Em poucos dias, partiram Lemmy ( fundador dos Motorhead), Michel Delpech e agora David Bowie.
Todos eles padeciam de cancro, essa maldita doença, no caso de Lemmy, este só sobreviveu dois dias após o diagnóstico. Enquanto na generalidade da população ocidental a primeira causa de morte são as doenças cardiovasculares, no meio musical do pop/rock o abuso de drogas e o cancro parecem ser as fatalidades mais comuns. A lista e as perdas são tão imensas como brutalmente lamentáveis.
Não me esquece, dos anos oitenta, uma boleia do Algarve a Lisboa que dei a um casal escocês que pelo caminho me suplicaram que eu pusesse no rádio leitor uma única cassete que traziam, a qual, sobretudo por insistência dos próprios, teve direito a vários “encores” durante toda a viagem. Tratava-se do álbum “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” que então ouvi pela primeira vez. Podiam não trazer um “scotch” nem a indumentária própria dos escoceses, mas não passavam sem a música de David Bowie, mesmo em viagem.
Da minha parte, “Space Oddity”, “Let’s Dance”, “Golden Years”, “Young Americans”, a sua actuação no filme “Feliz Natal Mr. Lawrence” abrilhantado pela música de um outro gigante , Ryuichi Sakamoto, aquele dueto com Mick Jagger no Live Aid, a música “This is not America” acompanhado por Pat Metheny tema de um outro filme , a sua colaboração no álbum “Transformer” de Lou Reed, o “Heroes” filmado numa actuação ao vivo que consta do filme “Christiane F”, tudo isto constitui um património incontornável daqueles anos e são músicas e filmes da minha vida.
A minha experiência Bowiesca é mais prosaica. No liceu havia um coleccionador de discos que um dia trazia o Pin Ups ou o Alladin Sane, ambos de 73. Debaixo do braço que era assim que se mostravam os discos nessa altura. Nunca os ouvi devidamente a não ser trinta ou mais anos depois. Mas ouvi Sorrow que passava no rádio da época, apresentado por um Montenegro, radialista no Porto. É uma canção que me ficou e associo-a a um som dos Steve Harley e os seus Cockney Rebel, como Come up and see me. O hit fatal do Major Tom acompanhou o meu chumbo redondo numa oral em Direito Civil, porque era cantiga que me invadia a memória da cantoria e em vez de estudar o que devia, passei o tempo a divagar pelo espaço sideral do major que ainda nem era o fatal dos desenhos de Moebius, ainda mais interessante artisticamente. A melodia é fixativa como os sprays do género e o pequeno aparte de guitarra acústica, no arpejo a meio da canção, agarra o ouvido.
Depois disso foi um longo tempo que passou por Young Americans ouvido num cartucho que dantes havia para se ouvir nos carros, em vez de cassetes.
O tempo de Low ou Lodger ou mesmo Heroes só me interessou há pouco tempo e considero Low uma verdadeira obra-prima que ouço no vinil original.
Nos oitentas apareceu Let´s Dance que é inebriante e Ashes to ashes que conduz ao tempo das melodias o tal major tom tom.
Pelo meio ficou uma melodia que começa com a menção ao tempo e aos cigarros. Um perigo para quem deixou de fumar há pouco porque conduz inevitavelmente a retomar o vício. Do mesmo calibre que as demais mencionadas, apetece-me agora voltar a ouvir.
E só escrevi este arrazoado porque o que JR escreve é sempre estimulante para estas coisas.
José, Sinto-me lisonjeado em considerar estimulantes os meus comentários e agradeço a sua amabilidade, mas é um exagero porque eles nada são se comparados com toda a viagem ao passado que nos dá o privilégio de proporcionar no Blog “Loja da Esquina” em http://lojadeesquina.blogspot.pt/ ( se não estou equivocado quando à sua autoria naquele Blog, e Mr. IÉ que me desculpe este pecadilho de deslealdade ao fazer aqui referência à “concorrência”)
Na verdade, Einstein estava certo, é possível viajar no passado, quanto mais não seja em matérias de música, hi-fi, banda desenhada e outras paixões onde o espaço-tempo fica contraído numa Esquina e onde podemos rever até anúncios de Hi-Fi, capas de revistas que nos são tão familiares quase como se tivéssemos a arrumar o sótão das nossas memórias. Aqui e ali, referências também a títulos de músicas assim como o refinamento auditivo do vinil a chamar atenção a subtis particularidades e cambiantes sonoros próprios que só os ouvidos de um alquimista do som podem discernir, pormenores, melhor, pormaiores que nos passaram despercebidos de todo, merecendo sempre uma segunda audição, como é o caso do apontado “Low” verdadeiramente muito ”High”. Pior que uma má música são uns maus ouvidos e eu apenas sou um aprendiz iniciático na feitiçaria do som correndo sempre o risco de tropeçar na vassoura.
Daí que, em matéria de estímulos, não espere pelos meus comentários e faça o favor de tomar a dianteira partilhando aquilo que tanto o distingue.
JR PS: No tocante à discussão de quantos Nºs 1 do mercado americano atingiu Bowie penso que isso, embora não desprezível, não seja muito relevante. Bowie terá para sempre um lugar cativo na primeira linha da história do pop/rock dos 70s e 80s. Se por acaso só teve um único nº1, consegui melhor que, entre outros, Dylan, Springsteen, Hendrix, The Who, Bob Marley, The Clash, Nirvana, Ramones , Kinks, como se pode notar, uns meros cantores de baile e bandas de garagem cuja ineptidão nunca os poderia elevar ao etéreo Olimpo do Top 1 americano, o qual, tal como um fugaz foguete, pode explodir bem no alto para visão e audição de todos mas logo cai queimado e inanimados no chão, ao invés de outros que sem tanta altitude nos conquistaram permanentemente pela sua extrema latitude com pés bem assentes no chão.
Madame Thussaud?
ResponderEliminaracho que foi numa extensão da madame thussauds no london pavillium...
ResponderEliminarLT
Quando lá fui, havia uma extensão do museu, em Picadilly, só dedicada ao Rock, era o Rock Circus, mas já foi em 1994....
ResponderEliminarEm poucos dias, partiram Lemmy ( fundador dos Motorhead), Michel Delpech e agora David Bowie.
ResponderEliminarTodos eles padeciam de cancro, essa maldita doença, no caso de Lemmy, este só sobreviveu dois dias após o diagnóstico. Enquanto na generalidade da população ocidental a primeira causa de morte são as doenças cardiovasculares, no meio musical do pop/rock o abuso de drogas e o cancro parecem ser as fatalidades mais comuns. A lista e as perdas são tão imensas como brutalmente lamentáveis.
Não me esquece, dos anos oitenta, uma boleia do Algarve a Lisboa que dei a um casal escocês que pelo caminho me suplicaram que eu pusesse no rádio leitor uma única cassete que traziam, a qual, sobretudo por insistência dos próprios, teve direito a vários “encores” durante toda a viagem. Tratava-se do álbum “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” que então ouvi pela primeira vez. Podiam não trazer um “scotch” nem a indumentária própria dos escoceses, mas não passavam sem a música de David Bowie, mesmo em viagem.
Da minha parte, “Space Oddity”, “Let’s Dance”, “Golden Years”, “Young Americans”, a sua actuação no filme “Feliz Natal Mr. Lawrence” abrilhantado pela música de um outro gigante , Ryuichi Sakamoto, aquele dueto com Mick Jagger no Live Aid, a música “This is not America” acompanhado por Pat Metheny tema de um outro filme , a sua colaboração no álbum “Transformer” de Lou Reed, o “Heroes” filmado numa actuação ao vivo que consta do filme “Christiane F”, tudo isto constitui um património incontornável daqueles anos e são músicas e filmes da minha vida.
RIP
JR
Mas o que é certo, JR, é que Bowie só conseguiu um 1º lugar nos Estados Unidos com a ajuda de John Lennon.
ResponderEliminarJack Kerouac, se calhar é mesmo no Rock Circus...
LT
Mas o que é certo, JR, é que Bowie só conseguiu o seu 1º lugar nos Estados Unidos com a ajuda de John Lennon.
ResponderEliminarLet's Dance também chegou a nº1
https://en.wikipedia.org/wiki/Let%27s_Dance_(David_Bowie_song)
Eu disse - e mantenho! - o seu 1º lugar.
ResponderEliminar"Fame" é de 1975, salvo erro, enquanto "Let's Dance" é de 1983.
LT
Sim, julgo que o único número 1 americano é o Fame...
ResponderEliminarA minha experiência Bowiesca é mais prosaica. No liceu havia um coleccionador de discos que um dia trazia o Pin Ups ou o Alladin Sane, ambos de 73. Debaixo do braço que era assim que se mostravam os discos nessa altura.
ResponderEliminarNunca os ouvi devidamente a não ser trinta ou mais anos depois. Mas ouvi Sorrow que passava no rádio da época, apresentado por um Montenegro, radialista no Porto. É uma canção que me ficou e associo-a a um som dos Steve Harley e os seus Cockney Rebel, como Come up and see me.
O hit fatal do Major Tom acompanhou o meu chumbo redondo numa oral em Direito Civil, porque era cantiga que me invadia a memória da cantoria e em vez de estudar o que devia, passei o tempo a divagar pelo espaço sideral do major que ainda nem era o fatal dos desenhos de Moebius, ainda mais interessante artisticamente. A melodia é fixativa como os sprays do género e o pequeno aparte de guitarra acústica, no arpejo a meio da canção, agarra o ouvido.
Depois disso foi um longo tempo que passou por Young Americans ouvido num cartucho que dantes havia para se ouvir nos carros, em vez de cassetes.
O tempo de Low ou Lodger ou mesmo Heroes só me interessou há pouco tempo e considero Low uma verdadeira obra-prima que ouço no vinil original.
Nos oitentas apareceu Let´s Dance que é inebriante e Ashes to ashes que conduz ao tempo das melodias o tal major tom tom.
Pelo meio ficou uma melodia que começa com a menção ao tempo e aos cigarros. Um perigo para quem deixou de fumar há pouco porque conduz inevitavelmente a retomar o vício. Do mesmo calibre que as demais mencionadas, apetece-me agora voltar a ouvir.
E só escrevi este arrazoado porque o que JR escreve é sempre estimulante para estas coisas.
José,
ResponderEliminarSinto-me lisonjeado em considerar estimulantes os meus comentários e agradeço a sua amabilidade, mas é um exagero porque eles nada são se comparados com toda a viagem ao passado que nos dá o privilégio de proporcionar no Blog “Loja da Esquina” em
http://lojadeesquina.blogspot.pt/
( se não estou equivocado quando à sua autoria naquele Blog, e Mr. IÉ que me desculpe este pecadilho de deslealdade ao fazer aqui referência à “concorrência”)
Na verdade, Einstein estava certo, é possível viajar no passado, quanto mais não seja em matérias de música, hi-fi, banda desenhada e outras paixões onde o espaço-tempo fica contraído numa Esquina e onde podemos rever até anúncios de Hi-Fi, capas de revistas que nos são tão familiares quase como se tivéssemos a arrumar o sótão das nossas memórias. Aqui e ali, referências também a títulos de músicas assim como o refinamento auditivo do vinil a chamar atenção a subtis particularidades e cambiantes sonoros próprios que só os ouvidos de um alquimista do som podem discernir, pormenores, melhor, pormaiores que nos passaram despercebidos de todo, merecendo sempre uma segunda audição, como é o caso do apontado “Low” verdadeiramente muito ”High”.
Pior que uma má música são uns maus ouvidos e eu apenas sou um aprendiz iniciático na feitiçaria do som correndo sempre o risco de tropeçar na vassoura.
Daí que, em matéria de estímulos, não espere pelos meus comentários e faça o favor de tomar a dianteira partilhando aquilo que tanto o distingue.
JR
PS: No tocante à discussão de quantos Nºs 1 do mercado americano atingiu Bowie penso que isso, embora não desprezível, não seja muito relevante. Bowie terá para sempre um lugar cativo na primeira linha da história do pop/rock dos 70s e 80s. Se por acaso só teve um único nº1, consegui melhor que, entre outros, Dylan, Springsteen, Hendrix, The Who, Bob Marley, The Clash, Nirvana, Ramones , Kinks, como se pode notar, uns meros cantores de baile e bandas de garagem cuja ineptidão nunca os poderia elevar ao etéreo Olimpo do Top 1 americano, o qual, tal como um fugaz foguete, pode explodir bem no alto para visão e audição de todos mas logo cai queimado e inanimados no chão, ao invés de outros que sem tanta altitude nos conquistaram permanentemente pela sua extrema latitude com pés bem assentes no chão.