Play us an old song, one of your favorites.
Current songs are nice too, but we always seem to prefer the ones
that surprise us and come out of nowhere.
How did we find them? How did they find us?
Andy Cabic
Vetiver não é, apenas, nome de água de colónia barata, como algumas pessoas poderão pensar…
É, também, o nome de uma banda folk constituída em 2004 pelo norte-americano Andy Cabic e que de então para cá tem publicado a um ritmo regular de um CD de dois em dois anos. Este que aqui vêem, “Thing Of The Past”, é de 2008.
Descobri Vetiver por mero acaso, incluída na já lendária colectânea “Golden Apples Of The Sun” que Devendra Banhart lançou em 2004 e onde é suposto estarem alguns dos nomes mais representativos da chamada “Modern Folk”, “Psych Folk”, “Strange Folk” ou lá o que lhe quiserem chamar…
Confesso que não morro de amores por muitos dos personagens que fazem parte dessa colectânea, mas gostei de Vetiver desde a primeira audição.
E foram vários os motivos que me levaram a trazer este disco junto desta Comunidade Bloguista.
Em primeiro lugar, porque a capa é deveras sugestiva, com esta menina que parece saída dos anos sessenta a pegar no vinil de uma forma politicamente correcta e esta estante repleta de LP’s, como aposto que será a sala (ou as salas…!) de muitos de vós.
Depois, porque estou certo de que muitos partilharão também da afirmação de Andy Cabic, que retirei do livrinho que acompanha o CD, no que se refere à magia das “old songs”. E da interrogação, também… O que faz com que, na nossa vida, tivéssemos agarrado umas músicas e deixado escapar outras por entre os dedos…?
Quantas belíssimas músicas serão, para nós, totalmente desconhecidas ou estarão já esquecidas, como tesouros sepultados no fundo do mar à espera desse momento mágico em que damos o mergulho no passado e as trazemos à superfície…? E quantas ficarão por lá escondidas, para sempre…?
Finalmente, porque este é um disco exclusivamente composto por “covers” de músicas compostas e/ou interpretadas por mui nobre gente que já teve os seus tempos áureos, como Derrol Adams, Garland Jeffreys, Loudon Wainwright III, Ian Matthews, Bobby Charles ou Townes van Zandt, cujos nomes não deixarão de dizer qualquer coisa a muitos de vós. E também somos brindados, numa das faixas, com a inesperada aparição dessa verdadeira pérola meio escondida que dá pelo nome Vashti Bunyan…
Quando começamos a olhar com mais cuidado para as capas dos discos que estão espalhadas pelo chão, há coisas que nos despertam a atenção…
Vemos do lado esquerdo, encostado às colunas, um disco de Bobby Charles, o autor de “See You Later Aligator”. É um disco de 1972, em registo Folk, que se chama apenas “Bobby Charles” e do qual faz parte a belíssima “Tennessee Blues”, que me lembro de ter ouvido pela primeira vez na voz de Rita Coolidge e de Kris Kristofferson.
Mas a mim o que mais me interessa é o que vemos no lado direito, “Later That Same Year”, o segundo LP dos Matthews’s Southern Comfort gravado nessa época (1969/72) em que Ian Matthews se encontrava em perfeito estado de graça e nos brindou com as verdadeiras maravilhas que são os seus três primeiros discos a solo, os dois dos Southern Comfort e o primeiro LP dos “Plainsong”.
É claro que esse disco não aparece na capa por mero acaso, mas porque uma das “covers” de Vetiver se chama“Road to Ronderlin”, a última música do lado B de “Later That Same Year”.
Quem me conhece bem sabe da enorme devoção que sempre tive por Ian Mattews, sobretudo o desses primeiros anos. Mas quem me conhece melhor talvez ainda se recorde que “Road To Ronderlin” é, precisamente, uma das músicas de Ian de que mais gosto, e talvez mesmo aquela que escolheria para a tal ilha deserta, se só me fosse permitido levar uma por autor.
Mas outra curiosidade deste disco é que os Vetiver, ao contrário do que fazem noutras “covers”, não se limitam a interpretar “Road To Ronderlin” à sua maneira. Fazem uma verdadeira clonagem da música, em que tudo nos surge praticamente idêntico ao original: Andy Cabic emita até à exaustão a voz e o estilo interpretativo de Ian, o apoio instrumental é literalmente idêntico e as próprias pausas da música também o são…
Não me lembro de ter visto uma coisa assim… Suprema homenagem ou total incapacidade de sair do universo mágico que é o de “Road To Ronderlin”, pelo voz de Ian Matthews…?
Para o caso pouco me importa, tamanho foi o espanto e o prazer por ter reencontrado essa música quase 40 anos depois, recuperada por alguém que deverá ser uns bons trinta anos mais novo do que eu…
Não se trata de pura nostalgia.
Nem sequer daquela pequena vaidadezinha pretensiosa do estilo “vejam lá que eu, quando andei sozinho a pregar no deserto há 40 anos atrás, tinha razão”…
Nem, tão-pouco, de satisfação pura por ter encontrado uma “alma gémea”, 40 anos depois…
É algo mais do que isso. Um prazer muito grande por sentirmos que coisas boas e bonitas do passado, que nos são muito queridas e que julgaríamos enterradas e perdidas para sempre, podem, afinal, reencontrar, em todo o seu esplendor, a luz do dia.
Ou, quem sabe, talvez também a secreta esperança de poder ver, daqui a uns bons 15 ou 20 anos, o meu pequeno neto Francisco voltar-se para mim a perguntar, com aquele arzinho malicioso e provocador que já hoje tem: “Avô, tu que tens a mania que sabes tudo sobre a música do antigamente, conheces um gajo que se chamava Ian Matthews…?”
Já que agora quase só aqui venho com as estações do ano, aproveito a oportunidade para vos desejar um
Excelente Verão!
Um abraço do
Luís Mira
8 comentários:
Belo texto, até eu que não conheço nenhum destes nomes, parece que os consigo ouvir.
Ian Mattews ou Iain Matthews, para mim, antes de tudo o mais é o LP Someday´s you eat the beer and someday´s the beer eats you e a canção Keep on sailing.
Esta canção teúda e manteúda a pedal steel guitar foi durante muitos anos um enigma para mim, porque a versão que aparece naquele disco original não é idêntica a outra versão que também ouvi e gravei e faz parte de outro LP, mais antigo.
O tal disco, Someday´s you eat the beer, foi por mim classificado na altura em que o ouvia no rádios de meados dos setenta como "fenomenal"!
Bom Verão, Luís.
De Loudon Wainright III tenho dois discos - Alive e T-shirt. Este, de meados dos setenta é outro portento.
Amigo Luís,
Como sabes, partilho da tua paixão pela música do Ian Matthews, sendo "If You Saw Thro' My Eyes" (Vertigo, 1971) o meu LP favorito. Sublime!
Dos Vetiver tenho o LP "Tight Knit" (Sub Pop, 2009), comprado no mesmo dia em que descobri os Fleet Foxes...
... curiosamente, nessa mesma altura (2009), aquando de uma das minhas visitas a Lisboa, deparei com um show do Andy Cabit em pleno Bairro Alto!
Quanto ao texto e à imagem apresentada, apenas uma palavra: INSTIGANTE!
Grande abraço, e bom Verão!
São textos como estes que me fazem sentir não ser o "único" maluquinho-da-música deste planeta (sim, eu reparei que há uns quantos desses por estas paragens ;-)).
Mesmo se não sou um grande conhecedor do Ian Matthews, que me é mais familiar pela sua passagem nos Fairport Convention. É um daqueles "tesouros...no fundo do mar" que tenciono descobrir melhor, na sua obra a solo. O parágrafo mais bonito deste texto, com o qual me identifico totalmente, é aquele da permanente descoberta da música, que faz de mim uma espécie de "arqueólogo musical", sem desprezo pelo que se vai (re?)criando actualmente; é que há tanta música ainda por descobrir!
Dos Vetiver conheço faixas dispersas por algumas compilações, e não desgostei. Esta capa é realmente...instigante, como se costuma dizer...
Um óptimo Verão também para o Luís Mira, que quanto a mim devia passar mais por aqui, com os seus textos onde transparece o seu (nosso) amor pela música!
Bom dia Paulo,
Obrigado, mas se eu fosse a ti tentava ouvir as músicas.
Elas são como os charutos... Podem ser cheirados, mas bom mesmo é fumá-los...!
Viva José!
Espero que esteja em boa forma, porque há muito tempo que não o vejo. Fiquei à espera desse tal telefonema da terça-feira, que nunca chegou...
Eu acho que já tivémos esta conversa mas, para o meu gosto muito pessoal, o "Someday..." é o canto do cisne do Ian Matthews, embora ainda se oiça muito bem... Com o "Go for Broke", do ano seguinte (1975) começou o descalabro. O título foi premonitório e o espalhanço grande...!
Ian sempre gostou muito de brincar com o "Keep on Sailing", dando-lhe diferente duração e velocidade. Como vocé refere, já a tinha gravado no ano anterior no "Valley Hi" e haveria de retomá-la mais tarde, sobretudo "ao vivo".
Oi, Seu Filhote!
Esta do "Excelente Verão" não era a gozar contigo, que estarás em pleno Inverno...
É a prova de que, mesmo nestes tempos de globalização, não podemos escrever para todos da mesma forma!
Quando é que voltas...? Aquele jantar do Beato não me saí da memória. Teria sido "the last thing on my mind"..." encontrar Tom Paxton no Beato...!
Quanto a "If you saw thro' my eyes", não podemos estar mais de acordo. Está na minha lista dos 10 melhores!
A Zé dos Bois, no Bairro Alto, tem feito um excelente trabalho na divulgação da boa Folk dos nossos dias.
E que tal o 2ºdos Fleet Foxes...? Desiludiu...?
Caro Carlos, que não tenho o prazer de conhecer,
Se só conhece o Ian Matthews pela sua (curta) passagem nos Faiport, siga o conselho do Filhote e oiça o "If you saw...". É relativamente fácil comprá-lo...
Bom mergulho!
Um abraço a todos!
Luís,
Podes manter o "excelente Verão" que o Inverno do Rio equivale ao Verão de Lisboa. Sem exagero.
Os dias são mais curtos, porém, temos 30º a 35º de dia - com céu azul "direto" -, e uns 18º/20º à noite. Clima de praia, portanto, incluindo o detalhe da água do mar não ser fria...
Quando é que vens cá?
A Lisboa, só devo ir lá mais para o final do ano... e faremos um novo serão musical, claro!
O 2º dos Fleet Foxes, "Helplessness Blues", não desiludiu. Pelo contrário. Abriu novos horizontes...
Grande abraço!
Por aí bem vês a minha ignorância em relação a esses pequenos pormenores do Brasil, Filhote, país onde nunca fui. Mas ainda hei-de ir...
Ficando essa promessa do serão, já ganhei o dia...!
Grande abraço para ti também, enquanto aguardamos notícias de outro segundo. Não o dos Fleet Foxes, mas dos White...!
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