acreditar que alguém fará ressuscitar o Horta, não destruindo o charme que a casa sempre teve.
Ilda Maria Marques
Agradeço os comoventes testemunhos!
LT
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