Rio Arena, 8 de Março de 2008. Bob Dylan.
" Ele hoje está, hein!? Puta que o pariu!"
Exclamação de um carioca quando foi sentenciado o compasso final de Masters of War. Momento da noite. Pelo inusitado comentário e pela interpretação renovada e intensa. Plateia delirante. Quase chorei de emoção, quase…
E tal como a canção anti-bélica de Freewheelin’, os outros clássicos sofreram mudanças quanto a ritmo, arranjo instrumental, e à própria harmonia. Para melhor, nalguns casos. Highway 61 Revisited e My Back Pages superaram as versões originais. Dylan está com a razão. The Times They Are A-Changing, e é preciso olhar para trás, sim, mas sempre com uma visão moderna do passado.
Por isso, Modern Times monopoliza o show. E ainda bem. Para um grande disco, um espectáculo de sonho. Não estava à espera, confesso, de assistir a um dos concertos da minha vida.
A banda, comandada por Dylan e pelo virtuoso guitarrista texano Denny Freeman, é de uma competência impressionante, conseguindo alternar dinâmicas pujantes de puro Rock’n’Roll – Summer Days –, com ambientes suaves e líricos – When the Deal Goes Down. E não só. Faz-nos viajar pela América profunda.
No palco, cenário e iluminação minimalistas, figurinos tradicionais, disposição dos músicos – bem juntos, em permanente contacto visual –, transportam-nos para um imaginário clube do interior norte-americano.
Depois, no centro das atenções, a voz de um sobrevivente. Rouca, mas potente. Repleta de alma e expressão. Uma lição de vida. A Fender Stratocaster – que Dylan só usou nos 3 primeiros temas, passando logo para o teclado –, e ainda a inconfundível harmónica.
John Lennon cantou, "don’t believe in Zimmermann". Eu também não acredito. Custa-me a acreditar em tamanha genialidade.
Ponto de vista: arquibancada 1º nível, bem junto ao palco.
Setlist:
Rainy Day Women # 12 & 35
It Ain’t Me Babe
I’ll Be Your Baby Tonight
Masters of War
The Levee’s Gonna Break
Spirit on the Water
Things Have Changed
Workingman’s Blues # 2
My Back Pages
Honest With Me
When the Deal Goes Down
Highway 61 Revisited
Nettie Moore
Summer Days
Like a Rolling Stone
Thunder on the Mountain (encore)
Blowin’ in the Wind (encore)
Do Rio de Janeiro, Pedro de Freitas Branco.
" Ele hoje está, hein!? Puta que o pariu!"
Exclamação de um carioca quando foi sentenciado o compasso final de Masters of War. Momento da noite. Pelo inusitado comentário e pela interpretação renovada e intensa. Plateia delirante. Quase chorei de emoção, quase…
E tal como a canção anti-bélica de Freewheelin’, os outros clássicos sofreram mudanças quanto a ritmo, arranjo instrumental, e à própria harmonia. Para melhor, nalguns casos. Highway 61 Revisited e My Back Pages superaram as versões originais. Dylan está com a razão. The Times They Are A-Changing, e é preciso olhar para trás, sim, mas sempre com uma visão moderna do passado.
Por isso, Modern Times monopoliza o show. E ainda bem. Para um grande disco, um espectáculo de sonho. Não estava à espera, confesso, de assistir a um dos concertos da minha vida.
A banda, comandada por Dylan e pelo virtuoso guitarrista texano Denny Freeman, é de uma competência impressionante, conseguindo alternar dinâmicas pujantes de puro Rock’n’Roll – Summer Days –, com ambientes suaves e líricos – When the Deal Goes Down. E não só. Faz-nos viajar pela América profunda.
No palco, cenário e iluminação minimalistas, figurinos tradicionais, disposição dos músicos – bem juntos, em permanente contacto visual –, transportam-nos para um imaginário clube do interior norte-americano.
Depois, no centro das atenções, a voz de um sobrevivente. Rouca, mas potente. Repleta de alma e expressão. Uma lição de vida. A Fender Stratocaster – que Dylan só usou nos 3 primeiros temas, passando logo para o teclado –, e ainda a inconfundível harmónica.
John Lennon cantou, "don’t believe in Zimmermann". Eu também não acredito. Custa-me a acreditar em tamanha genialidade.
Ponto de vista: arquibancada 1º nível, bem junto ao palco.
Setlist:
Rainy Day Women # 12 & 35
It Ain’t Me Babe
I’ll Be Your Baby Tonight
Masters of War
The Levee’s Gonna Break
Spirit on the Water
Things Have Changed
Workingman’s Blues # 2
My Back Pages
Honest With Me
When the Deal Goes Down
Highway 61 Revisited
Nettie Moore
Summer Days
Like a Rolling Stone
Thunder on the Mountain (encore)
Blowin’ in the Wind (encore)
Do Rio de Janeiro, Pedro de Freitas Branco.
Por exclusiva responsabilidade minha sou um dos desencantados de Bob Dylan. Troca de passos quando os tempos estavam a mudar. Um dia no “Em Órbita” alguém disse de Bob Dylan: “um genial cabotino”. Não mais esqueci a frase. Em 1969, no “Estúdio” do Cinema Império vi “Don’t Look Back” de D.A. Pennebaker, a discussão sobre o cinema-verdade. “Só me resta olhar para o umbigo”. “No Diretion Home” de Scorcese. O mistário continua. Like a Rolling Stone. “Nunca quis ser um profeta. Fiz canções não fiz sermões.”
ResponderEliminarFim dos sonhos? Órfão de Mr. Zimmermann?
(”O café agora é um banco, tu professora de liceu; Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu. Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes, e não caminhos para andar como dantes”, Manuel António Pina).
É assim que envelhecemos...
Mas gostava muito de ter estado no Rio Arena.
Não sofro dessas desilusões. Sou de outra geração. Porém, compreendo-as.
ResponderEliminarPara mim, o que importa em Dylan é a belíssima música que fez e faz, e as histórias que conta. E ainda bem que enriqueceu. É sinal que lhe foi feita justiça, e que milhares de pessoas lhe compraram os discos.
E ainda bem que Che morreu. Quem o aturaria durante séculos a fio?
(isto, sem retirar o brilhantismo do texto de Manuel António Pina... rsrrsrs...)
O texto do Manuel António Pina é retirado do poema “Esplanada”:
ResponderEliminar“Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares
Envelhecemos todos, tu e a discussão,
agora lês saramagos & coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.
O café agora é um banco, tu professora de liceu;
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos por onde andar como dantes.