E eu que pensava que o início do movimento ié-ié já tinha acontecido em 1956 com “Rock 'n' Roll Rag” do Conjunto Jorge Machado e sobretudo em 1960 com a primeira edição do concurso "Caloiros da Canção" da Rádio Renascença em que sairam vitoriosos o nosso Daniel Bacelar na modalidade “solo “e “Os Conchas”na modalidade de conjuntos, estes os “caloiros” do ié-íé, sem esquecer o cinematográfico Zeca do Rock (que recentemente nos deixou – RIP ) e que fazem parte da colectânea "Óculos de So" que tem como director artístico, adivinhem quem.
Ele há cada surpresa ! Os óculos de sol embaciaram ?
ERRATA: Colectânea "Caloiros da Canção" em vez da "Óculos de Sol" que também existe mas que, por erro, citei, talvez ofuscado pelo sol próprio desta época.
Sem querer fazer de advogado de ninguém, até porque seria irónico, parece-me que o JR está a confundir primeiras manifestações de Rock em Português, ou feito por portugueses, com o início de um movimento. Zeca do Rock, Conchas, Daniel Bacelar, Jorge Machado e poucos mais, foram situações isoladas, não fizeram parte nem deram origem a um movimento. O filme Mocidade em Férias, com os vários concursos e actuações nos intervalos das projecções, deram origem à multiplicação de Conjuntos, grande parte deles formados propositadamente para entrarem nos concursos. Daí poder dizer-se que o movimento Ié-ié em Portugal teve início nesta altura. O que não impede que antes já existissem alguns exemplos como os citados. Isto é uma interpretação ao correr da pena, não foi nenhuma investigação rigorosa.
Eu penso como o Jack Kerouac, até porque o "movimento ié-ié" em Portugal nunca poderia ter surgido antes dos Beatles em Inglaterra. Seria contra natura.
Ou seja, o primeiro disco ié-ié português (melhor dizendo, de rock) é, de facto, de 1960, com os Conchas e Daniel Bacelar e, logo a seguir, Zeca Rock.
Há aqui como que um "ié-ié retroactivo".
E é verdade também, como diz Zeca do Rock, que as primeiras sementes foram lançadas em Portugal em 1955 com a exibição de "Sementes de Violência".
Mas, como bem nota Jack Kerouac, o verdadeiro "movimento ié-ié", surge com o filme "Mocidade em Férias", como está dito.
Foi a partir daí, ainda numa "fase Shadows", que surgem os conjuntos.
A "fase Beatles" surge pouco depois, sobretudo a partir do Concurso Ié-Ié no Monumental (1965).
E acho que dizes muito bem, até porque antes dos concursos "Tipo Shadows", a influencia da musica francesa e italiana era predominante entre os conjuntos existentes em Portugal, essencialmente conjuntos de baile. Para mim a grande diferença entre os conjuntos que existiam antes e os que surgiram na onda dos concursos, isto é apenas uma teoria minha, é que antes os conjuntos eram profissionais, tocavam o que fosse preciso para ganhar dinheiro, era uma profissão. Os Conjuntos Ié-Ié, eram compostos por musicos mais jovens, normalmente, que tocavam por gostarem de música, a maior parte deles nem devia ganhar para pagar as despesas, que tocavam aquilo que gostavam e começaram a compor os seus originais. Na fronteira disto apareceu o Conjunto João Paulo, que tinha características de Grupo de Baile mas também andou pelo Ié-Ié, embora se note que estavam muito mais à vontade a cantar em Francês, Italiano ou Português, do que nos ritmos da British Invasion.
Está então explicado o alcance de "pontapé de saída no movimento ié-ié em Portugal".
Só uma importante ressalva. Salvo melhor opinião, o ié-ié não se pode resumir à "British Invasion", Beatles incluídos, mas também às influências norte-americanas pré-Beatles, influências estas que não deixaram de determinar aquelas. Não por acaso Daniel Bacelar era consirado o Ricky Nelson português e Joaquim Costa era apelidado como o Elvis de Campolide.
De referir ainda que, ainda em 1955, Freitas Morna, Heinz Worner e, Walter Behrend formam no Porto e num ambiente de estudantes primeiro conjunto rock em Portugal.
Casos isolados serão, tal como um pontapé de saída pode ser uma singularidade, ainda assim não negligíveis até porque os discos de jorge Machado, Daniel, Conchas, Zeca, e até alguns discos "ad-hoc" de edição limitada estão aí para o provar.
Os dois primeiros álbuns dos Beatles, "Please Please Me" e "With The Beatles", contêm uma dúzia de "covers" de compositores norte-americanos.Uma DÚZIA!
Quer isto dizer que, antes da "British Invasion" tinha havido uma "American Invasion" não só aos seus ex-colonos, mas também a terras lusas, tendo por generais da legião estrangeira, entre outros, o Ricky Nelson português, o Elvis de Campolide e o Nelo do Twist, além dos citados.
Junot, Soult e Masséna tinham sido derrotados mas ninguém a conseguiu conter a invasão americana, nas ilhas britânicas e aqui.
“Uma imagem vale mais que mil palavras” Um vídeo também .
Para quem quiser saber mais sobre Joaquim Costa, o Elvis de Campolide, (não, ainda não haviam as Torres das Amoreiras e o seu Shopping ), e sobre a música que ele cantava ou o acetato “ad-hoc” 78 rpm gravado na Rádio Graça em 1959, nada como aceder a esse momento de revivalismo onde não faltaram as câmaras de tv, o que pode ser feito aqui :
http://videos.sapo.pt/9yPwD42gPWDZhafDJ3o0
Chamo particular atenção para o facto de, sendo o rock marginalizado pelas autoridades, então mais propensas a aceitar o folclore e nacional-cançonetismo, epifenómenos singulares como este e todos os outros citados mais deveriam ser objecto de atenção e valorização até pelo seu pioneirismo como a crista rebelde de uma onda singular no meio do oceano pacífico imposto pelo regime.
Fazer ié-ié depois dos Beatles é relativamente fácil. Fazer antes era muito mais difícil, o que, no meu modesto entender, mais valorizável tende a ser.
E eu que tenho muito apreço pelos Beatles sobretudo no percurso desde Strawberry Fields até Abbey Road. Mas todos os percusoa têm também uma estrada que os precede.
Então, pré-Beatles da fase EMI, creio que poderemos compulsar :
- O agrupamento formado no Porto em 1955 por Freitas Morna, Heinz Worner e Walter Behrend;
- O conjunto Jorge Machado que em 1956 viu editada a música “Rock 'n' Roll Rag”;
- José Cid integrado nos Babies com uma aparição televisiva em 1958 ;
- Joaquim Costa, o Elvis de Campolide, com um acetato gravado em 1959 na Rádio Graça ( quem o nega terá o ónus de o provar e não se ficar apenas e só por uma insinuação abstracta, mais ainda quando o visado já não se encontra entre nós para se poder defender – RIP- , aliás, não é fácil enfiar carapuças simultaneamente à Sic, Maxim’s, Groovie Records, Blog Ié-Ié etc., o próprio mostra no referido vídeo o álbum de fotografias das suas actuações que não parecem obra do Photoshop ). Mas é evidente que não podemos comparar a relevância de um acetato “ad-hoc” que até se poderia conseguir nalgumas estações dos Correios, com uma edição comercial. Para mais referências deste: http://guedelhudos.blogspot.pt/2008/02/morreu-joaquim-costa.html
-Daniel Bacelar, o Ricky Nelson português vencedor a “solo” dos Caloiros da Canção e cantor no primeiros disco comercial de ié-ié em 1960 ;
- Os Conchas, vencedores na modalidade de conjuntos dos Caloiros da Canção e presença no primeiro disco comercial de ié-ié “ex aequo” com Daniel Bacelar em 1960;
- Zeca do Rock, que proferiu o primeiro “yeah” num disco comercial português de 1961 e o primeiro “rocker” cinematográfico português num filme de 1963;
- Armindo do Rock , acompanhado pelo conjunto Tony Araújo em 1961 ;
- Nelo do Twist, citado no referido artigo do Público ;
E não deve ficar por aqui a lista “tutti frutti” pré-Beatles da fase EMI.
O meu VIVA a todos eles, porque, como referi, era muito mais árduo ser ié-ié ou “rocker” antes dos “limpinhos” Beatles de 1962.
E eu que pensava que o início do movimento ié-ié já tinha acontecido em 1956 com “Rock 'n' Roll Rag” do Conjunto Jorge Machado e sobretudo em 1960 com a primeira edição do concurso "Caloiros da Canção" da Rádio Renascença em que sairam vitoriosos o nosso Daniel Bacelar na modalidade “solo “e “Os Conchas”na modalidade de conjuntos, estes os “caloiros” do ié-íé, sem esquecer o cinematográfico Zeca do Rock (que recentemente nos deixou – RIP ) e que fazem parte da colectânea "Óculos de So" que tem como director artístico, adivinhem quem.
ResponderEliminarEle há cada surpresa !
Os óculos de sol embaciaram ?
http://guedelhudos.blogspot.pt/2010/01/primeiro-disco-ie-ie-portugues.html
Sobre o início vale a pena espreitar a resenha do “Público”:
http://www.publico.pt/cultura/noticia/e-no-inicio-era-o-yeye-1468625
JR
ERRATA:
ResponderEliminarColectânea "Caloiros da Canção" em vez da "Óculos de Sol" que também existe mas que, por erro, citei, talvez ofuscado pelo sol próprio desta época.
JR
Sem querer fazer de advogado de ninguém, até porque seria irónico, parece-me que o JR está a confundir primeiras manifestações de Rock em Português, ou feito por portugueses, com o início de um movimento. Zeca do Rock, Conchas, Daniel Bacelar, Jorge Machado e poucos mais, foram situações isoladas, não fizeram parte nem deram origem a um movimento. O filme Mocidade em Férias, com os vários concursos e actuações nos intervalos das projecções, deram origem à multiplicação de Conjuntos, grande parte deles formados propositadamente para entrarem nos concursos. Daí poder dizer-se que o movimento Ié-ié em Portugal teve início nesta altura. O que não impede que antes já existissem alguns exemplos como os citados.
ResponderEliminarIsto é uma interpretação ao correr da pena, não foi nenhuma investigação rigorosa.
Cumprimentos
Eu penso como o Jack Kerouac, até porque o "movimento ié-ié" em Portugal nunca poderia ter surgido antes dos Beatles em Inglaterra. Seria contra natura.
ResponderEliminarOu seja, o primeiro disco ié-ié português (melhor dizendo, de rock) é, de facto, de 1960, com os Conchas e Daniel Bacelar e, logo a seguir, Zeca Rock.
Há aqui como que um "ié-ié retroactivo".
E é verdade também, como diz Zeca do Rock, que as primeiras sementes foram lançadas em Portugal em 1955 com a exibição de "Sementes de Violência".
Mas, como bem nota Jack Kerouac, o verdadeiro "movimento ié-ié", surge com o filme "Mocidade em Férias", como está dito.
Foi a partir daí, ainda numa "fase Shadows", que surgem os conjuntos.
A "fase Beatles" surge pouco depois, sobretudo a partir do Concurso Ié-Ié no Monumental (1965).
Digo eu.
LT
E acho que dizes muito bem, até porque antes dos concursos "Tipo Shadows", a influencia da musica francesa e italiana era predominante entre os conjuntos existentes em Portugal, essencialmente conjuntos de baile. Para mim a grande diferença entre os conjuntos que existiam antes e os que surgiram na onda dos concursos, isto é apenas uma teoria minha, é que antes os conjuntos eram profissionais, tocavam o que fosse preciso para ganhar dinheiro, era uma profissão. Os Conjuntos Ié-Ié, eram compostos por musicos mais jovens, normalmente, que tocavam por gostarem de música, a maior parte deles nem devia ganhar para pagar as despesas, que tocavam aquilo que gostavam e começaram a compor os seus originais. Na fronteira disto apareceu o Conjunto João Paulo, que tinha características de Grupo de Baile mas também andou pelo Ié-Ié, embora se note que estavam muito mais à vontade a cantar em Francês, Italiano ou Português, do que nos ritmos da British Invasion.
ResponderEliminarEstá então explicado o alcance de "pontapé de saída no movimento ié-ié em Portugal".
ResponderEliminarSó uma importante ressalva. Salvo melhor opinião, o ié-ié não se pode resumir à "British Invasion", Beatles incluídos, mas também às influências norte-americanas pré-Beatles, influências estas que não deixaram de determinar aquelas. Não por acaso Daniel Bacelar era consirado o Ricky Nelson português e Joaquim Costa era apelidado como o Elvis de Campolide.
De referir ainda que, ainda em 1955, Freitas Morna, Heinz Worner e, Walter Behrend formam no Porto e num ambiente de estudantes primeiro conjunto rock em Portugal.
Casos isolados serão, tal como um pontapé de saída pode ser uma singularidade, ainda assim não negligíveis até porque os discos de jorge Machado, Daniel, Conchas, Zeca, e até alguns discos "ad-hoc" de edição limitada estão aí para o provar.
Cumprimentos
JR
Só mais uma nota.
ResponderEliminarOs dois primeiros álbuns dos Beatles, "Please Please Me" e "With The Beatles", contêm uma dúzia de "covers" de compositores norte-americanos.Uma DÚZIA!
Quer isto dizer que, antes da "British Invasion" tinha havido uma "American Invasion" não só aos seus ex-colonos, mas também a terras lusas, tendo por generais da legião estrangeira, entre outros, o Ricky Nelson português, o Elvis de Campolide e o Nelo do Twist, além dos citados.
Junot, Soult e Masséna tinham sido derrotados mas ninguém a conseguiu conter a invasão americana, nas ilhas britânicas e aqui.
Cumprimentos
JR
joaquim costa? não sei quem é! que discos gravou?
ResponderEliminarBem dito JR,
ResponderEliminarEsta mania dos Beatles, e mais Beatles, como se fossem "deuses", não está com nada.
Gostei de ler essa msg JR.
Os meus sinceros parabéns!!!
qual mensagem? escapou-me...
ResponderEliminar“Uma imagem vale mais que mil palavras”
ResponderEliminarUm vídeo também .
Para quem quiser saber mais sobre Joaquim Costa, o Elvis de Campolide, (não, ainda não haviam as Torres das Amoreiras e o seu Shopping ), e sobre a música que ele cantava ou o acetato “ad-hoc” 78 rpm gravado na Rádio Graça em 1959, nada como aceder a esse momento de revivalismo onde não faltaram as câmaras de tv, o que pode ser feito aqui :
http://videos.sapo.pt/9yPwD42gPWDZhafDJ3o0
Chamo particular atenção para o facto de, sendo o rock marginalizado pelas autoridades, então mais propensas a aceitar o folclore e nacional-cançonetismo, epifenómenos singulares como este e todos os outros citados mais deveriam ser objecto de atenção e valorização até pelo seu pioneirismo como a crista rebelde de uma onda singular no meio do oceano pacífico imposto pelo regime.
Fazer ié-ié depois dos Beatles é relativamente fácil.
Fazer antes era muito mais difícil, o que, no meu modesto entender, mais valorizável tende a ser.
E eu que tenho muito apreço pelos Beatles sobretudo no percurso desde Strawberry Fields até Abbey Road. Mas todos os percusoa têm também uma estrada que os precede.
"On the Road Again"
JR
ou
ResponderEliminar"The Long and Widing Road"
JR
Viva o Armindo do Rock e o Nelo do Twist! Qual Joaquim Costa, qual carapuça!
ResponderEliminarEntão, pré-Beatles da fase EMI, creio que poderemos compulsar :
ResponderEliminar- O agrupamento formado no Porto em 1955 por Freitas Morna, Heinz Worner e Walter Behrend;
- O conjunto Jorge Machado que em 1956 viu editada a música “Rock 'n' Roll Rag”;
- José Cid integrado nos Babies com uma aparição televisiva em 1958 ;
- Joaquim Costa, o Elvis de Campolide, com um acetato gravado em 1959 na Rádio Graça ( quem o nega terá o ónus de o provar e não se ficar apenas e só por uma insinuação abstracta, mais ainda quando o visado já não se encontra entre nós para se poder defender – RIP- , aliás, não é fácil enfiar carapuças simultaneamente à Sic, Maxim’s, Groovie Records, Blog Ié-Ié etc., o próprio mostra no referido vídeo o álbum de fotografias das suas actuações que não parecem obra do Photoshop ). Mas é evidente que não podemos comparar a relevância de um acetato “ad-hoc” que até se poderia conseguir nalgumas estações dos Correios, com uma edição comercial.
Para mais referências deste:
http://guedelhudos.blogspot.pt/2008/02/morreu-joaquim-costa.html
http://guedelhudos.blogspot.pt/2007/10/anos-60-no-barreiro.html
-Daniel Bacelar, o Ricky Nelson português vencedor a “solo” dos Caloiros da Canção e cantor no primeiros disco comercial de ié-ié em 1960 ;
- Os Conchas, vencedores na modalidade de conjuntos dos Caloiros da Canção e presença no primeiro disco comercial de ié-ié “ex aequo” com Daniel Bacelar em 1960;
- Zeca do Rock, que proferiu o primeiro “yeah” num disco comercial português de 1961 e o primeiro “rocker” cinematográfico português num filme de 1963;
- Armindo do Rock , acompanhado pelo conjunto Tony Araújo em 1961 ;
- Nelo do Twist, citado no referido artigo do Público ;
E não deve ficar por aqui a lista “tutti frutti” pré-Beatles da fase EMI.
O meu VIVA a todos eles, porque, como referi, era muito mais árduo ser ié-ié ou “rocker” antes dos “limpinhos” Beatles de 1962.
JR