terça-feira, 14 de novembro de 2017
CANÇÕES DE AMOR
DISCOS ESTORIL LD 5018
16 Fados Famosos em Ritmo de Baile pelo Conjunto Shegundo Galarza
Mariana – Fado Amália – Fado Mayer – Lisboa Antiga – Canção do Mar – Ai Mouraria – Fado Malhoa – Anda Comigo – Fado Teresinha – Canção do Moinho – Fado dos Alamares – O Fado e Lisboetas – Não me Esqueceste – Maria da Conceição – Sempre que Lisboa Canta – Não Sei Porque Te Foste Embora
Tem de Shegundo Galarza uma memória antiga.
Se os galegos vieram para Portugal vender água e montar tascos, este basco de Segura, Guipúscoa, nos anos 50, veio para Portugal ganhar a vida, tocando no Casino Estoril.
Mas a memória antiga não o remete para o Casino Estoril, antes para aqueles «TV Clube» da televisão a preto e branco: Shegundo Galarza e os seus Violinos, Shegundo Galarza e o seu Conjunto.
Certa vez, Carlos Menezes apareceu a tocar guitarra hawaiana e guardou o espantado prazer que isso lhe causou.
A capa deste long-play, 33 1/3 (presumo que de 10" - nota do editor) de Shegundo Galarza, a tocar fados famosos, é uma verdadeira delícia.
Consegue ler-se a autoria: A. Belo Marques que ele admite, apenas isso, ser Álvaro Belo Marques director comercial no «República», director de programas da Emissora Nacional-pós-25-de-Abril, amigo íntimo de Mário-Henrique Leiria, sim, esse mesmo, o Mário-dos-Contos-do-Gin-Tonic, e filho do maestro Belo Marques, director da Orquestra da Emissor a Nacional.
Shegundo Galarza também tocava nos chás dançantes e nos jantares do «Restaurante Mónaco», esse mesmo o da célebre curva na marginal.
Desses jantares leu que eram frequentados pelos ministros de Salazar que, enquanto discutiam os problemas desse reino que ia do Minho a Timor, ouviam, em fundo, Galarza e entre esses ministros estava Baltazar Rebelo de Sousa, o pai do nosso Presidente dos Afectos que há dias, sem consulta popular, decididu que Dona Maria Cavaco Silva era, há mais de vinte anos, madrinha dos portugueses pelo apoio a várias instituições de solidariedade nas últimas décadas.
Neste passo da escrita, não resiste em ir buscar prosa de Pedro Bandeira Freire, do livro «Entrefitas e Entretelas», esse homem de sete instrumentos a quem devemos o inesquecível «Quarteto», mítica sala ali Rua Flores de Lima, pleno das Avenidas Novas que, já em clara decadência, fechou portas em Novembro de 2007 – porra! dez anos já lá vão! - e que, segundo notícias que leu, por Fevereiro deste ano, ia ser transformado em edifício de escritórios:
Havia noites em que as senhoras presentes rodeavam o Galarza e ele, por vaidade, ficava imparável e não deixava de dedilhar o piano. Feliz com os dedos a correrem pelas teclas, por momentos inclinando a cabeça para trás, em busca do acorde perfeito, para ouvir melhor ou apenas para dar um ar de músico transcendente e melhor excitar as madames que estavam na sala.
Numa dessas noites de sublime inspiração, o João Franco, com a bebedeira que ainda conservaria se por cá ainda estivesse, encostou-se ao piano e durante muito tempo – o Galarza estava no seu melhor – não tirou os olhos daqueles dedos que corriam desvairados pelas teclas brancas e pretas e, com certeza às vezes pelas duas, digo eu, como se fossem autónimos ou então conduzidos por um ente celestial. Quando acabou, martelando, no bom sentido, o piano com todo o entusiasmo, levantando-se ao mesmo tempo que erguia os braços como os grandes concertistas, recebeu os mais calorosos aplausos. Tinha sido excepcional e o Joâo estava de olhos esbugalhados. De tal forma, que o Galarza lhe perguntou: «Às gostado de mé ouvir?»
E o João respondeu-lhe: «Aqui não se trata de gostar ou de não gostar. O que é espantoso é a tua força, o teu vigor, a forma como tocas. Vê-se mesmo que gostas muito de tocar, não gostas?»
E o Galarza: «Si me gusta? Me encanta!»
E o João: «Então, se é assim, porque é que não aprendes?...»
Foi corrido porta fora pelo porteiro e pelo próprio Galarza ficando com a entrada cortada.
Texto de Gin-Tonic
História deliciosa...
ResponderEliminarE digam lá se esta prosa não é uma delícia!
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