segunda-feira, 30 de março de 2020

HANK WILLIAMS - OS FILMES


Se Hank Williams não teve sorte em muitas coisas na vida, o certo é que também a não teve no que toca aos filmes que sobre ela se debruçaram.

Que eu saiba existem três, um de 1964 e os restantes dois bastante mais recentes. Nenhum deles teve
estreia comercial em Portugal, embora em relação ao primeiro não o possa afirmar com absoluta
certeza...

“I Saw the Light”, realizado em 2016 por Marc Abraham com Todd Hiddleston como protagonista, não teve direito a estreia comercial mas passou há um ano e picos nos canais Telecine.

Para mim é o melhor dos três, embora longe de poder honrar devidamente a memória de Hank Williams.

O narrador do filme é o produtor e compositor Fred Rose, que foi o grande impulsionador da carreira de Hank, e tudo se passa em “flashback”. Começa com o casamento na tal bomba de gasolina da Texaco, e depois revisita os momentos mais relevantes da sua carreira. Neste aspecto, é o mais fidedigno dos três filmes, embora se arraste demasiado na relação de Hank com a mulher, Audrey, para depois meter a martelo o “downfall” de Hank de forma muito pouco credível.

A música do filme é interpretada pelo próprio actor Todd Hiddleston, com o apoio de uma banda, The
Saddle Spring Boys. Não é má e não é por ela que o gato vai às filhoses...

“The Last Ride”, realizado em 2011 por Harry Tomason com Henry Thomas como protagonista debruça-se, tal como o próprio nome indica, sobre os dois últimos dias da vida de Hank Williams.

Mas mais valia que se tivesse dito que o filme era “inspirado em...”, tal a distorção que é feita em relação à realidade dos factos, incluindo o trajecto da própria viagem...

O filme, que não deixa de ser simpático se nos esquecermos de Hank Williams, não pretende ser mais do que a história de uma amizade que em pouco tempo se desenvolve entre quem conduz a viatura e quem vai no banco traseiro. Mas, entre outras coisas, não consta que Charlie Carr tenha encontrado a mulher da sua vida durante essa curta viagem nem, muitos menos, que Hank Williams lhe tenha deixado as chaves do belo Chevrolet azul claro como herança...!

A música não se faz sentir muito durante o filme, mas foi editado o CD com o suposto “soundtrack” no qual, entre outros intérpretes, aparece a filha de Hank, Jett Williams.

Para o fim reservei-os o pior...

“Your Cheatin’ Heart” foi realizado em 1964 por Gene Nelson e tem George Hamilton como
protagonista.

É o único dos três filmes que, embora muito brevemente, evoca a infância de Hank, quando ele andava com uma caixa de engraxar sapatos aos ombros para ganhar uns cobres e a aprender música com Rufus “Tee-Tot” Payne. Mas é um filme sem ponta por onde se lhe pegue, que se borrifa na verdade dos factos, faz de Hank um pobre pateta e não tem outro objetivo senão meter uma música a martelo de cinco em cinco minutos.

O melhor do filme ainda consegue ser a música, interpretada pelo filho de Hank, Hank Williams Jr.

Mas perdoe-se ao rapaz o ter participado neste objecto ultrajante para a memória do seu pai, porque o pobre miúdo não tinha, na altura, mais do que 15 anos de idade...

A culpa deste desastre não é tanto do actor e realizador Gene Nelson mas, sobretudo, do produtor Sam Katzman que, depois de ter deixado o seu nome ligado a alguns curiosos filmes de ficção-científica de série B nos anos 50, descobriu o filão dos teenagers nos anos 60 e encadeou, com a MGM, uma série de banais filmes musicais com os ídolos da adolescência (Elvis, Roy Orbison, Johnny Cash e até Astrud Gilberto e os Herman’s Hermits...), todos eles de muito baixo orçamento, mas que lhe deram a ganhar rios de dinheiro.

Gente deste calibre não morre em quartos de hotel, a não ser em trabalhos de esforço com uma ou duas boas companhias... E, muito menos, no banco traseiro de um automóvel, com a cabeça encostada à janela...

Morre em Hollywood ou em Miami. Refastelados à beira de uma piscina, calções, uma camisa berrante com palmeiras e florzinhas, um boné à Trump na cabeça e um último cocktail colorido na mesinha do lado...

PS:
Não vos envio capa de “I Saw the Light” porque, como vos disse, a minha cópia foi sacada da TV

Texto de Luís Mira

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